Entenda o que é o ensino híbrido

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

O ensino híbrido não é uma novidade, principalmente quando se trata do ensino superior, mas a pandemia da Covid-19 impôs a urgência de pensar sobre a modalidade de forma mais intensa para a educação básica. Agora, as escolas do Brasil começam uma adaptação para o retorno das aulas presenciais. Desta forma, as turmas são divididas e fazem um rodízio. Em uma semana, parte estuda na sala de aula e parte assiste transmissões de casa. Na seguinte, os grupos trocam de lugar, e assim sucessivamente.

Essa nova dinâmica acontece para que se mantenha o distanciamento para evitar a contaminação, pelo menos até que boa parte da população tenha sido vacinada contra o vírus. Mas, além de trazer um ponto de esperança de que logo as rotinas possam retornar normalmente, o tema também gera muitas dúvidas, questionamentos e debates.

Segundo a professora Mariane Kraviski, que atua na Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter, o ensino híbrido não necessariamente é o que se tem visto. A forma que tem sido implementada pode ser considerada um dos modelos dele, mas o híbrido vai muito além de uma transmissão simultânea do conhecimento online e presencialmente.

“Ele tem o princípio das metodologias ativas, que é colocar o seu aluno no centro do processo de aprendizagem, gerar autonomia, fazer ele de protagonista. Uma aprendizagem ativa, em que ele vai realizar atividades em que pense, pesquise, se expresse, aja. São atividades que vão gerar essa aprendizagem significativa no nosso aluno. O nosso objetivo com o ensino híbrido é essa aprendizagem ativa, fazer deles alunos participativos, que aprendam de forma crítica, criativa e argumentativa”, explica.

A tecnologia pode ser uma grande aliada nesse processo e já vinha sendo utilizada em vários momentos do ensino. Ambientes virtuais de aprendizagem, que integram várias formas de interação, com múltiplos recursos, podem ser ótimos exemplos, se aplicados corretamente, de maneira a agregar conhecimento. A professora Helenice Jamur afirma que o material não precisa ser estático e ficar centrado nos livros físicos, que são apenas um norte para o ensino-aprendizado.

“Você pode construir esse material junto com os alunos, os alunos podem participar dele, podem interferir, criando um processo de investigação, porque aí sim a gente começa a falar de uma educação mesmo. O que a gente quer que esse aluno aprenda? Conteúdo, técnica? Não pode ser esse o nosso foco apenas. A gente tem que possibilitar a esse aluno que ele tenha a capacidade de criar, de questionar, problematizar. Não é só entregar um pacotinho fechado com aquele pensamento que é o meu, ou o do autor do livro”, salienta.

Gladisson Silva, professor da ESE na Uninter e também na educação básica do Estado do Paraná, lembra que a educação precisa ser humanizada. Assim como os professores e pais, as crianças e jovens precisaram se adaptar a uma nova rotina no último ano e sofreram o impacto disso. É necessário conhecer os estudantes, ter empatia sobre as suas demandas e utilizar as ferramentas possíveis dentro da realidade de cada um.

“O aluno não é tabula rasa, o aluno tem toda uma vivência. Às vezes a gente consegue compreender isso quando o aluno é adulto, na graduação, mas tem uma grande dificuldade para compreender isso quando os nossos alunos são crianças e adolescentes. E os professores precisam ter essa sensibilidade. Essa comunicação empática é importante, porque não basta só ter o conhecimento, saber o que você precisa ensinar, você precisa saber como transmitir. Para isso, é importante você saber como comunicar. Você pode fazer a melhor aula do mundo, usar os equipamentos mais tecnológicos disponíveis, se por um acaso os alunos não compreenderem sua mensagem, sua comunicação foi insatisfatória, o processo de ensino aprendizagem fracassou”, afirma.

Além do mais, é importante pensar que muitas pessoas ainda não têm acesso a ferramentas tecnológicas ou mesmo a um sinal de internet. Por isso, Helenice explica que não se depende exclusivamente de tecnologias digitais para implementar o ensino híbrido. “Quando a gente fala em inovação, é esse mesclar de realidades e, principalmente, considerar as particularidades, porque os nossos alunos são diversos. Há possibilidades, mas é necessário adaptação, a gente não pode pensar em fazer híbrido para a massa e achar que vai ser exatamente igual para todos os alunos”, complementa.

Os profissionais da área também acreditam que não dá para retirar a responsabilidade do poder público de proporcionar condições para que professores e estudantes consigam efetivar a educação. É preciso ter em vista o acesso à internet, equipamentos e materiais de qualidade, assim como a formação continuada dos docentes.

“Tem que cobrar sim do poder público, porque nós estamos em uma convergência tecnológica, tudo caminha para a tecnologia. Nós temos um governo que caminha para o chamado ‘e-governo’, todos os serviços que o governo presta, como aplicativo para cadastrar para vacinação da Covid. Esse ano alguns estados já vão emitir documentação de carro pelo celular, justificativa de voto eletrônico pelo celular. E é antagônico quando ele não investe naquilo que é primordial”, enfatiza o professor Élcio Miguel, que atua na ESE.

Em termos de tecnologia, Élcio acredita que a qualidade será elevada com a chegada do 5G, que ainda está em negociação para ser implantado em território nacional, mas irá ampliar a qualidade e velocidade da transmissão de conteúdos, principalmente na área audiovisual. Isso possibilita a correção de interferências, como o delay e falta de sincronia de som e imagem. Facilitará o trabalho de profissionais em homeoffice que utilizam áudio e vídeo, como os professores da Uninter têm feito desde o início da pandemia.

“É uma grande expectativa mesmo, os testes já feitos pelo mundo mostram que é uma grande sacada de utilização da tecnologia mobile, quando a gente colocar no celular. Vai ampliar bastante aquilo que a gente já amplamente utiliza. A expansão não é linear, ela primeiro começa em grandes centros para depois chegar nos pontos mais distantes, mas é uma grande sacada. Estou ansioso pela chegada do 5G”, afirma o professor Élcio.

Pensando neste novo ano, em que a educação continua com adaptações, Helenice espera que “além de coragem, a gente procure, mais do que nunca, contextualizar o que a gente está ensinando, para que aquele estudante entenda o porquê ele está aprendendo aquilo, instigue para aquele conhecimento. E aí sim, faz muito sentido esse híbrido, de ir e vir, de trazer para casa, levar para a escola, ir para o computador, para o smartphone, usar todas as tecnologias que são incríveis”. Gladisson finaliza e diz que “a gente não precisa acertar sempre, a gente precisa não desistir”.

Os profissionais debateram sobre o tema Ensino híbrido: O que é? Como se faz? na terceira noite da Formação continuada de professores para educação 5.0, realizada pela ESE e transmitida ao vivo no dia 10.fev.2021. O primeiro e segundo blocos continuam disponíveis para acesso, através da página do Facebook e do canal do Youtube.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: August de Richelieu/Pexels e reprodução


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