Enfoc debate relação entre Teologia e Direitos Humanos

Os desafios contemporâneos e o compromisso da teologia com a vida e os direitos humanos estiveram em pauta durante o XVIII ENFOC, com a mesa-redonda A formação teológica como instrumento de transformação social. O encontro contou com a participação dos professores Adriano Sousa Lima, Athos Aires e Daiane Martins Batista, sob mediação da professora Sandra Morais Ribeiro dos Santos, doutora em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, que também possui formação em Pedagogia e Química.

A professora Daiane abriu sua fala destacando a relevância de um currículo teológico que vá além do estudo estritamente bíblico, ampliando o olhar do estudante para as demandas sociais contemporâneas. Segundo ela, a proposta da Uninter é formar teólogos capazes de atuar não apenas em ambientes eclesiais, mas também em diferentes espaços públicos.

A docente ressaltou a importância da interdisciplinaridade no curso, que dialoga com áreas como Filosofia, Sociologia, Pedagogia, Psicologia e Direitos Humanos. “A teologia que não se faz com os pés sujos de estrada e o coração inquieto diante da dor do mundo corre o risco de ser apenas um discurso”, disse.

O professor Athos trouxe à mesa os fundamentos bíblico-teológicos da justiça social, destacando como as Escrituras orientam a ação da igreja e do teólogo no espaço público. Ele ressaltou que a justiça está presente em toda a Bíblia — no Antigo Testamento pelo termo hebraico Sedeg e no Novo Testamento pelo grego Dikaiosé — e que essa justiça não é apenas atributo divino, mas valor a ser cultivado pela sociedade.

Segundo Athos, a prática da justiça social está vinculada à proteção dos vulneráveis, à promoção da dignidade humana e à defesa dos direitos dos pobres, viúvas, órfãos e marginalizados. Ele reforçou que a Bíblia apresenta modelos concretos de ação social, como o cuidado de Jesus pelos necessitados, destacando que a teologia deve dialogar com a realidade contemporânea sem se restringir à interpretação doutrinária.

Em seguida, o professor Adriano, com formação em Teologia e Direito, aprofundou a reflexão sobre a dignidade humana como base dos Direitos Humanos. Ele destacou três dimensões fundamentais:

• Valor intrínseco: todo ser humano possui dignidade pelo simples fato de existir.
• Autonomia: cada indivíduo tem direito de escolher seu projeto de vida.
• Mínimo existencial: saúde, moradia, educação e trabalho são condições básicas para a sobrevivência.

Para ele, a teologia deve estar comprometida com a vida, promovendo a dignidade humana e contribuindo para uma sociedade mais justa e solidária. “Ser comprometido com os direitos humanos é ser comprometido com a vida. Esse é o compromisso central da teologia”, afirmou.

A professora Sandra trouxe à discussão o conceito de teologia pública, ressaltando que a fé precisa dialogar com a sociedade e enfrentar questões concretas como desigualdades, exclusões e violências. Citando autores como David Tracy, Jürgen Moltmann, Miroslav Volf, Rudolf von Sinner e Eneida Jacobsen, destacou que a igreja não deve viver apenas para si mesma, mas servir ao mundo com justiça, inclusão e esperança.

“Jesus trouxe um reino marcado pela dignidade e pelo acolhimento dos vulneráveis. Esse deve ser também o compromisso da teologia e da igreja contemporânea”, afirmou.

Problemas sociais como fome, violência e racismo exigem diálogo entre diferentes áreas do conhecimento. A interdisciplinaridade é fundamental na formação teológica, permitindo que a justiça seja aplicada de forma concreta na sociedade.

Encerrando a mesa, os professores reforçaram que a teologia e os direitos humanos estão intrinsecamente ligados e que o compromisso com a vida não é secundário, mas central para a fé cristã.

“Ser comprometido com os direitos humanos é ser comprometido com a vida. Esse não é um aspecto opcional da fé, mas constitutivo da identidade cristã”, resumiu a professora Sandra.

 

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Autor: Cyntia Fonteles - estagiária de Jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Reprodução Youtube