O planeta pede socorro, e todos precisam ouvir

Autor: Fellipe Fernandes - Estagiário de Jornalismo

Vivemos sob a égide de um modelo de produção extrativista ao extremo, que visa os ganhos exponenciais de curto prazo. O problema é que, cada vez mais, esse modelo de produção tem se mostrado insuficiente para proteger a qualidade de vida das pessoas. A agroecologia entra no debate público como uma forma de superação desse quadro que, se perpetuado, nos levará à extinção.

Essa temática tão urgente foi abordada em uma palestra dentro da Maratona Ecos do Brasil, transmitida pelo Facebook no dia 25.set.2020 (você pode acessar aqui). A professora Denise Erthal, coordenadora do curso de Gestão de Organizações do Terceiro Setor da Uninter, trouxe a pesquisadora da Fiocruz e especialista em saúde pública Fernanda Savicki para uma conversa sobre “a atuação do terceiro setor na promoção do ecofeminismo e da agroecologia”.

Inicialmente, Denise explicou o que são instituições do terceiro setor. “São instituições da iniciativa privada, sem fins lucrativos, que trabalham pelo bem público. Algumas delas tem interesse na promoção da ecologia voltada tanto para agroecologia como para o ecofeminismo”.

Fernanda definiu a agroecologia como uma forma de debate do sistema produtivo vigente que atua sobre outras dimensões, a partir da perspectiva da ciência. “A agroecologia é pautada na discussão do sistema produtivo. Mas também é mais ampla que isso, esse debate se constrói a partir de três conceitos: a ciência, a prática e o movimento. A primeira envolve a ecologia dos saberes, epistemologias do sul, ciência cidadã e ética. A segunda diz respeito aos sistemas produtivos, entendendo os agroecossistemas como unidade de análise que não é isolada das práticas e processos. A terceira faz denúncias do modelo hegemônico de desenvolvimento e anúncios de modelos contra hegemônicos por meio das pautas políticas”.

A interseccionalidade dos temas faz parte da agroecologia. “Os diversos saberes empregados são tratados como iguais, o que tira a Europa do centro da produção do saber, dando respeito às vozes e condições dadas ao redor do globo. Não existe um ser observador na agroecologia, todos constroem o processo. Somos todos sujeitos da pesquisa. As pessoas não são entendidas como objetos, elas fazem parte da construção do conhecimento. Assim se faz um debate democrático da ciência”, explicou Fernanda. “Eu, como servidora pública, tenho esse compromisso com o povo brasileiro, de construir uma ciência que seja popular e alcance a população. A agroecologia tem uma centralidade muito forte na ética”, complementou a convidada.

Uma temática que se une à agroecologia é o feminismo. “Não tem como pensar um ambiente de produção saudável enquanto você tem violência doméstica em casa, enquanto o trabalho doméstico é invisibilizado e sabendo que as mulheres no campo trabalham também na roça, sem remuneração. Se essas pautas não começassem a entrar nas discussões, como avançar para sistemas produtivos mais sustentáveis se as mulheres não estiverem junto?”, indagou Fernanda.

Sem feminismo não há agroecologia, e Fernanda explicou por que: “a agroecologia não deve fugir dos conflitos e de problematizar as relações de gênero, raça, etnia e geracional enquanto uma ciência crítica na transformação da realidade social no campo e na cidade”.

Essa transformação toda que a agroecologia visa perpassa diversos setores da sociedade. Costuma-se ouvir que a indústria agropecuária é que sustenta o Brasil, o que camufla e simplifica o real impacto dessa indústria na sociedade. O maior deles está no prato de comida que comemos. “Comer é um ato político. A escolha da comida que eu coloco no meu prato vai colaborar para que eu fortaleça determinadas políticas públicas ou não. Esse é um movimento político que denuncia as questões do modelo hegemônico de produto, calcado na dominação, no patriarcado, no modelo escravocrata, hierárquico. A gente anuncia um novo modelo, horizontalizado, de respeito com a natureza, os tempos e as produções locais. Todas essas são pautas políticas. São questões que precisam ser discutidas”.

O futuro da nossa existência no planeta depende da revisão diária de práticas e processos que, mesmo ultrapassados, ainda continuam trazendo lucro para uma parcela ínfima da população e levando todos nós a um caminho sem volta. “Para nós continuarmos aqui, precisamos rever as práticas produtivas, ressignificar nosso consumo, nossa prática cotidiana na terra. E pautada em uma prática, desenvolver ações diretas que façam com que haja uma transformação das questões produtivas, da própria ciência”, finalizou Fernanda.

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Autor: Fellipe Fernandes - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Comfreak/Pixabay


1 thought on “O planeta pede socorro, e todos precisam ouvir

  1. Boa Noite, eu fico pensando: se toda essa coisa de jornada do herói ( call g. Young ), tecnologias precedentes e caminhos precessores à evolução… vai mesmo levar a uma mudança global?
    Fique a vontade para interagir.
    Já li um livro de jornada espiritual, do conhecimento e religiosa da experiência que fala sobre um estado de “mente” e poderia ser nível de espírito, cujo qual se refere como fullmindness… qual é a nova cara?

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