“Deus me deu uma vida nova”, afirma Ely Santos

Autor: Nayara Rosolen - Jornalista

Tornar-se gestor administrativo em um negócio próprio é o desejo de Ely Santos, 31 anos. Mas esse é só um dos sonhos do estudante de Tecnologia em Processos Gerenciais da Uninter. Além de concluir a graduação, o jovem quer ter filhos e a carteira de motorista própria para sua nova condição. Conquistas aparentemente comuns, mas que para ele são grandes passos, após renascer em um acidente de carro.

Em maio de 2021, Ely estava estabilizado profissionalmente, em uma empresa de TV e internet, onde realizada instalações, manutenções e lançamento de cabos de fibra óptica. Sempre responsável e dedicado, “buscava fazer sempre o melhor”, lembra. No entanto, foi depois de um dia cansativo de trabalho, voltando da casa de um primo, que o carro dele colidiu com a lateral de um caminhão.

Às 1h30 de um domingo, 30 de maio, na BR-267, entre o bairro Nova Era e o acesso à BR-040, em Juiz de Fora (MG). A ocorrência foi noticiada pelo G1. Ely só queria chegar em casa para descansar e acabou tendo o braço esquerdo amputado na hora. Com a perda de memória do dia, só sabe o que é contado pelas pessoas e as possibilidades apontadas pelos médicos. Por causa do cansaço, pode ter dormido no volante, já perto de casa, quando as pessoas costumam relaxar, de acordo com os profissionais.

“Joguei meu carro contra o caminhão. O caminhoneiro percebeu e tentou desviar, mas não deu. Bati meu carro na lateral e, com isso, perdi o braço na hora. O que ajudou na rapidez do meu atendimento foi o motorista, que ficou ligando desesperado para bombeiros e SAMU. Conheci os bombeiros do 4º Batalhão que me tiraram das ferragens. Explicaram que ao chegarem lá, o braço já tinha sido arrancado”, conta.

Além do braço amputado, sofreu uma lesão no quadril, joelho e pé, todos do lado esquerdo do corpo. Ely precisou ficar por um mês internado no hospital, devido à trombose e duas bactérias que contraiu.

“Por causa do impacto, sofri um estiramento do nervo plexo braquial, já fui em vários médicos e todos falam que por pouco poderia ter ficado tetraplégico. Hoje tomo medicação para tratamento de dores neuropáticas. Existem dois médicos que indico, o doutor Rodrigo Saldanha e a doutora Amelia Falconi, que são especialistas em dor, muito atenciosos e buscam ajuda da melhor forma possível”, declara.

O jovem garante que o acidente veio para mudar completamente sua vida. Desacreditado da existência de Deus e após um término de relacionamento, passava por um momento delicado. Mas sempre dedicado, Ely saiu do hospital e logo iniciou a fisioterapia. Para a surpresa dos médicos, com dois meses já andava com muleta e cinco meses depois, já não precisava mais do apoio. Ele acredita que manter a mente positiva, foi o que refletiu na recuperação.

“Ficar triste por ter perdido o braço vai adiantar em que? Meu braço vai crescer de novo? Não. Então bora viver feliz, pois Deus me deu uma vida nova! […] Como sou destro não me atrapalhou tanto. Aos poucos, fui me adaptando com a falta do braço, sempre me desafiando a aprender coisa novas. Não gostava muito que as pessoas fizessem as coisas por mim. Hoje para eu fazer uma coisa, tenho que desenhar na minha mente uma forma para fazer com um braço só. Me adaptei tanto que comecei a lavar o banheiro da minha casa, lavar louça, pintar, furar a parede para colocar cortina. Hoje me sinto muito mais adaptado com minha deficiência”, afirma.

Um ano após o acidente, já lutava no INSS para o liberar para trabalhar e, dois anos depois, garantiu uma vaga em uma clínica ortopédica, onde trabalha um dos médicos que o atendeu quando internado. Lá, realiza funções administrativas e trabalha com a organização de documentos, entre outras coisas.

Mas não foi só isso que mudou na vida de Ely nesses dois anos. Em um primeiro momento, existia a possibilidade de colocar uma prótese, por isso a família decidiu arrecadar valores em um financiamento coletivo, para ajudar na adaptação da nova condição. Foi nesse momento que Ely conheceu Juliana, sua atual esposa, através de um amigo em comum.

Juliana atua na área de designer, marketing e social mídia, por isso foi quem ajudou na divulgação do financiamento coletivo e rifas realizadas. Não demorou muito para que os dois começassem a namorar e, um ano depois da data do acidente, decidiram se casar.  “Minha esposa é muito importante para mim. Uma mulher de princípios e caráter, é uma ajudadora e sábia”, se declara Ely.

“Eu dei mais valor à vida, voltei a acreditar que existe um Deus que me ama e cuida de mim. Voltei a sonhar e ter expectativas de um futuro melhor. Não pensava mais em casar e ter filhos. Hoje temos um ano e meio de casados, vivendo muito feliz com uma mulher que realmente me ama da forma que eu sou”, completa.

Com toda a transformação ocasionada em sua vida, o jovem decidiu também se qualificar profissionalmente.

“Lute mesmo com as dificuldades”

Sempre “um cara brincalhão, muito família”, Ely lembra de uma infância muito boa. Os pais separados, Tânia e Dimas, sempre mantiveram contato e respeito, mas a criação foi realizada pela mãe. Foi só aos 17 anos de idade que o então adolescente teve um contato mais próximo com o pai, que comprou uma casa ao lado e com quem chegou a morar antes de se casar.

“Tudo o que sou em questão de educação, caráter, empatia e respeito, tem a ver com o jeito que minha mãe me criou. Meus pais são muito importantes pra mim, em todos os momentos da minha vida, eles sempre me apoiaram e orientavam a seguir um caminho correto. Tenho três irmãos [Miriam, André e Wanessa] que são uma benção para mim. Em especial minha irmã Wanessa, que sempre se doou o máximo para me ajudar na minha reabilitação, fazendo papel de irmã/mãe”, conta.

O único arrependimento de Ely foi ter parado os estudos aos 14 anos de idade, na 8ª série, em um momento de revolta. O jovem só completaria o estudo do ensino básico em 2016, através de provas realizadas pelo estado. No momento de pausa, começou a trabalhar em construção civil, mercado e sorveteria. Aos 18 anos, teve o primeiro emprego com carteira assinada em construção civil, local onde aprendeu “vários princípios da vida”. Com a proatividade, decidiu realizar cursos profissionalizantes em informática. Foi operador, fez montagem e manutenção de computadores.

“Fiquei nesse emprego por um ano e três meses, depois trabalhei de estoquista e, logo em seguida, consegui meu primeiro trabalho na área de informática, onde pude usar tudo o que aprendi nos meus cursos”, conta.

Depois de concluir o ensino fundamental e médio, Ely decidiu se arriscar uma graduação de Sistemas de Informação, que estudou até o 5º período, em 2018, mas não levou adiante. “Não consegui aprender e entender sobre programação, eu era melhor nas matérias de administração e exatas do que as disciplinas chaves do curso. Desisti e cheguei a falar que nunca mais faria faculdade”, lembra.

No entanto, com a aptidão para as atividades administrativas e as mudanças que o acidente ocasionou, inclusive com o novo emprego na área, agora busca a profissionalização por meio do curso de Tecnologia em Processos Gerenciais. Iniciou a graduação em março de 2023 na Uninter, devido à boa avaliação no Reclame Aqui e aos valores acessíveis.

Com a formação, o estudante quer se tornar um gestor administrativo de um negócio próprio ou mesmo em alguma empresa de grande porte. Na vida pessoal, deseja ter filhos, mudar a carteira de motorista para deficiente e comprar um carro.  Hoje também compartilha sua história nas redes sociais, por meio do Instagram, onde busca passar a mensagem: “Não desista de viver, mesmo que você perca alguém ou algo. Lute mesmo com as dificuldades!”.

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Autor: Nayara Rosolen - Jornalista
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal


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