Literatura e direitos humanos, um diálogo possível

Autor: Thays Carvalho Cesar*

O escritor Eduardo Galeano dizia que o abismo entre o que se diz e o que se faz sobre os direitos humanos é tão grande que, quando ambos caminham pela rua e se cruzam em uma esquina, passam de longe sem se cumprimentarem, porque não se conhecem.

Segundo Lynn Hunt, em seu livro “A invenção dos direitos humanos”, foi a ficção que fomentou uma perspectiva empática diante de situações que não são necessariamente experimentadas pelos leitores em suas existências cotidianas. Vale destacar que naquela época, no auge do século XVIII, eram sujeitos de direitos civis somente homens brancos adultos e cristãos, portanto construir obras de ficção cujo olhar era voltado a um outro público foi uma grande evolução.

Lynn Hunt atribuiu aos romances, escritos em inglês e em francês na segunda metade do século XVIII, a propriedade de dirigir as emoções dos leitores para personagens não propriamente de sua classe social, mas que sofriam males comparáveis aos dos leitores da época, ou seja, o texto literário possibilitaria ao leitor refletir sobre situações diferentes de sua realidade.

Após esta breve viagem no tempo, podemos dizer que a literatura pode fomentar a empatia e a compaixão pelo outro. Sabemos que o sentimento de empatia não foi uma invenção do século XVIII, muito menos das obras literárias, no entanto, pelo ato de ler, somos colocados diante da vida de pessoas para desenvolver um mundo de alteridade.

Então, isso explica o que sentimos ao ler Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus (foto), Ferréz, Sacolinha e outros autores que denunciam dia após dia as violações de direitos e os mecanismos de exclusão social de certos setores populacionais?

A resposta é sim, tendo em vista que a compreensão literária elimina os estereótipos que criam os ódios coletivos e ajuda as pessoas a se identificarem com grupos marginalizados e oprimidos. A literatura é perturbadora, desperta emoções, intriga, inquieta e provoca confrontações com pensamentos e intenções.

Portanto, façamos o exercício de olhar para algumas obras literárias e ver como elas trabalham algumas temáticas relacionadas aos direitos humanos. Por exemplo, podemos refletir sobre a literatura periférica, embora não seja somente esta população a sofrer com violações de direitos.

A literatura muitas vezes desconstrói o mito da periferia como um lugar de marginalidade, crime e violência ao mesmo tempo que coloca este espaço como um terreno de múltiplas formas de sociabilidade. Ao mesmo tempo que as obras literárias mostram a periferia como um território de possibilidades, são capazes de revelar os problemas enfrentados pela população.

No entanto, é um equívoco pensar na literatura somente como uma forma de denúncia da falta de mecanismos de proteção aos direitos, pois seria reducionista deixarmos de lado seu caráter testemunhal. Ao nos depararmos com estas obras, somos impelidos a olhar para questões que antes não olhávamos, a pensar na nossa história.

Enquanto se vê perpetuarem os discursos de ódio, temos nas obras literárias a possibilidade de buscar outras narrativas que nos permitam acreditar que a barbárie não é o nosso único futuro possível. A literatura, assim, se torna um espaço de diálogo e refúgio, pois nos faz refletir a sobre o nosso lugar no mundo, sobre o lugar do outro, além de nos permitir pensar juntos em como chegamos ao ponto de sermos partícipes ou omissos diante de tantas violações de direitos humanos que chegam a nós todos os dias.

* Thays Carvalho Cesar é professora do curso de Letras, da Área de Linguagem e Sociedade da Uninter.

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Autor: Thays Carvalho Cesar*
Créditos do Fotógrafo: Reprodução/divulgação


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