Hoje ou amanhã, a sobrevivência do jornalismo passa pela adaptação

Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo

 

Muito se fala sobre uma crise atual no jornalismo. Acentuada pela popularização da internet, essa suposta tribulação se apresentaria de diferentes formas no conflito com o ciberespaço: redução de receitas publicitárias nos meios tradicionais de comunicação; disputa com redes sociais na difusão de informação; desmanche das redações jornalísticas, com demissões e precarizações de trabalho e a crise dos jornais impressos, que por tanto tempo foram o grande polo de credibilidade da imprensa.

Ainda que se veja ameaçado com a expansão da internet, o jornalismo deve saber lidar com os avanços tecnológicos que atravessam o tecido social. Assim fez o meio impresso com o surgimento da instantaneidade do rádio, da mesma forma que esse o fez com a chegada da televisão e seu apelo audiovisual. Também é o que todos esses meios vêm fazendo com a dominação de território do ciberespaço, adaptando seus jeitos de comunicar e informar.

A discussão tomou calor especialmente com a pandemia de Covid-19, que assola o planeta desde o ano passado. No mar de informações e desinformações que a internet propicia ao público, o jornalismo tornou-se uma âncora às pessoas que dependem da informação de qualidade para, literalmente, sobreviver.

Pesquisas feitas no Brasil e no mundo comprovam isso: a população quer ter acesso a fatos bem apurados, ao mesmo tempo em que se preocupa com os efeitos negativos da desinformação. Ainda no começo da crise de saúde, em março de 2020, o Datafolha aferiu em pesquisa que os meios tradicionais de comunicação apresentavam o melhor índice de credibilidade junto ao público. Programas jornalísticos de TV (61%), jornais impressos (56%) e programas noticiosos de rádio (50%) contrastavam com a confiança pelo conteúdo difundido nas redes sociais, como WhatsApp e Facebook (ambos com 12%). No ponto oposto, essas duas redes apresentavam a maior desconfiança quanto à veracidade de informações: 58% e 50%, respectivamente.

“As pessoas têm uma percepção de que informação de qualidade é aquela produzida por jornalistas, e aquela que vem por redes sociais, geralmente produzida por amadores ou por pessoas que não são necessariamente profissionais, há uma desconfiança maior”, comenta o professor e coordenador do curso de Jornalismo da Uninter, Guilherme Carvalho.

Num cenário mais amplo e relacionado ao pagamento por conteúdo noticioso, diversos países passaram a registrar aumento de receitas financeiras vindas do público. Os Estados Unidos aumentaram seu público pagante por notícias online de 9% em 2016 para 20% em 2020. A média somada a de outras oito nações (Reino Unido, França, Espanha, Itália, Alemanha, Dinamarca, Japão e Finlândia) vê o crescimento do consumidor pagante de 10% em 2014 para 13% em 2020. Os dados são de um relatório divulgado pela Reuters em junho do ano passado.

“As pessoas passaram a pagar para consumir notícia porque entendem que a notícia jornalística é mais confiável”, opina Carvalho.

No Brasil, um efeito semelhante pode ser notado na expansão da assinatura de veículos tradicionais. Jornais como a Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo viram seu público assinante aumentar entre 2018 e 2019, apesar da queda de circulação de seus produtos impressos. Na média de circulação paga de dez grandes periódicos analisados pelo IVC (Instituto Verificador de Comunicação) e compilados pelo Poder360, o público total passou de 1,44 milhão para 1,48 milhão entre os anos.

Evolução e adaptação

Para o professor e tutor do curso, Alexsandro Ribeiro, o dito “jornalista do futuro” está em construção no presente. O jornalismo, como meio que faz uso e depende de novas tecnologias, precisa estar atento à evolução tecnológica para que sobreviva e se desenvolva da mesma forma.

O docente destaca algumas tendências para o jornalismo de hoje e de amanhã, como a navegação em espaços 360º, a não-linearidade na navegação dos textos e a realidade aumentada. A última, inclusive, é utilizada pelo curso da Uninter no projeto laboratorial Marco Zero. Por meio de um aplicativo, o leitor da edição impressa consegue expandir o conteúdo da página do jornal para um novo meio digital, ampliado a forma e o conteúdo da informação.

A integração entre imprensa e tecnologia seria uma forma de aproximar novamente o leitor do conteúdo jornalístico de qualidade. Essa apropriação ainda pode servir como meio de combate às fake news, que ganharam projeção nos últimos anos via internet e assombram criadores e consumidores de informação.

“Aquilo que se propaga em redes sociais potencializou uma situação de desconfiança, de insegurança, sobre o que é verdade e o que não é. Nesses ambientes, tudo passa a circular, e as pessoas tendem a ver, curtir, compartilhar e acreditar naquilo que reforça os seus pontos de vista”, ressalta Carvalho.

O jornalismo, portanto, deve se apresentar como o agente de responsabilidade social que é desde sua fundação. O ambiente é propício para o destaque do bom exercício jornalístico e da boa informação, guiando o público pelo turbilhão de informações, desinformações e opiniões que tomam conta da internet.

“É um trabalho fundamental de ressaltar aquilo que é informação num grande mar de dados que há na internet. Nem tudo que a gente tem de dados na internet de fato tem um papel importante ao indivíduo. O jornalismo tem essa função”, finaliza Ribeiro.

A conversa entre os professores foi transmitida pelo polo Uninter Porto Alegre em 5.abr.21. A apresentação faz parte de uma série de programas do polo em aproximar docentes da instituição e público acadêmico e geral, debatendo temas relevantes e atuais da sociedade. Para conferir o bate-papo na íntegra, clique aqui.

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Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Jason Goh/Pixabay


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