As diferentes faces das guerras

Autor: Gustavo Henrique Leal - Estagiário de Jornalismo

A guerras sempre acompanharam a história humana. O século 21 não as deixou de lado, registrando, somente em 2022, 28 conflitos em andamento. O número parte de um levantamento do Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, iniciativa internacional de coleta, análise e mapeamento de crises.

A doutoranda em Ciência Política e professora Relações Internacionais da Uninter Natali Hoff afirma que podemos separar em três tipos os conflitos que ocorrem no mundo. A classificação é tomada com base no Instituto de Pesquisa de Paz de Oslo (PRIO).

O primeiro conflito é baseado no Estado. Este tipo gera, no mínimo, 25 mortes ligadas a batalhas no período de um ano. Dentro dessa classificação, há ainda o conflito interestatal, que se dá em dois estados nacionais, como o que ocorre entre Rússia e Ucrânia. Por fim, os conflitos intraestatais reúnem forças governamentais enfrentando rebeldes e opositores do Estado.

O segundo tipo classificado pelo PRIO são os conflitos não estatais. Tradicionalmente, o instituto e literatura de modo geral não trabalhava tanto com a ideia de conflito não estatal, porém, depois da Guerra Fria, as pesquisas passaram a olhar com cada vez mais atenção para uma gama variada de atores que podem entrar em alguma disputa armada. Esses atores não necessariamente estão envolvidos com um Estado, mas também geram mais de 25 mortes em um ano. Um exemplo disso são as milícias narcotraficantes na América Latina, em regiões como Colômbia e México, mas que existem em qualquer parte do mundo

O terceiro e último conceito é a violência unilateral. Nelaa ação de um grupo gera 25 mortes de maneira unilateral, não necessariamente em confrontos diretos devido à inexistência de confrontamento.

Essas nomenclaturas são importantes porque facilitam a compreensão de cada conflito e expõem suas determinadas características, avaliando a presença de conflitos ao decorrer da história. “Algo que se observava até 2021 era a tendência de declínio nos conflitos baseados nos Estados, principalmente de conflitos interestatais. Existe um declínio histórico da ocorrência de conflitos entre Estados nacionais”, comenta a professora, deixando claro que na história em geral existem muitos mais conflitos internacionais e interestatais do que qualquer outro.

Essa tendência de queda dos conflitos aconteceu porque os países passaram por formações violentas, ligadas a tentativas de instaurar uma autoridade política dentro de um território. Dessa forma, era necessário conquistar a pacificação do povo, eliminando ou controlando quem discordasse do processo. A competição por territórios, influências, recursos de diversas partes do mundo são algumas das consequências dessas ações, fazendo da guerra uma constante linguagem política.

De forma a evitar tais conflitos, é muito comum as pessoas acharem que a Organizações das Nações Unidas (ONU) detém poder para resolver as turbulências de cada disputa, porém a organização serve apenas para fins de cooperação internacional, não tendo poder impositivo, mas sim de realizar operações de paz.

Os conflitos, muitas vezes, eram evitados pela balança de poder estabelecida entre Estados. Esse relacionamento funcionava com a ideia de que as nações ficariam armadas para garantir a sua própria segurança, tentando desmotivar uma possível disputa com demonstração de força e poderio militar. O problema desse acordo tácito é que os Estados ficam totalmente armados, gerando tensões na iminência de desentendimentos com outros países.

Logo depois das duas guerras mundiais, essa base ficou insustentável, e assim foram estabelecidos acordos que evitassem conflitos e as tradicionais guerras. A segunda metade do século XX viu países parando de entrar em guerras, mas, por outro lado, testemunhou o aumento de conflitos intraestatais e conflitos internacionalizados com outras nações dando apoio. Daí surge o crescimento de intervenções de países em outras nações.

“A gente tem uma disputa territorial entre dois Estados e a gente tem uma disputa hegemônica entre diferentes poderes que têm interesse em um resultado desse confronto, dessa situação de conflito. Existindo o conflito entre Rússia e Ucrânia, ao mesmo tempo temos uma disputa entre o Putin [presidente russo] e a Europa Ocidental, e entre a China e os Estados Unidos”, concluiu a Natali.

A professora foi a convidada do programa Café e Conhecimento, da Rádio Uninter, transmitido em 21 de setembro de 2022 e com apresentação da professora Daniele Farinhas. Você pode conferir a íntegra neste link.

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Autor: Gustavo Henrique Leal - Estagiário de Jornalismo
Edição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Defence Imagery/Pixabay e reprodução YouTube


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