Margarete Costa destaca o protagonismo de estudantes em tese de doutorado aprovada com louvor
Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação
Como o projeto Júri Simulado Literário, centrado na racionalidade prática, com uma abordagem transdisciplinar e literária, pode possibilitar uma metodologia de ensino para professores do curso de Direito? Esse foi o problema de pesquisa apontado pela professora Margarete Terezinha de Andrade Costa, no doutorado do Programa de Pós-graduação em Educação e Novas Tecnologias (PPGENT) da Uninter, que a fez chegar em resultados de excelência e garantiu a nota máxima da banca examinadora.
A defesa foi realizada no dia 25 de junho de 2025, no campus Garcez, em Curitiba (PR). Além do marido, Nilton, e da filha, Tamiris, amigos, familiares e alunos de Margarete se fizeram presentes e acompanharam a apresentação, de forma presencial e remota. A pesquisa e o produto final foram desenvolvidos sob orientação do professor Rodrigo Otávio dos Santos: um roteiro didático pedagógico voltado para professores, no intuito de possibilitar exercícios similares ao Júri Simulado.
O professor do Programa de Pós-graduação em Direito (PPD) da Uninter, André Peixoto de Souza, os professores do PPGENT, Joana Romanowski e Jeferson Ferro, a professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Valeska Gracioso Carlos, e a professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Rita de Cássia Corrêa de Vasconcelos, receberam a missão de avaliar e contribuir com suas perspectivas sobre o estudo.
Segundo Margarete, a tese “Juri Simulado Literário: uma metodologia de ensino-aprendizagem para o curso de Direito” foi construída a partir de um trabalho coletivo dos estudantes do curso de Direito da Uninter, no qual atua na área de língua portuguesa. “Em especial, é a eles que quero agradecer […] A grande lição que levo é nunca subestimar os alunos. Eles têm potencial, vão além do que esperamos e cada vez mais surpreendem”, declara a doutora em Educação e Novas Tecnologias.
Margarete diz que, mesmo com “anos e anos de experiência”, se colocou no lugar dos estudantes durante a defesa e compreendeu como os alunos se sentem durante a atividade prática proposta.
Depois da primeira formação superior, em Letras Português/Inglês, complementou o conhecimento em outras quatro graduações: Pedagogia, Marketing, Filosofia e Sociologia. Com três especializações, em Metodologia de ensino, Psicopedagogia e Formação Docente para EAD, soma na trajetória ainda o mestrado em Educação, concluído em 2004.
O desejo de ingressar em um doutorado a acompanhou desde lá, mas ficou adormecido por falta de oportunidades. Após uma conversa com colegas professores, que a incentivaram a realizar o doutorado no PPGENT, decidiu encarar mais esse desafio, pela satisfação pessoal e pela necessidade que observa da atualização constante na atuação da docência, frente aos avanços tecnológicos, sociais e econômicos.
“A aprovação nessa banca com a nota máxima foi extremamente significativa, porque comprovou que o exercício que tenho feito com os alunos é eficiente e necessário, então precisa ser continuado”, ressalta.
O 25º Juri Simulado foi o escolhido para a coleta de dados e análise do que é desenvolvido no projeto, e tratou da história O Mandarim, em outubro de 2024. Dessa edição, 130 alunos de diferentes turmas participaram e 96 deles fizeram um relato voluntário sobre o que acharam do júri.
A formação integral do estudante
O Júri Simulado surgiu há mais de 20 anos, a partir da percepção de Margarete de que há uma carência da leitura, base da formação, em especial a literatura brasileira clássica. Assim, a docente uniu as diretrizes curriculares nacionais (DCN) do Direito com o avanço das ferramentas tecnológicas, para uma aprendizagem significativa, autônoma e dinâmica.
De acordo com a pesquisadora, a humanidade nunca leu e escreveu tanto como hoje, visto as tecnologias existentes que mantém a sociedade conectada 24 horas, com acesso na palma da mão. No entanto, não há a profundidade e o entendimento para interpretações necessárias. Dessa forma, buscou também superar a ideia de que o aprendizado se dá apenas na receptividade passiva do aluno e repensar a educação na qual o professor transmite e o aluno só recebe. “O conhecimento é construído”, salienta a profissional.
Além de aumentar o vocabulário e a habilidade de comunicação, a simulação do júri de um caso presente na literatura, que divide os estudantes entre acusação e defesa, desperta a criticidade e a criatividade. A docente também observa a evolução dos alunos na oratória, e no empoderamento e protagonismo que o sentimento de pertencer desperta.
“Foi comprovado que o Juri Simulado volta-se para a formação integral do estudante, com foco na aprendizagem significa. Constitui-se em um trabalho coletivo, que considera o contexto [no qual o ensino e os estudantes estão inseridos]”, garante Margarete.
Além das percepções e registros feitos pela docente, as edições do Júri Simulado contaram com o uso de tecnologias e meios digitais não apenas para documentar os momentos, mas também para divulgar a ação. Desde 2013, a Central de Notícias Uninter (CNU) realiza a cobertura das edições promovidas, por meio de reportagens em texto e vídeo, trabalho que foi reconhecido pela pesquisadora em sua tese.
Contribuição para a educação e para a sociedade
Doutor em História, Rodrigo Otávio comenta como o processo de orientação com Margarete foi curioso e agregador. Professora na Uninter antes mesmo de ele ingressar na instituição, Rodrigo afirma que a orientanda foi uma referência desde o início e com ela aprendeu muito.
Ao orientá-la, ocupou um duplo lugar: de direcionar o desenvolvimento do trabalho e também de colega aprendiz. Com bom humor e admiração, afirmou que o maior trabalho foi dizer “calma, vai dar tudo certo”. “Todo o resto foi muito fácil. [Ela] é professora de português, escreve muito bem. Está muito de parabéns, de verdade!”, declarou.
Para a professora Joana Romanowski, Margarete transformou um procedimento didático em uma metodologia contemporânea para a formação e leitura crítica do curso de Direito, pela qual os estudantes desenvolvem diversas competências, como a compreensão, a análise crítica e a oratória da argumentação e do conflito. Em especial quando se está em um período que “enaltece o aprendizado coletivo”.
“É uma análise passada pelo crivo dos depoimentos dos seus estudantes, então de uma situação concreta, tal como se expressa na teoria. Isso é materialismo histórico puro. E é uma experiência de longa data, que você vivencia há 20 anos e a transforma em uma análise crítica para desenvolver a sua tese de doutorado”, observou Joana durante a banca. A avaliadora destacou ainda que, através do projeto, os estudantes “se transformam, criam saberes e fazem novas interpretações de obras clássicas”.
Valeska Carlos dá ênfase para a preocupação com a formação de professores, “muito válida e muito interessante”, já que não é algo que se observa em cursos que não são literatura. “Ela se preocupa muito também sobre como o aluno aprende, que não seja o que o professor chega e joga, mesmo porque [dessa forma] o aluno não aprende, não é significativo. [Margarete] sempre busca algo que seja significativo para o aprendizado de uma forma válida para o aluno. Acho isso muito importante, e isso está muito enraigado no trabalho dela. É essencial, super importante e é um trabalho inédito. Você criou algo novo”, concluiu a docente da UEPG.
Como professora de Direito, Rita de Cássia Vasconcelos aponta que trabalhos como o de Margarete são responsáveis por evitar a evasão de muitos alunos da graduação. Isso porque muitos enxergam as disciplinas propedêuticas como “chatas”, e querem ingressar já com a experiência prática de vestir uma beca. O que é proporcionado por meio do Júri Simulado. Ainda ressalta que a pesquisadora já realizava essa prática muito antes de se pensar em superar a educação conteudista.
“Você precisa fazer com que esse seu trabalho, que é tão maravilhoso, seja divulgado e com a sua assinatura. Você precisa mostrar isso. Além do doutoramento e do título, ainda tem essa contribuição para a sociedade, para a educação, e isso é sensacional. Eu parabenizo pela coragem. A sociedade ganha, o ensino jurídico ganha, e isso precisa sair daqui, da sua sala de aula”, declarou.
André Peixoto, que conhece o trabalho realizado por Margarete desde o início dos anos 2000 e presenciou o projeto desde a 1ª edição, destaca a referência bibliográfica para o Júri Simulado toda composta por literatura brasileira. Na visão do profissional, a construção e o desenvolvimento da criatividade, tão importantes em casos de júri, acontecem pela leitura da literatura. Por isso, a argumentação e a oralidade, aprimoradas nesses exercícios, são colocadas como ferramentas de trabalho dos juristas.
“Isso precisa ser evidenciado. Você está propondo há 20 anos, aproximadamente 40 semestres letivos, a leitura de literatura brasileira, sem a qual, talvez, [os estudantes] não tivessem lido. Essa emoção que atravessou a defesa, desde que você entrou aqui, deriva de um estofo sentimental que a carrega nos braços de centenas de pessoas. Nosso trabalho é a leitura, a escrita e a fala”, salienta André.
A aprendizagem significativa, a prática de júri simulado e a literatura tratadas por Margarete na tese foram os principais pontos mencionados por Jeferson Ferro, que ficou responsável pelo fechamento da banca. O docente do PPGENT se disse honrado por participar do momento e afirmou que é algo que “enriquece e engrandece” o programa.
“Não é uma coisa banal, não é simples uma pessoa chegar com toda essa trajetória que você tem, com toda essa experiência profissional, e transformar isso em um projeto de pesquisa de doutorado. É realmente excepcional”, garantiu Jeferson.
A partir das indagações colocadas pela banca, Margarete pôde contar mais sobre os resultados e desafios enfrentados durante a implementação do Júri Simulado Literário, mas que proporcionaram aprimorar o projeto para alcançar cada vez mais a excelência no aprendizado dos estudantes.
Autor: Nayara Rosolen - Analista de ComunicaçãoEdição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Nayara Rosolen
Excelente publicação, obrigada pelo carinho.