Movimentos de renovação ganham mais representantes políticos a cada eleição

Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo

A crescente polarização política que passou a tomar conta do Brasil com as manifestações de 2013 configurou uma nova base no lançamento de candidaturas políticas. Os chamados “movimentos de renovação” surgiram em meio ao desgaste de símbolos políticos tradicionais e vêm elegendo nomes até então fora da política em diferentes pleitos.

Esses grupos são suprapartidários e com orientações distintas entre si, não tendo ligações diretas com partidos políticos. Os postulantes aos cargos eletivos prometem novos valores, seja no lançamento de nomes inéditos no cenário ou na cooptação de figuras já conhecidas. Entre as ideias defendidas, as principais são as de reforma política, combate à corrupção, transparência, gestão eficiente de recursos naturais, representação de diferentes setores da sociedade e a renovação do perfil identitário da política nacional.

O RenovaBR, apoiado pelo apresentador Luciano Huck, é um deles. Fundado em 2017, o grupo se define como uma “escola de formação política” e no ano seguinte lançou 117 de seus alunos como candidatos entre Congresso Nacional e Assembleias Legislativas estaduais, dos quais 17 foram eleitos. Todos receberam bolsas, que chegavam a R$ 12 mil mensais, para que se dedicassem exclusivamente ao processo de formação. O movimento já formou quase 2 mil alunos de todos os estados e conseguiu ainda mais extensão nas eleições deste ano.

Foram 151 ex-alunos eleitos em 123 cidades brasileiras, representando 25 partidos, com 12 prefeitos, dois vices e 137 vereadores. A diversidade também pôde ser notada sob outros aspectos: dos eleitos, um terço são pretos e 22% são mulheres. O total de candidaturas foi de 1.032 ex-alunos em 398 municípios.

Para a disputa de eleições, os candidatos ligados a esses movimentos precisam estar afiliados a algum partido. Cada sigla tem seu programa de objetivos, que pode entrar em choque com os princípios de um determinado movimento. A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP), formada pelo Renova e fundadora dos movimentos Acredito e Vamos Juntas, ganhou notoriedade ao votar contra a orientação do partido na reforma da Previdência. Na ocasião, Tabata foi favorável à proposta de emenda constitucional. A opção gerou conflitos no partido, com a suspensão da parlamentar e de outros sete deputados.

“Dependendo do partido, isso pode ser um elemento de confronto, que eles [candidatos] têm que conciliar entre o partido e o movimento”, diz Roberta Picussa, doutoranda em Ciência Política pela UFPR (Universidade Federal do Paraná). A especialista, que aborda o tema em sua tese de doutorado, foi convidada para apresentar suas impressões sobre esses movimentos em um bate-papo realizado pelo curso de Ciência Política da Uninter. Transmitida pelo Facebook em 1º de outubro, a apresentação foi conduzida pelo professor Luiz Domingos Costa.

Outros movimentos, como MBL (Movimento Brasil Livre), Agora, Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade) e Livres, também alçaram nomes a cargos eletivos neste ano. O número total ultrapassa o de 240 candidatos eleitos, se somados ao Renova. As candidaturas chegaram a abranger 29 partidos dos 33 existentes no Brasil. Nas eleições de 2018, as iniciativas estavam vinculadas a pelo menos 54 candidatos eleitos, sendo 30 deles para o Congresso.

Em Curitiba, cinco vereadores eleitos no último mês são ex-alunos do Renova. Indiara Barbosa (Novo) atingiu o feito de ser a mulher mais votada na história da capital paranaense e o nome mais votado na eleição deste ano, com 12.147 votos. Os demais são Amália Tortato (Novo), Leonidas Dias (Solidariedade), Marcelo Fachinello (PSC) e Nori Seto (PP).

A análise preliminar de Roberta destaca a composição das candidaturas e a forma de financiamento de campanhas como elementos semelhantes. O estudo se detém aos nomes eleitos em 2018.

De dez nomes vinculados a algum movimento, oito tinham menos de 40 anos. A predominância é de homens (8) e pessoas brancas (7), seguindo a tendência geral do Congresso, mas destacam-se perfis inéditos como o primeiro deputado cego (Felipe Rigoni, do PSB-ES) e a primeira parlamentar indígena (Joênia Wapichana, do REDE-RR).

Somente quatro candidatos utilizaram o financiamento público de campanha, que agrega valores do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, e com média de R$ 75 mil. Os demais valeram-se de financiamento privado, com média de R$ 650 mil. No geral, 12% dos 513 deputados federais se enquadram em financiamentos privados acima de meio milhão de reais.

Para o professor Luiz Domingos Costa, os grupos de renovação já têm expressividade no cenário político, independentemente de ações realmente renovadoras ou ainda tradicionais.

“Existe uma tensão, em qualquer democracia representativa, entre renovação e profissionalização”, diz. “Não é possível pensar em renovação permanente, substantiva e absoluta. Profissionalização absoluta também enrijeceria e calcificaria as Casas Representantes. É preciso pensar nessa dinâmica. Se a gente fizer uma reforma política e mudar a estrutura, essa [nova] estrutura vai ter que se manter por algum período. À medida que ela se mantém, vai produzir algum tipo de profissionalização também.”

Para conferir a apresentação completa, clique aqui.

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Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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