Eugênio prova que estudar não tem idade e inspira novas gerações

Autor: Luiz Garcel Jr. – Estagiário de Jornalismo

É cada vez mais comum pessoas buscarem uma graduação no entardecer da idade adulta, depois de cumprirem com seu deveres familiares ou simplesmente seus desejos. Segundo o Censo da Educação Superior de 2021, o Brasil tinha 9 milhões de alunos no ensino superior. Desses, 5,2 milhões são de cursos presenciais e 3,7 milhões da modalidade a distância.

A educação a distância (EAD) no período analisado pelo censo registrou um crescimento de 19,6%, enquanto o ensino presencial encolheu 5,4% em relação ao ano anterior. Entra na soma a maior busca de cursos superiores por pessoas de idade avançada, que, a fim de conciliarem os estudos com a rotina profissional e familiar, optam pela EAD.

A pesquisa levantou que quase 198 mil idosos estavam matriculados em cursos superiores, equivalente a 2,3% dos 37,7 milhões de idosos registrados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já a EAD cresceu 474% em uma década, segundo o Ministério da Educação (MEC). Em 2018, o MEC já mostrava um aumento de 40% de idosos matriculados em cursos superiores a distância.

A Uninter reúne histórias do tipo, como a de Renê Naves, graduado em Filosofia aos 84 anos. Outro caso é do aluno do curso de Administração Eugênio Pelozio, que completou 60 anos em setembro passado. “Eu realmente estava enganado. Ao contrário do que pensava, hoje sinto-me cheio de energia e de vontade de atingir os objetivos que determinei, porque ainda tenho sonhos a serem realizados”, conta entusiasmado. Com 77% do curso de Administração concluído, Eugênio já pensa em fazer uma pós-graduação na instituição.

 

Administrador por vocação… E, agora, formação!

“Geninho”, como é chamado pelos amigos, é paulistano. Casou-se aos 23 anos com Luciola e logo tiveram dois filhos: Mariana e João Victor. Ele optou por cursos técnicos e não concluiu o ensino médio. Era metalúrgico da região do ABC e ficou desempregado em 1990, não conseguindo voltar a trabalhar na área. Foi aí que ele descobriu a paixão pela Administração.

Começou a trabalhar em uma empresa que fornecia matéria-prima para a Petrobrás. O patrão, por viajar muito a trabalho, fez uma procuração ilimitada para Eugênio cuidar da firma.

Após seis anos na empresa e com o término do contrato com a Petrobrás, o patrão encerrou as atividades. Foi nessa época que Eugênio conheceu o dono de uma clínica odontológica e foi contratado para trabalhar na parte financeira, mas exercendo funções de administrador. Aos sábados ele fazia curso de administração voltado para dentistas, totalizando 52 horas de capacitação.

Após 16 anos de trabalho na clínica, Eugênio resolveu ir morar no interior de São Paulo; Vendeu o apartamento em que morava com a família, comprou uma van escolar, fez curso para trabalhar no ofício e se fixou em São João da Boa Vista. Ele e a esposa trabalharam por 10 anos com transporte escolar.

A filha do casal tem 32 anos e é formada em Administração e Marketing e pós-graduada em Gastronomia. A experiência deu origem ao restaurante Duas Terezas, onde Eugênio trabalhou na contabilidade. Ela é mãe do pequeno Giuseppe, orgulho do avô.

O filho João Victor também é formado em Administração, com pós-graduação em Gestão de Projetos. O que começou há 30 anos como uma prática do trabalho no dia a dia para uma capacitação aos sábados virou a grande paixão da família.

“Voltar a buscar conhecimento na Uninter foi a melhor decisão que tive nos últimos anos. Me fez descobrir que a vida não é mais tão curta quanto pensava, ou seja, sou eu que faço meu tempo acontecer a cada dia, a cada amanhecer. Que a vida continue me surpreendendo conforme o tempo for passando! Ser velho ou ser novo tanto faz, eu quero apenas ser!”, complementa Eugênio.

 

Último desembarque, um novo destino

Em 2018, na última viagem com a van escolar na cidade de Águas da Prata (SP), Eugênio ia deixar o último aluno na única escola da cidade de 7 mil habitantes. Antes de desembarcar o aluno, Eugênio comentou com o garoto que não tinha nem o colegial.

“Nossa, ‘tio’! O senhor é tão inteligente. Não passava pela nossa cabeça que o senhor não é um homem estudado. Por que o senhor não volta? Aqui na escola tem o EJA”, sugeriu o surpreso estudante.

“O que é EJA?”, questionou Eugênio.

“Educação de Jovens e Adultos”, respondeu.

Uma pequena pausa para pensar e Eugênio retomou a palavra. “Você se incomoda se eu entrar na escola?”, disse com a curiosidade de um menino.

Tendo a aprovação do jovem aluno, Eugênio estacionou a van, entrou no prédio e pegou todas as informações. O funcionário que o atendeu chegou a pegar o número de telefone de Eugênio, talvez para não perdê-lo de vista.

Naquela noite, quando Eugênio chegou em casa, ele só tinha uma certeza: que as aulas começavam às 19h e às 19h30 ele estaria desembarcando os últimos alunos. Ao dar a notícia para a esposa e mais tarde para os filhos, a novidade foi muito bem recebida. Correu atrás da papelada para fazer a matrícula e negociar com a escola a sua chegada tardia nas aulas que logo foi resolvida. Após o recesso escolar no fim de 2019, Eugênio já estava matriculado e prestes a começar as aulas após as comemorações do fim de ano.

Material escolar em mãos, presente dos filhos que sempre o incentivaram a retomar os estudos. “Eles voltaram no outro dia com todo o material escolar! Tudo que eu fazia pra eles, eles fizeram pra mim. O caderno está guardado até hoje com a dedicatória que expressava a alegria que eles estavam sentindo”, conta o pai e aluno emocionado.

 

Vontade de aprender e ensinar

“Lembro do Eugênio sentado na frente, segunda fileira perto da janela. Muito observador, reservado, organizado. Percebi que ele tinha tanta vontade de estar ali. Havia uma inquietação em aprender. Sempre queria saber mais. Nunca deixava de perguntar e sempre contribuía com a aula”, conta a professora de Artes Ana Cláudia Peres Cortez.

Durante o período de aulas, as notas do aluno foram além da média. Quando chegava à sala de aula, parava na porta e pedia licença para entrar. Eugênio incentivava os colegas a estudarem. “Minha aula era sempre às sextas-feiras. Ele nunca faltava e sempre incentivava a classe a fazer o mesmo”, complementa Ana Cláudia.

Na busca incessante pelo conhecimento e incentivado pelos professores Geraldo Moreira e Ana Cláudia, Eugênio conheceu a Uninter. A professora é formada na instituição e Geraldo cursava História no centro universitário.

“Eu era professor dele numa escola em Águas da Prata. Eu estava cursando na Uninter e gostava muito dessa faculdade”, comenta o matemático Geraldo. Por indicação dele, Eugênio se matriculou em Administração.

A família, grande incentivadora do Eugênio, sabia que ele não ia parar. “A gente sabia que ele não faria o básico. Quando ele encerrou o ensino médio, nos trouxe o desejo de fazer faculdade”, conta João Victor.

Durante o curso, Eugênio se esforçou e em pouco tempo já estava fazendo monitoria online. Voltava a auxiliar os alunos, que faz até hoje com muito orgulho.

“Geninho é uma pessoa focada, que vai se dar bem nessa nova carreira”, garante Geraldo, que concluiu a primeira formação aos 40 anos e é um grande incentivador da graduação na terceira idade.

Por meio da monitoria, Eugênio realiza um desejo antigo de ser professor e ajudar os alunos com questões práticas em como garantir uma boa nota nas avaliações. Ele faz artigos e publicações em revistas e está sempre presente nos lançamentos de livros e eventos da Uninter.

Já com alma de educador, Eugênio passa bons conselhos aos colegas. “A vida não é tão curta como a gente pensa. Vamos envelhecer com conhecimento e deixar um legado de uma pessoa culta. Façam boa gestão do seu tempo, transformem os seus estudos em prioridade do dia, quatro anos vão passar de qualquer forma. Um aluno da EAD tem que ter foco, disciplina e rotina. Mas não misture as coisas! Nos fins de semana, fique com a família”, finaliza.

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Autor: Luiz Garcel Jr. – Estagiário de Jornalismo
Edição: Arthur Salles – Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Acervo pessoal


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