Global Meeting começa com debate sobre o flagelo da fome

Autor: Diego Alesson Alves – Estagiário de Jornalismo

A Uninter iniciou na noite de segunda-feira (25/10) mais uma edição do Global Meeting, com o tema “Construindo um Futuro Sustentável”. Ao longo de três noites, de 25 a 27 de outubro, o evento promove seis mesas de debate. Transmitido pelo canal da instituição no Youtube, o evento reúne grande especialistas que falam a toda a comunidade de estudantes.

No dia 25, as mesas tiveram como temas “As políticas públicas nacionais e internacionais de combate à fome em diferentes espaços territoriais” e “Fome Zero, onde estamos”. Para o dia 26, os temas são: “Segurança e insegurança alimentar e nutricional” e “Dobrar a produtividade agrícola e a renda”. Encerrando o evento, no dia 27: “Banco alimentar e hortas urbanas” e “Perceber o impacto social de iniciativas voluntárias”.

A primeira mesa contou com a presença das professoras Valéria Pilão, do curso de Serviço Social, e Gisele Cordeiro, do curso de Pedagogia, que conduziram o debate sobre as políticas públicas nacionais e internacionais de combate à fome em diferentes espaços territoriais.

Gisele apresentou alguns dados: segundo a ONU, há mais de 500 milhões de pessoas em situação de desnutrição no planeta. Uma meta da organização para 2030 é estimular os países a desenvolver programas e políticas que possam dobrar a produtividade dos pequenos agricultores, incluindo mulheres e povos indígenas, de modo a aumentar a renda de suas famílias.

Valéria lembra que há três níveis de insegurança alimentar: grave, moderada e leve. Atualmente em nosso país estima-se que haja 117 milhões de pessoas vivendo sob algum tipo de insegurança alimentar, sendo que 20 milhões passam fome.

“Quando pensamos na população brasileira e quando pensamos inclusive no tamanho territorial que o Brasil possui, e nossa capacidade produtiva alimentar, nossa capacidade produtiva agrária, ela certamente é exponencial. Não só pelas nossas terras, mas por todo o avanço que existe no que diz a respeito à produção, e ainda assim temos esses dados”, destaca.

A fome no Brasil tem raça, classe e gênero. Os números demonstram que a população que está mais sujeita a insegurança alimentar é rural, feminina e negra. Portanto temos questões que dizem respeito à localização territorial e à raça que contribuem para incrementar a dificuldade de acesso a alimentos. Um dos motivos apontados é o fato de que as mulheres negras enfrentam maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho.

Valéria aponta que temos em nosso país uma divisão territorial que demonstra o percentual de lares com insegurança alimentar. Os casos mais graves estão no Norte e no Nordeste, enquanto que o Sudeste é a região menos afetada. No mapa da fome, 11,1% dos lares são chefiados por mulheres, 10,7% são lares chefiados por pessoa preta ou parda e 14,7% são lares chefiados por pessoas com baixa escolaridade.

Marcos Lopes, doutorando em saúde global e sustentabilidade pela faculdade de saúde pública da Universidade de São Paulo, participou desta primeira mesa, juntamente com as professoras Valéria e Gisele. Possui experiência de trabalho em mais de 48 países, na América Latina, Caribe, África, Ásia e Oriente Médio. Já ocupou funções relacionadas ao combate à fome na Organização das Nações Unidas (ONU), e também junto à presidência da República do Brasil.

Outro convidado da mesa foi Welinton Pereira da Silva, bacharel em Teologia pela Universidade Metodista de São Paulo e mestre em direitos humanos e cidadania pela Universidade de Brasília. É pesquisador do Núcleo de Estudos da violência contra criança e foi membro da primeira comissão nacional de acompanhamento e implementação da agenda 2030 no Brasil, de 2017 a 2019. É um dos responsáveis pela construção do Relatório Luz, documento que analisa a implementação no Brasil das 17 metas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Marcos diz que o cenário do combate à fome não está indo bem. Ressalta que um dos grandes problemas é relativizar a fome, não tratando do assunto com a devida importância, com o pensamento de que ela sempre existiu, então por isso não precisa ser combatida. Se por um lado faltam alimentos a milhões de pessoas, por outro existe o desperdício. Segundo a OMS, 2 bilhões de pessoas no mundo apresentam sobrepeso.

Para o pesquisador, o único número aceitável para a fome é zero, por isso não podemos parar de lutar contra o problema enquanto houver alguém sem ter o que comer. Ele lembra que o Brasil já conseguiu sair do mapa da fome. “A gente teve um conjunto de ações de governo que buscaram desenvolver um conjunto de políticas públicas e resultaram numa redução muito substantiva da fome”. Mas, nos últimos anos, especialmente por causa da pandemia, a situação regrediu.

Welinton trouxe outros dados importantes: a pandemia trouxe 27 milhões de brasileiros para a extrema pobreza e produziu mais de 14 milhões de desempregados. Hoje, mais de 19 milhões de pessoas no país não sabem quando será sua próxima refeição. As universidades perderam 25% dos alunos nos últimos 2 anos, diante do corte de 27% nas verbas da educação.

“Quem tem fome tem pressa”, lembra Marcos. O desmonte das políticas públicas voltadas para o combate à extrema pobreza vai na contramão da busca pelo crescimento sustentável. Os debatedores destacam que o Brasil tem totais condições de fornecer alimento para toda sua população, mas para que isso aconteça é preciso comprometimento do poder público com a causa.

Acompanhe a transmissão da primeira noite do Global Meeting clicando aqui.

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Autor: Diego Alesson Alves – Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Billy Cedeno/Pixabay


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