Mundo mais sustentável depende de cada pessoa repensar o seu micromundo

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos é o 13º dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que devem ser atingidos até 2030 por países do mundo todo. Para refletir e debater soluções possíveis no cenário atual, os professores da área de Linguagens e Sociedade da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter realizaram três dias de aulas magnas centradas nesta temática, entre 31.mai e 02.jun.2021.

A coordenadora de área, Deisily de Quadros, explica que essa é uma forma de cumprir a importante tríade da educação superior, com ensino, pesquisa e extensão. Ao mesmo tempo, os professores possibilitam acesso ao conhecimento não só para os estudantes da instituição, mas para toda a comunidade interessada, já que o evento foi transmitido ao vivo por meio da página do Facebook e canal do Youtube.

“Nesse contexto de mudanças em que vivemos, de condições de incertezas, avanço super-rápido da tecnologia, surge a inquietação sobre o nosso futuro. É impossível prever o que vem por aí, porque o futuro é incerto, mas a gente pode construir, dia após dia, o nosso presente. Com isso, preparando a sociedade do futuro. Estamos formando aqui quem vai ocupar espaços políticos, sociais, profissionais, que podem surgir a partir dessa relação com diferentes conhecimentos, temas que precisam sempre ser aliados às disciplinas que vão ser estudadas”, afirma Deisily.

Dinamara Machado, diretora da ESE, esteve presente na abertura da primeira noite e ressalta que os estudantes, além de discutirem os temas, precisam fazer mudanças de micromundo. “Precisamos disseminar boas práticas, que as pessoas discutam temas relevantes. Na internet há muita informação, mas precisamos buscar espaços onde seja discutida de forma científica. Temos que discutir ciência, qual sociedade nós queremos e qual estamos construindo. Isso só acontece quando as pessoas largam suas amarras. Quando falamos em aulas magnas, queremos atingir os quatro cantos desse planeta, fazer com que as pessoas façam uma reflexão, sobre a sua vida e sobre o seu legado”, conclui.

Tecnologia, consumo e sustentabilidade: uma relação de respeito

A bióloga Nicole Witt e a geógrafa Larissa Warnavin, professoras que atuam na área de Geociências da ESE, deram início às palestras do evento. Nicole, que é entusiasta dos estudos das ciências ambientais e da relação com meio ambiente e a sustentabilidade, aponta que a temática tem uma “importância gigantesca” para que as pessoas se situem como seres humanos no mundo e como mais um organismo vivo. “Nós habitamos um planeta que também é habitado por outros seres, que merecerem o mesmo respeito que nós”, salienta.

A bióloga apresentou um breve histórico de por que se discute consumo, tecnologia e sustentabilidade hoje e aponta questões que ajudam a entender a problemática atual. A partir disso, a profissional reflete sobre soluções individuais e coletivas, de políticas públicas, instituições, organizações. “Individualmente temos força, mas no coletivo é que a gente ganha em ações”, garante.

Já a professora Larissa, convida os espectadores a pensarem sobre as possíveis consequências das escolhas que fazem no dia a dia e como estas podem interferir do bem-estar próprio, além do ambiente ao redor. A geógrafa aborda a sociedade de risco e a sociedade do consumo, assim como os pontos que precisam ser solucionados. Para além das soluções, questiona quem tem acesso a isso e como levar a tecnologia para aqueles que não têm recursos.

“Esse momento que estamos passando, nesse cenário mundial, eu não poderia deixar de falar de risco. É uma situação de exposição, contaminação ao vírus da Covid. É importante resgatar, porque muitas vezes a gente se aliena no que está acontecendo diante de nós, em função de uma suposta inércia, insuficiência em agir, fazer algo”.

As palestras, assim como a abertura do evento, mediadas pela professora Danielle Fracaro, podem ser acessadas neste link.

Educação e tecnologia: rede de afetos

O acesso à informação vai muito além do que simplesmente estar conectado a uma rede. Muitas vezes é preciso ensinar sobre o uso das novas tecnologias e, mais do que isso, contextualizar aquilo que chega às pessoas. O projeto EducaMídia, realizado pelo Instituto Palavra Aberta, busca “capacitar professores e engajar a sociedade no processo de educação midiática dos jovens”. A jornalista e cientista social Mariana Mandelli, que é coordenadora de comunicação na ONG, abordou o tema no segundo dia das aulas magnas.

Mariana explica que o Palavra Aberta defende a liberdade de imprensa e de expressão, e os profissionais entenderam nos últimos anos que para discutir esses assuntos precisavam falar antes sobre a educação midiática.

“É muito difícil falar de alfabetização hoje sem falar da realidade digital na qual está inserido. Não basta mais simplesmente ler o que chega na sua mão, um print que te enviaram pelo WhatsApp, o meme que chega no Twitter, o post no Facebook. Precisa interpretar muitas camadas que têm por trás. Nos últimos anos, tudo o que a gente conhecia foi ressignificado”, complementa a comunicadora.

O professor Élcio Miguel, da área de Exatas, e a professora Kellin Inocêncio, da área de Educação, reforçam que a pandemia mudou completamente a qualidade e quantidade do consumo da tecnologia. No entanto, o matemático pondera que essa expansão não acontece de forma igualitária para todos os cantos do país.

Kellin diz que ainda não se pode falar em pós-pandemia, mas existem cenários distintos ao comparar o antes e o durante. Ainda que seja um avanço na área de educação, é preciso fazer também uma relação do cenário socioeconômico e as diversas possibilidades de recursos tecnológicos para a educomunicação. Antes de tudo, pensar a realidade do local em que atua e quem são os estudantes da instituição.

“Nós não estamos falando de uma educação voltada apenas para o uso de tecnologia, mas qual é o objetivo disso dentro da formação do estudante. A gente entra com a reflexão, o poder da palavra, transformação social. Por meio dessa criticidade, o sujeito se coloca a longo prazo lá na sociedade”, completa.

Os bate-papos completos, mediados pela professora Fernanda Haag, seguem disponíveis para livre acesso.

Consumo, sustentabilidade e educação financeira

A educação financeira é comumente associada ou confundida com o conhecimento dos cálculos. Mas o professor Palminor Bueno Sobrinho, matemático e especialista em administração, afirma que há diversas abordagens e pontos de vista para o significado.

Palminor gosta da definição que diz que “a educação financeira não consiste em aprender a economizar, cortar gastos, poupar e acumular dinheiro. É muito mais que isso. É buscar uma melhor qualidade de vida tanto hoje quanto no futuro, proporcionando a segurança material necessária para aproveitar os prazeres da vida e ao mesmo tempo obter uma garantia para eventuais imprevistos”.

O tema poderia ser amplamente discutido, ainda que não houvesse uma pandemia. Mas, nesse contexto, não há como desenvolver uma conversa isolada do impacto econômico que o período tem gerado. “Desde falar em aplicação financeira, projeto, precaução, temos realmente que lembrar dessa situação que estamos passando”, salienta o especialista.

Guilherme Pianezzer, que atua na área de Exatas, acrescenta que a matemática financeira está ligada com a ideia de cultura. Isso, porque há muitos estereótipos sobre os gastos específicos de homens e mulheres. “As pesquisas na área de financeira, essas discussões têm que fugir um pouco do estereótipo, mas ainda assim dialogar de uma certa forma com cultura”, diz.

De acordo com Guilherme, o brasileiro tem o costume de imitar hábitos de consumo estrangeiros, principalmente dos americanos. As famílias no geral não têm o costume de discutir sobre dinheiro no cotidiano, o que torna o assunto um tabu. Uma característica pouco encontrada no continente europeu, já que lá ocorreram muitas guerras, e ao longo dos tempos foi criada uma maturidade para lidar com o tema.

“Isso é muito interessante, porque resolver, e quando eu digo resolver a nossa vida financeira eu estou querendo dizer ter uma vida mais confortável, passa por conversar sobre isso, acima de tudo. A gente precisa expor, claro que para pessoas que você confia. Ter uma noção de como a gente está para poder lidar das melhores formas”, explica.

Gladisson Silva, professor na Uninter e também na educação básica, ressalta a importância de conversar sobre finanças desde a infância com as crianças. A atitude pode servir de exemplo para os pequenos, que já crescem aprendendo a lidar com o dinheiro e evita que passem por situações financeiras difíceis na vida adulta.

“Volta e meia a gente entra nessa temática e eu pergunto para os alunos se eles sabem quanto os pais ganham. É muito raro a criança que sabe, porque é um assunto extremamente tabu. Os pais que estão em dívidas, não expõem essa dificuldade para poupar eles, proteger, enfim, sendo que elas seriam excelentes aliadas nessa nova rotina. Isso não é um elemento a parte da nossa vida. A gente vê alguns sites de finanças e blogs, parece que é uma coisa alheia, só quem tem muito dinheiro, só quem quer ganhar na bolsa de valores. E na verdade é parte do nosso dia a dia. Decidir quantos pãezinhos você vai comprar para tomar café da tarde é educação financeira também”, finaliza.

Os bate-papos completos da última noite de evento, mediados por Gladisson, podem ser acessados aqui.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Artem Beliaikin/Pexels


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