Nem só de flores vive a Primavera: calor, La Niña e os desafios da saúde

Autor: Larissa Warnavin*

A primavera de 2025 começa como um paradoxo climático e poético. Enquanto o calendário anuncia o equinócio, o Brasil já vive extremos de temperatura que desafiam a ideia de equilíbrio que a estação costuma evocar. A sexta onda de calor do ano se espalha pelo Centro-Oeste e Sudeste, com temperaturas que ultrapassam os 42 °C, enquanto frentes frias intensas prometem geadas tardias no Sul e friagem na Amazônia. A iminente formação da La Niña, com probabilidade superior a 56% de acordo com o NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica), adiciona uma camada de complexidade: seca no Sul, chuvas intensas no Norte e Nordeste, e maior entrada de massas de ar polar no Centro-Sul.

Mas a primavera é mais do que clima. É também florada. É o tempo em que os ipês amarelos explodem em cor nas avenidas. Época em que os jardins urbanos se enchem de lavandas e hibiscos. É a estação da fauna agitada: aves migratórias retornam, borboletas dançam no ar e os ciclos de reprodução se intensificam. A natureza se expressa mesmo quando o céu ameaça tempestade. É o tempo dos poetas, que veem na primavera uma metáfora para o renascimento. Como na canção “Sol de Primavera” de Beto Guedes “Quando entrar setembro/E a boa nova andar nos campos/Quero ver brotar o perdão/Onde a gente plantou/Juntos outra vez

No entanto, essa beleza convive com riscos silenciosos. O ar seco, típico da primavera em boa parte do Brasil, combinado com altas temperaturas e baixa umidade, favorece o aumento de doenças respiratórias. As alergias se intensificam, a rinite se agrava, a asma se torna mais frequente. Crianças e idosos são especialmente vulneráveis. A poeira suspensa, o pólen das flores, os poluentes urbanos e a vegetação seca criam um ambiente hostil para os pulmões. A primavera, que deveria ser respiro, pode se tornar sufoco.

Diante desse cenário, é importante que a sociedade compreenda que a primavera já não é apenas uma estação de flores. Ela é também um alerta climático e sanitário. A ciência nos oferece ferramentas para antecipar cenários e orientar decisões. Cabe aos gestores públicos, profissionais de saúde, comunicadores e cidadãos transformar esse conhecimento em ação. É preciso investir em infraestrutura verde, monitoramento ambiental, campanhas de prevenção e políticas públicas que protejam tanto a biodiversidade quanto a saúde humana.

A primavera de 2025 exige vigilância, mas também sensibilidade. Que saibamos contemplar as flores sem ignorar os sinais do ar. Que celebremos a beleza sem esquecer da responsabilidade. Que, como a natureza, sejamos capazes de florescer mesmo em tempos difíceis, com coragem, cuidado e poesia.

(*) Larissa Warnavin é geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.

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Autor: Larissa Warnavin*
Créditos do Fotógrafo: Rodrigo Leal e Pixabay/Pexels


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