O culto ao corpo

Autor: Cícero Manoel Bezerra*

Em abril deste ano, a família de Júlia Moraes Ferro, engenheira civil de 29 anos, anunciou seu falecimento após complicações durante uma cirurgia plástica. Natural de João Monlevade, a jovem havia se submetido a intervenções estéticas de lipoaspiração e implantação de próteses de silicone em uma clínica particular de Belo Horizonte.

A sociedade moderna tem intensificado a cultura do culto ao corpo, e as pessoas desenvolvem uma preocupação desproporcional à sua imagem e à estética. Todas as classes sociais e as diferentes faixas etárias são afetadas. Segundo Bourdieu, sociólogo francês, a linguagem corporal é marcada pela posição social, que coloca o modo de alimentação, as questões culturais e a forma de apresentação por meio do vestuário, da higiene e do cuidado com a beleza como os mais importantes modos de distinguir um indivíduo de destaque na sociedade.

O número de procedimentos estéticos em jovens cresce mais de 140% ao ano de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Para os especialistas, os motivos para esse aumento são as redes sociais, a insatisfação com a própria imagem e a infelicidade causada por dificuldades em se sentir capaz ou insuficiente para lidar com o mundo, a sociedade e a realidade de uma forma geral.

Tem se desenvolvido uma crescente preocupação com o corpo, com a dieta alimentar e o consumo excessivo de cosméticos, impulsionados basicamente pelo processo de massificação das mídias a partir dos anos 1980, quando o corpo ganhou mais espaço, principalmente nos meios midiáticos. Não por acaso, foi nesse período que surgiram as duas maiores revistas brasileiras voltados para o tema: “Boa Forma” (1984) e “Corpo a Corpo” (1987).

A maior influência, no entanto, vem do cinema norte-americano que tem ajudado a criar padrões de aparência e beleza. Esses projetos de comunicação ajudam a difundir novos valores de cultura e consumo projetando para o indivíduo, seja rico ou pobre, um padrão glamoroso de vida, exercendo até mesmo certa pressão social para que todos se comportem dessa forma, seja no modo de vestir, na aparência ou na sua projeção social.

Com relação à televisão, é possível tirar algumas conclusões, pois veicula imagens de corpos e de vidas de pessoas perfeitas em sua grade de programação e peças publicitárias, novelas, filmes etc. Surge para o sujeito telespectador a imagem da “eterna juventude” associada a um corpo perfeito, independentemente da faixa etária e da classe social. Cinema, televisão, publicidade, revistas etc. são ferramentas e instrumentos de valores e influência para a sociedade, que, por sua vez, não isenta a sociedade religiosa, que responde às vezes na íntegra essa proposta de valores.

O consumismo exagerado incentivado pela mídia em geral pretende alcançar as categorias mais jovens, para que se transformem em consumidores, apresentando modelos de roupas, estereótipos de pessoas iguais aos artistas apresentados pelas imagens. Assim, essas pessoas da sociedade promovem o crescimento da indústria cosmética e farmacêutica, com seus produtos para inibir o apetite, e da indústria de roupas, com seus modelos lançados a cada dia.

Esse contexto gera pessoas inseguras e promove um comércio desenfreado de produtos e marcas que prometem o que não podem entregar, gerando ainda mais tristeza e decepção.

* Cícero Manoel Bezerra é doutor em Teologia e coordenador da Área de Humanidades da Escola Superior de Educação da Uninter.

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Autor: Cícero Manoel Bezerra*
Créditos do Fotógrafo: Anush Gorak/Pexels


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