Disrupção tecnológica e os desafios para o profissional da comunicação

Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de Jornalismo

A transformação digital impactou todas as esferas da sociedade. O âmbito da comunicação certamente foi o mais impactado, visto que a forma como nos comunicamos e acessamos informações mudou radicalmente nos últimos anos. Com a chegada da internet, as notícias que antes costumávamos acompanhar por meio da mídia tradicional (televisão, rádio e impresso), passaram a ser consumidas na web e, principalmente, pelas redes sociais. Vale lembrar que a comunicação hoje com um smartphone é muito mais fácil do que era com um “telefone móvel” no início dos anos 2000.

São evoluções tão significativas que existe até um termo para designá-las: disrupção tecnológica. A expressão é usada para explicar os efeitos da criação de uma tecnologia tão inovadora que rompe ou supera as tecnologias já existentes. Um exemplo disso é a Netflix, que nos libertou dos DVDs, das locadoras e dos horários da programação tradicional da televisão. A criação do streaming foi tão impactante que mudou a forma como consumimos produtos audiovisuais.

Aquilo que se entendia por mídia foi modificado. Hoje, todos andam com uma mídia na palma das mãos, e isso tem impacto na comunicação, já que além de receptor, qualquer um pode se tornar um emissor. Diante desse cenário, é imprescindível uma nova postura dos profissionais da comunicação.

Rodrigo Botelho, doutor e mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, e livre-docente em Informação e Tecnologia pela Universidade de São Paulo (o mais alto grau de titulação no Brasil), defende que os profissionais da comunicação devem estudar e refletir sobre essa ruptura de paradigma. “Nós, da comunicação, tivemos uma desmaterialização daquilo que a gente entendia por mídia. Isso está dentro de um processo de mudança, em que estamos no olho do furacão. Tudo aquilo que a gente entendia foi quebrado”, aponta Botelho.

Mídias sociais, inteligência artificial, internet das coisas e Big Data são tecnologias que passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas. “Passamos a transgredir a forma como representamos e recuperamos informações sobre tudo e sobre todos. É aí que começamos a falar sobre a sociedade da informação e a sociedade em rede. Isso é disruptivo, pois passamos a vislumbrar novos usos da informação para mediar as relações sociais”, destaca o professor.

Neste sentido, Botelho apresenta alguns aspectos desse cenário para orientar profissionais da comunicação. Jornalistas, publicitários e profissionais de marketing podem e devem aproveitar as diversas possibilidades das novas tecnologias.

A influência dos dados na publicidade

O Big Data é o processo de coleta e utilização de um grande volume de dados, que podem ser dados estruturados ou não estruturados. Na internet, as atividades de usuários geram dados a todo momento. Neste contexto, o publicitário pode usar essas informações para encontrar uma necessidade de mercado e então desenvolver um produto ou serviço.

“Para além de se pensar numa consultoria, numa campanha, ou se pensar numa mídia, requer agora que o publicitário pense numa organização pautada em dados. O problema é que os dados são imensuráveis. É um grande volume para processar e pensar. O que esses dados têm de valor e utilidade? Como podemos inovar e ter uma atuação ética? E como usá-los para as tomadas de decisões?”, questiona Botelho.

O professor indica a leitura de um estudo publicado na Revista de Administração Contemporânea: Desafios no Desenvolvimento de um Serviço Publicitário baseado em Big Data. O estudo faz uma análise aprofundada sobre o trabalho publicitário baseado em Big Data.

O jornalismo na era da informação

É desafiador pensar no fazer jornalístico a partir da inteligência artificial e da internet das coisas. Botelho diz que já existem experimentos e também casos reais de redações que utilizaram inteligência artificial e linguagem de programação para produzir notícias sem interferência humana. “São cenários de ameaças e de oportunidades”, salienta.

O docente indica o livro Jornalismo em todas as coisas, disponível gratuitamente no Google Books. A obra, fruto de uma tese de doutorado de Marcelo Barcelos, faz uma reflexão sobre o futuro das notícias numa sociedade hiperconectada. Como será o jornalismo em multitelas? O acesso à internet em objetos como geladeiras, automóveis, cafeteiras, espelhos e roupas vai mudar a forma de consumir notícias? O jornalista está preparado para produzir conteúdo em diferentes formatos, com designs responsivos e com boa usabilidade? É o que a Barcelos se propõe a discutir.

Marketing e inteligência artificial

O uso de inteligência artificial no marketing digital já é uma realidade. A quantidade de dados não estruturados é imensurável e a tecnologia possui capacidade de coleta e processamento dos dados. Com uma inteligência artificial, é possível traçar um perfil de público e utilizar essas informações para montar campanhas e estratégias de marketing. Dessa forma, as campanhas chegarão para o consumidor que possui um potencial de interesse.

Na prática, é possível conhecer o consumidor melhor do que ele mesmo, e é aí que se expõe o problema, uma vez que o marketing digital se utiliza de artifícios que direcionam o consumidor a ter desejos e necessidades que nem ele sabe que tem. São vulnerabilidades que precisam ser discutidas pelos profissionais de marketing. Para auxiliar na reflexão, Botelho indica a leitura do artigo O uso da Inteligência Artificial Aplicada ao Marketing Digital, que analisa esse problema a partir de estratégias de marketing de operadoras de telefonia.

É hora de tomar a pílula vermelha!

“Vou permanecer na interface apenas navegando? Ou vou olhar tudo o que acontece dentro dessa matrix e questionar?”, provoca Botelho. Não dá mais para os profissionais da comunicação apenas usarem as plataformas sem questionar suas interfaces e códigos.

O professor diz que é preciso entender como funciona o código. “Não precisamos ser um programador necessariamente, mas ao menos entender a lógica das linguagens de programação. O que é o código? Quem desenvolve o código?”, diz. Além disso, Botelho afirma que é preciso que os comunicadores estabeleçam relações de trabalho em equipes multidisciplinares, como em parcerias com áreas da computação e da engenharia.

“Adentrar essa matrix requer que a gente domine linguagens de programação e aprenda a dialogar com as máquinas. É o nosso dever como profissional e cidadão. Temos que entender que as tecnologias não são neutras e nem deterministas”, conclui.

Botelho levantou essas reflexões na palestra Disrupções tecnológicas e informacionais: desafios, convergências e oportunidades em mídias digitais, transmitida no dia 09.mar.2021, na webinar do projeto Vem Saber. A conversa foi mediada pelo professor Clóvis Teixeira. Estudantes da Uninter encontram a palestra completa no Univirtus.

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Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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