Como se aprende uma língua estrangeira?

Autor: Jeferson Ferro - professor dos cursos de Letras e Jornalismo

O estudo de uma língua estrangeira faz parte dos currículos escolares de boa parte das crianças do mundo. Trata-se de uma disciplina fundamental para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e da bagagem cultural, cada vez mais relevante num mundo globalizado.

No Brasil, apesar de estarmos cercados por falantes de espanhol, o inglês é de longe a língua estrangeira mais ensinada, sendo conteúdo obrigatório nos ensinos fundamental e médio. Estima-se que existam mais de 1,5 bilhão de pessoas que se comunicam em inglês ao redor do planeta na atualidade. Aprender inglês significa, portanto, entrar em contato com esse mundão de gente! A maior parte destas pessoas, cerca de 75%, não têm o inglês como língua materna. Ou seja, precisaram aprendê-lo como segunda língua, ou ainda como língua estrangeira.

Ser capaz de se comunicar na língua inglesa, que há décadas ocupa a posição incontestável de idioma internacional dos negócios e da ciência, abre portas para inúmeras possibilidades de ascensão profissional, educacional e cultural. Em muitos casos, seu domínio já alcançou a condição de pré-requisito – cientistas que não leem ou publicam em inglês podem ser literalmente impedidos de trabalhar.

No entanto, no Brasil ainda são poucas as pessoas que dominam esse idioma. Pesquisa encomendada pelo British Council, em 2014, mostrou que apenas 5% dos adultos no país possuíam conhecimentos relevantes de inglês (“Demandas da aprendizagem de inglês no Brasil”).

Não é por falta de oportunidades, pois além da obrigatoriedade nas escolas, há uma grande diversidade de oferta de cursos de línguas no país. Além dos tradicionais institutos de idiomas, nos últimos anos surgiram inúmeros aplicativos e plataformas virtuais de ensino que oferecem possibilidades de aprendizado. A diversidade está também nos métodos de ensino, que vão desde os que são focados na tradução e repetição (a base do Duolingo, um dos aplicativos mais populares), até os que buscam trabalhar as quatro habilidades linguísticas (leitura, escrita, audição e fala) de forma integrada e imersiva. Há métodos que oferecem “resultados rápidos”, mas sem muita profundidade, e outros que se dedicam a formar falantes em nível avançado. De qualquer forma, sem dedicação o estudante não vai muito longe.

Muitos brasileiros ainda buscam atalhos e fórmulas mágicas para “resolver o problema” da falta de fluência em inglês – já apareceu por aqui uma empresa vendendo um método para aprender inglês dormindo. Esse imediatismo é, em boa medida, responsável pelos baixos índices nacionais de proficiência em inglês. Por isso pode ser útil entender alguns princípios básicos que estão por trás do mecanismo de aprendizagem de uma língua estrangeira, uma empreitada desafiadora e fascinante.

 

7 fatos relevantes para quem quer aprender um idioma

  1. Estudar uma língua estrangeira é um projeto de longo prazo e não existe método mágico. Portanto, sem persistência não há resultado. Considere 200 horas de estudo como uma base mínima para você ser capaz de usar seus conhecimentos linguísticos de forma proveitosa. Se espera atingir um nível avançado de domínio do idioma, terá de investir ao menos 400 horas de estudo – esse tempo e seus respectivos resultados podem variar bastante de pessoa para pessoa.
  2. Nunca se “chega ao final” no estudo de uma língua estrangeira, por isso é bom ter objetivos claros em mente, tais como: obter um certificado de proficiência, usar a língua no trabalho, viajar para países falantes do idioma (a negócios, turismo, estudo), fazer amigos estrangeiros etc.
  3. Durante o aprendizado, lembre-se de que para acertar é preciso antes errar muitas vezes. A vergonha de errar pode ser seu maior inimigo durante as aulas. Seja um aluno “sem-vergonha”.
  4. Ao estudar uma língua estrangeira, entramos em contato com um sistema linguístico diferente, que está associado a normas culturais e a uma visão de mundo distintas das nossas. Portanto, aprender um idioma significa passar a ver o mundo de uma nova forma. Por exemplo, se em português usamos o diminutivo como uma expressão linguística de gentileza – “espera um minutinho”, “faz um favorzinho” etc. – em inglês é preciso empregar as palavras apropriadas: thank you, please, would you… Não se aprende apenas a língua, mas como as pessoas a usam.
  5. A tradução é uma ferramenta imperfeita. Frequentemente nos surpreendemos com a multiplicidade de significados das palavras de uma língua estrangeira – “Como pode uma palavra significar tanta coisa?” Isso não é uma característica específica do inglês, é assim em todas as línguas. O que acontece é que a tradução varia conforme o contexto comunicativo. Por exemplo: a palavra house será traduzida como “casa”, certo? Agora, se você quiser dizer “estou indo pra casa”, em inglês será I’m going home. O que aconteceu? É que as traduções são sempre aproximadas, e em situações diferentes, empregam-se palavras diferentes. Isso vale para o sentido das palavras e para as estruturas gramaticais – o uso de tempos verbais, por exemplo, difere de uma língua para outra. Sua compreensão destas diferenças se amplia na medida em que você entra em contato com um maior número de situações comunicativas.
  6. Usamos várias funções cerebrais durante o processo de aprendizagem, por isso devemos saber que há momentos para: parar e pensar, agir espontaneamente, brincar, prestar muita atenção, ouvir, repetir, escrever etc. Não se aprende uma língua estrangeira de um jeito único, é preciso combinar múltiplas formas de aprendizado. Por isso métodos muito rígidos – em que se faz poucas coisas, e sempre as mesmas – tendem a produzir resultados limitados.
  7. Para falar outra língua é preciso aprender novos sons. O “r” gutural do alemão, o “u” com biquinho do francês, a língua presa (th) do inglês etc. Isso significa que você vai ter que movimentar os órgãos da fonação – conjunto que envolve lábios, língua e laringe – de maneiras que não estava acostumado a fazer. Ou seja, trata-se de um aprendizado físico. Falar diante do espelho é uma boa dica para ganhar consciência desses novos movimentos da boca.

Por fim, não se esqueça que aprendemos uma língua por necessidade de comunicação. A sala de aulas é um laboratório, a prática real se dá fora dela. Se você pretende embarcar nessa instigante viagem que é o aprendizado de um idioma, sugiro que a primeira coisa a fazer é relaxar. Seu aprendizado será tão eficiente quanto prazeroso, por isso busque por oportunidades gostosas de aprender. Seja ouvindo música, conhecendo pessoas, assistindo séries ou lendo livros, quanto mais tempo você passar em contato com a língua de uma forma agradável e interessante, mais rápido aprenderá. Mas não se esqueça: resultados duradouros serão fruto da persistência e da disciplina.

Eu e a professora Edna Marta, do curso de Letras-Inglês da Uninter, debatemos o assunto durante uma live no dia 30.set.2021. Você pode acompanhar a transmissão completa clicando aqui.

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Autor: Jeferson Ferro - professor dos cursos de Letras e Jornalismo


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