Fotógrafos revelam os segredos do olhar por trás da câmera

Autor: Matheus Pferl e Mauricio Geronasso - Estagiários de Jornalismo

A fotografia é uma ferramenta de destaque no jornalismo. Através dela, é possível transmitir as mais variadas emoções e sentimentos, e eternizar momentos que serão lembrados por toda a história. Isso tudo sem precisar dizer uma única palavra, pois a imagem fala por si só, é uma linguagem universal e democrática.

Cada fotografia é um recorte específico de um momento, com a visão de quem a registra. Portanto, é importante usar esta ferramenta com ética e responsabilidade, respeitando seu contexto. Apesar de buscar registrar momentos históricos, o fotógrafo deve sempre levar em conta o impacto de seu trabalho, sem ofender a imagem das pessoas.

Em comemoração ao dia mundial da fotografia, 19 de agosto, a Uninter, através dos projetos de extensão Revista F e Portal Mediação, celebrou a data promovendo a 3ª Semana da Fotografia, que contou com convidados e mesas de debate.

O evento ocorreu nos dias 16, 18 e 19 de agosto de 2021 e todas as transmissões podem ser vistas no canal do YouTube do curso de Jornalismo da Uninter. As discussões giraram em torno das possibilidades do mercado de trabalho e experiências que envolvem o cotidiano das práticas ligadas à fotografia.

Professora do curso de Jornalismo e coordenadora do projeto de extensão Revista F, Marcia Boroski conta como foi organizar o evento. “Todo o processo foi feito junto a alunos, colaboradores e nossa bolsista do projeto de extensão Revista F, bem como os estagiários do Mediação e as bolsistas de pesquisa do grupo que também coordeno”, salienta.

“Esse processo envolveu definição de temáticas, convites a convidados e convidadas, organização técnica, organização de divulgação, organização de cobertura e preparação de pautas para a 12ª edição da Revista F, a ser lançada no 2º semestre. Além disso, contamos com o apoio da Grafita [agência experimental do curso de Publicidade e Propaganda]. Isso mostra a necessidade de acionar vários setores para um evento deste acontecer. Durante semanas as atividades do projeto consistiram nessa organização”, descreve.

A abertura do evento contou com a participação dos coordenadores dos cursos de Jornalismo, Guilherme Carvalho, de Publicidade e Propaganda, Alexandre Correia, e de pós-graduação na área da Comunicação, Clóvis Teixeira. Eles destacaram o engajamento dos alunos na construção do evento, permitindo o acesso a debates com profissionais atuantes no mercado de trabalho, promovendo uma aproximação com a realidade da profissão.

Fotografia no esporte

O esporte representa esforço, emoção, a luta pelas vitórias e a dor das derrotas, sejam elas coletivas ou individuais. Trata-se de um campo especialmente atraente para a fotografia. Longe de ser algo simples, a fotografia esportiva lida com detalhes que ocorrem em frações de segundo, o que exige extrema atenção e velocidade por parte do profissional. Existem diferentes técnicas que são aplicadas dependendo do esporte que será alvo da cobertura.

O tempo de exposição, a velocidade do obturador, os equipamentos, a direção do objeto, o enquadramento, todos os detalhes importam no desafio de capturar um instante de uma cena em movimento. Uma boa composição é essencial para obter boas fotos neste segmento.

“A fotografia esportiva proporciona o contato com muitas pessoas que muitas vezes vemos somente na TV”, diz Adam Escada, que é formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e mestre em jornalismo esportivo pela Universidade de Sevilha, na Espanha, onde reside e cobre o campeonato de futebol.

Outro profissional da área também destacou esse privilégio de poder desfrutar de um ponto de vista especial.  “Tenho como vantagem estar próximo aos jogadores, estabelecendo assim uma relação de confiança com eles, o que me propicia obter belas imagens dos bastidores, que atualmente é o trabalho que mais gosto de fazer dentro do Club Athletico Paranaense”, ressalta José Tramontin, egresso da Universidade Estadual de Ponta Grossa e atualmente fotógrafo do Club Athletico Paranaense (CAP). Adam e José participaram do primeiro dia do evento.

Fotografia, política e direitos autorais

A fotografia na política é um grande desafio e uma importante ferramenta de comunicação. Dentro do panorama em que estamos vivendo, não há como ocultar nada. As imagens contribuem para a visualização da realidade e para a busca de melhorias na sociedade.

Neste momento de pandemia, em que as pessoas estão em casa, a fotografia é ainda mais valiosa para levar a realidade a todos. Fotos feitas dentro de unidades de atendimento, de hospitais, nos diversos protestos e manifestações que aconteceram, ajudam a transmitir o que está acontecendo nas ruas e em ambientes a que no momento não se tem acesso.

Neste tipo de fotografia, o desafio do fotógrafo é estar atento à situação e tentar passar despercebido, para poder registrar os momentos de forma mais fiel à realidade. Quanto menos interferir, melhor. É muito comum que as pessoas alterem seu comportamento ao perceberem a presença de uma câmera. Nesses momentos o fotógrafo pode  dialogar com as pessoas para deixá-las mais confortáveis com a sua presença.

Entretanto, muitas vezes o fotógrafo pode se deparar com um ambiente hostil, em que não se aceita a sua presença, chegando inclusive a partir para a agressão. Especialmente quando se trata de política, área em que atualmente há uma grande polarização e intolerância.

Trabalhar com política e atos políticos é trabalhar com gente, com multidões, é trabalhar próximo das pessoas, que reagem e expressam seus sentimentos. Então é preciso tomar cuidados, ficar atento ao seu redor, as situações que se apresentam, cuidar com possíveis confrontos e estar preparado para essas situações. É fundamental ter a capacidade de conversar com qualquer “lado” que seja.

Muitas fotos fazem sucesso e acabam viralizando sem os devidos créditos ao fotógrafo, o que é muito ruim para o profissional. Portanto, precisamos nos educar a respeitar os direitos autorais das imagens, sempre dando os créditos aos fotógrafos.

Os direitos de imagem devem ser motivo de cuidado e atenção. Apesar de a rua ser um espaço público, isso não significa que se pode fotografar e divulgar absolutamente tudo. Se presenciar uma situação desagradável, que seja capaz de ferir a imagem de alguém, ou pela segurança da pessoa envolvida, o fotógrafo deve avaliar se é recomendável tornar a imagem pública. Durante as manifestações e atos políticos, essas situações são rotineiras.

A velocidade da informação é algo que mudou o trabalho de todos, e não é diferente para o fotojornalista. Antes, era possível chegar em casa, editar e subir fotos. Agora, perdeu-se o tempo de edição. O fotógrafo muitas vezes publica a foto durante a cobertura que está fazendo.

Essas preocupações foram discutidas no segundo dia do evento, em 18 de agosto, que contou com a presença da fotógrafa Annelize Tozetto, fotojornalista e especialista em jornalismo literário, que trabalha como assessora parlamentar da deputada Isa Penna, do PSOL. Também esteve presente a convidada Giorgia Prates, fotojornalista do jornal Brasil de Fato e do jornal Plural. O bate-papo contou com mediação de Gisele Barão, jornalista da E-Paraná comunicação e doutoranda na área de comunicação e política.

Projetos fotográficos

Fotografar na rua é uma prática importante para a construção do profissional. Na rua, o fotógrafo pode se conhecer melhor, descobrir sua linguagem, qual o jeito em que mais gosta de fotografar, além de como se inserir nos espaços e se aproximar das pessoas. Além disso, na rua é onde as adversidades aparecem, pois o profissional tem de lidar com a cidade e enfrentar situações inesperadas.

A partir do momento em que o profissional consolida sua linguagem e descobre o que gosta de fotografar, é possível desenvolver essas preferências por meio de projetos. Um projeto fotográfico pode durar anos e ir se redesenhando com o passar do tempo, pois é algo que está em permanente construção.

Existem muitas formas de pensar um projeto. Geralmente existe toda uma preparação que o antecede. O importante é começar pelo simples, para descobrir onde se quer chegar. Pode partir da observação de lugares frequentados com constância, pois sempre há algo novo a se descobrir e, durante a fotografia, pode-se encontrar detalhes e visões diferentes do mesmo ambiente.

Às vezes o projeto pode surgir no meio do caminho, inspirado em um tema, em um tipo de luz ou outras possibilidades que surgem na hora. Portanto, é fundamental ter um olhar atento para aproveitar todas as oportunidades que aparecem, pois elas surgem sem aviso.

Diferente de um estúdio, onde o ambiente é controlado, as fotos ao ar livre são sempre desafiadoras. O profissional tem que trabalhar com o que tem e de uma maneira rápida, tem que se adaptar à luz e outros aspectos para conseguir desenvolver seu trabalho.

Nem sempre as referência que o profissional traz servem para o ambiente em que ele se encontra, pois as características são diferentes, e o que se encontra em um lugar é completamente diferente do outro. O profissional não deve se prender a uma referência, deve se adaptar, exercitar um olhar atento e criativo e inovar, contar a história através da sua perspectiva.

A fotografia é usada para contar a história, por isso o mais importante é a história por trás da foto. Os detalhes sempre fazem a diferença, porém não existe um equipamento ideal para começar. O ideal é começar com o que você tem, e o melhor equipamento fotográfico é aquele que está ao seu alcance.

A discussão sobre projetos fotográficos foi feita por Mariana Alves, fotógrafa, jornalista, especialista em história da arte, com trabalho sobre fotografia de família. Ela tem experiência em diversas áreas como editorial, rua, eventos e museus, e desenvolve o projeto “Não repare a bagunça”.

Mariana conversou com Henry Milleo, fotógrafo nas áreas de fotojornalismo e fotografia documental para veículos e agências nacionais e internacionais, vencedor do Prêmio New Holland de fotojornalismo em 2012, e um dos premiados da POY Latam de 2013 e 2017. Suas fotografias integram o livro “O melhor do fotojornalismo brasileiro”, nas edições de 2013 a 2017.

Atualmente, Milleo é colaborador das agências DPA (maior agência de notícias da Alemanha) e Fotoarena, e é editor e cofundador da Artisan Roll Books. A mediação da conversa ficou por conta de Elaine Schmitt, jornalista, mestre em jornalismo e doutoranda do programa interdisciplinar em ciências humanas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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Autor: Matheus Pferl e Mauricio Geronasso - Estagiários de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Reprodução


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