Vacinação mundial e descontrole da pandemia no Brasil são destaques na imprensa internacional

Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo

A pandemia de Covid-19 colocou-se como a maior ameaça dilema enfrentado pelo mundo em 2020. Já passado um ano, o vírus soma 3 milhões de mortes ao redor do globo e cerca de 140 milhões de casos registrados. Apesar dos índices negativos, o esforço internacional a fim de conter o agravamento da doença assegurou o desenvolvimento e a aplicação das vacinas mais rápidas da história, como é o caso da Oxford-AstraZeneca e Pfizer-BioNTech, hoje as mais utilizadas no mundo contra o coronavírus.

O retrato do controle da pandemia e do ritmo de vacinação não escapa ao cenário de forças distribuído nas principais potências mundiais. Os Estados Unidos lideram a classificação dos cinco países que mais aplicaram doses contra a Covid-19, com 194 milhões de injeções. Logo abaixo surge a China, com 179 milhões de doses. A lista segue com Índia, Reino Unido e Brasil, ocupando o quinto lugar geral com 31 milhões de doses aplicadas.

Em números proporcionais, o panorama é outro. O pequeno território britânico de Gibraltar, localizado ao sul da Espanha, registra 192 doses aplicadas a cada 100 pessoas, compreendendo a imunização por habitante em duas doses. Por outro lado, o Brasil é a 74ª localidade na estatística, com 14 doses aplicadas na proporção. Os dados são do portal Our World in Data até 13.abr.21.

Inglaterra e Estados Unidos novamente têm números notáveis entre as grandes nações, com 60 e 58 doses distribuídas e ocupando o 14º e 15º lugar na tabela, respectivamente. Para André Frota, professor do curso de Relações Internacionais da Uninter, o sucesso de países que concentram grandes populações em relação à vacinação se deve a dois fatores em especial: a capacidade de vacinação nesses territórios e a força que cada um desses Estados tem na política internacional.

“Quando a gente observa o sistema internacional como um todo, desde dezembro de 2020 a abril de 2021, a gente vê um ritmo de vacinação que se concentra num grupo específico, e há uma desigualdade que fica muito perceptível quando observado mapa a mapa, mês a mês”, comenta.

Na outra ponta das tabelas de vacinação, países como Camarões, Armênia e Síria apresentam um índice de nenhuma pessoa vacinada num grupo de 100.

De modelo a pária internacional

Segundo Luiz Domingos, professor do curso de Ciência Política da Uninter, a gestão da pandemia no Brasil segue a política negacionista adotada pelo governo Bolsonaro desde o início da crise de saúde. As ações do presidente variam entre o desdém pela doença e suas 365 mil vítimas até a rejeição de 70 milhões de doses da Pfizer a serem distribuídas no país, como propunha a farmacêutica em agosto do ano passado.

Uma das apostas do governo era na imunidade de rebanho intencional, provocada pela livre circulação do vírus com o objetivo de imunizar naturalmente uma parcela da população por meio de anticorpos. A medida serviria como uma proteção a todos os indivíduos, mesmo àqueles não imunizados e que estariam resguardados pelos demais. No caso da Covid-19, o alto número de óbitos e a variação do vírus tornam o plano ineficaz, descartado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) desde 2020.

“Isso vai fazer com que o Brasil fique na história como sendo o grande caso de má condução nessa pandemia. Nós vamos ser estudados pelo mundo inteiro e por nós mesmos durante décadas para aprender a como não fazer quando novas pandemias surgirem”, afirma Domingos sobre o descontrole do vírus no Brasil.

O país que hoje mata 4 mil pessoas por dia pela doença já foi modelo internacional na gestão pública de saúde, especialmente na aplicação de vacinas. O SUS (Sistema Único de Saúde) é o maior sistema público de saúde do mundo. Com 30 anos de existência completados em setembro de 2020, o SUS teve de amargar a data sob orientações políticas contrárias à sua história de erradicação de doenças e ampla cobertura vacinal.

Em 2010, 80 milhões de brasileiros foram vacinados em três meses contra o H1N1. O SUS foi o sistema público de saúde que mais vacinou pessoas no mundo contra o vírus à época. O PNI (Programa Nacional de Imunizações) chegou a erradicar em território brasileiro doenças de alcance mundial, como a varíola e a poliomielite.

A cobertura, no entanto, segue em queda desde 2015. O maior exemplo é a vacina BCG, direcionada a recém-nascidos: a imunização do público-alvo passou de 105% em 2015 para 63% em 2020. O país registrou em 2019, pela primeira vez desde a contagem histórica iniciada em 1994, uma cobertura vacinal abaixo da meta nas principais vacinas infantis.

Hoje, a má gestão da pandemia no Brasil ameaça não somente o país, mas o mundo todo. O temor é sobre a transmissão e mutação do vírus, que registra pelo menos cinco variantes próprias no país.  Quanto mais o vírus circula, maiores as chances de surgirem novas mutações, que correm o risco de não serem eficientemente combatidas pelas vacinas disponíveis. O cenário poderia gerar novas ondas de contaminação ao redor do mundo, como aponta Frota.

“A gente vive numa condição de interdependência, e essa crise demonstrou e nos demonstra diretamente isso”, finaliza.

A conversa entre os professores foi promovida pelo programa Mundo In the News em 8.abr.21. A realização é uma parceria entre a Rádio Uninter e os cursos de Ciência Política e Relações Internacionais da instituição. O programa trata das principais manchetes do noticiário internacional e vai ao ar quinzenalmente, às 18h das quintas-feiras. Para assistir ao episódio, clique aqui.

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Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Nataliya Vaitkevich/Pixabay


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