Mulheres lutam por espaço de igualdade no esporte

Autor: Flávio Ducatti - estagiário de jornalismo

A prática esportiva nunca foi considerada coisa de mulher. Na primeira olimpíada criada pelos gregos (Jogos Olímpicos da Antiguidade), as mulheres já eram excluídas das competições.

Nas Olímpiadas modernas não foi diferente e elas foram orientadas a ficar “no seu lugar”. Na segunda edição, em 1900, as mulheres estrearam na competição em duas modalidades: tênis e golfe. Enquanto isso, persistiam no Brasil as proibições, inclusive com a criação de um projeto de lei que proibia as mulheres de praticarem esportes incompatíveis com a sua natureza, como futebol, luta, entre outros.

Enquanto as mulheres eram proibidas de praticar esportes e participar de competições, os homens ganhavam os holofotes e chamavam atenção das grandes empresas, que buscavam no esporte uma vitrine para crescimento. Foi só no final da década de 1970 que a Lei foi revogada, dando início a prática de esportes no meio feminino. Em 1983, com o futebol feminino regulamentado, foi permitido realizar competições, criar calendários e ensinar esportes para as meninas nas escolas.

O atraso do desenvolvimento da modalidade feminina foi de décadas. Enquanto a Copa do Mundo masculina existe desde 1930, a primeira edição da competição feminina foi realizada apenas em 1991. “Nós não fomos deixadas existir, não deixaram a gente crescer”, destaca a professora do curso Bacharelado em Educação Física da Uninter Marina Aggio.

Há a muitos anos as mulheres lutam por um espaço de igualdade, por melhores condições e por visibilidade. A igualdade de gênero é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

“Não queremos uma disputa com os homens. Muito pelo contrário: queremos perceber a importância de darmos não só a imagem, mas a voz a essas mulheres que são importantes nas artes, na educação e no esporte”, ressalta a professora da Uninter Larissa Hilgemberg.

Um exemplo das mudanças nesse cenário são as Olímpiadas de Tóquio realizadas em 2020, que bateram recorde de participação feminina. Do total de atletas, 48% eram mulheres e essa foi primeira vez na história dos jogos olímpicos que acontece uma representação igualitária de atletas homens e mulheres.

No entanto, há ainda um longo caminho a ser percorrido. Segundo a professora Regiane Moreira, a questão da invisibilidade feminina é uma construção social muito forte e já foi, dentro da própria história, naturalizada. “É normal se falar que lugar de mulher não é no campo de futebol, é normal chegarmos numa exposição de arte e o primeiro exemplo de corpo dentro do desenho é um corpo nu feminino. As mudanças não vão acontecer da noite para o dia, nós estamos aí há mais de cem anos tentando diminuir essas desigualdades que são muito presentes”, ressalta.

A própria exposição e objetificação do corpo feminino ainda são temas de debate. Esportes como ginástica, vôlei e handebol de praia os trajes deixam os corpos das atletas mais a mostra do que o masculino. Em 2021, a seleção norueguesa de handebol de praia foi multada em 1.500 euros (cerca de R$ 9.200) depois que as atletas se recusaram a usar os tradicionais biquínis durante um jogo no campeonato europeu.

Alguns esportes modificaram os uniformes das atletas para práticas esportivas, pois isso era viável aos olhos dos telespectadores. Não era a performance da mulher que importava, nem seus treinos durante a semana, mas sim as roupas que estava usando para modelar seu corpo.

Marina Aggio foi atleta de futebol profissional por 20 anos, com passagens pela seleção brasileira feminina. Na época em que o clube pelo qual atuava estava na final da Copa do Brasil e na final do Campeonato Brasileiro, ela foi convidada a dar entrevista para uma emissora de grande porte no Brasil. Em dado momento, pediram que ela realizasse algumas imagens passando batom em frente ao espelho. A atleta se recusou.

“Eu falei para a repórter: ‘você veio atrás da Marina atleta ou da Marina que passa batom? Marina não passa batom para jogar. A Marina sua, fica de baixo do sol duas vezes ao dia, treinando parte física durante duas horas, alinhamento tático, físico e psicológico para estar numa final de campeonato, e você vem falar pra eu passar batom? Eu não passo perfume, eu não passo batom para jogar’. Eu me recusei a fazer e fui multada pelo clube por causa dessa situação”, conclui.

O programa Chave Interdisciplinar: Mulheres Invisíveis, foi ao ar no dia 14 de julho de 2022 com participações das professoras Marina Aggio, Larissa Hilgemberg e Regiane Moreira. A transmissão segue disponível no canal do YouTube Rádio Uninter.

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Autor: Flávio Ducatti - estagiário de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski


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