Arte queer é aliada na inclusão de alunos trans

Autor: Matheus Pferl - Estagiário de Jornalismo  

O trânsito ou a troca de gênero sempre foi visto como anomalia ou tabu na história da humanidade, produzindo a marginalização de sua população. Aqueles que não se conformam em viver à margem ou na prostituição buscam por meio dos estudos sua autonomia e seu lugar como agente social. A educação inclusiva é um caminho importante para combater essa realidade de preconceito e exclusão.

No artigo Possibilidades para a educação a distância: o ensino da Arte Queer, publicado no Caderno Intersaberes da Uninter, Rogério Gomes do Nascimento Silva debate sobre a metodologia necessária para a inclusão de alunos trans/travesti no âmbito escolar. A pesquisa se deu por meio de revisão bibliográfica e investigação de práticas distintas por fontes online, oficinas culturais e visitas virtuais a exposições.

A necessidade da inclusão desses alunos é percebida pelo grande índice de abandono escolar em decorrência do preconceito e do bullying. No artigo, Silva propõe uma discussão sobre a abordagem inclusiva para os alunos LGBTIA+ (Lésbicas, Gays, Trans ou Travestis, Intersexuais, Assexuais e Simpatizantes), através de atividades realizadas no modelo EAD (educação a distância). O objetivo é que as atividades sejam representativas, especialmente para os transgêneros e travestis. Diante disso, é fundamental que haja uma aproximação cultural para avanços no processo inclusivo de alunos transexuais, travestis ou em processo de transformação, e o EAD torna-se um instrumento de acesso convergente.

“Na escola inclusiva, pressupõe-se uma concepção cuja práxis tenha como princípio o compromisso com a qualidade de uma sólida formação integral ao aluno, oferecendo conhecimentos que lhes sirvam à análise crítica acerca da realidade em que se insere, de modo a contribuir para a consolidação de uma sociedade que supere, definitivamente, desigualdades sociais. É nessa escola que educadores comprometidos acreditam”, diz Sueli Fernandes, uma das autoras da bibliografia consultada por Silva.

Silva argumenta que a arte também se torna uma das principais ferramentas para a realização de uma aprendizagem libertadora. Em sua história, o corpo já foi utilizado como ferramenta de suporte por diversos artistas, criando tensões críticas sobre a idealização da sociedade.

Atualmente o corpo se insere em um paradigma político, e tem o poder de transformar a sociedade. As minorias têm enfrentado, com muita luta, o sistema normativo em busca de inclusão e dos seus direitos. Tratando-se da comunidade trans/travesti, fica claro quando observamos a luta para sair da marginalidade e da prostituição, e a busca incansável por papéis sociais em outros campos de ação, seja nas artes, no setor de serviços e no meio acadêmico, inclusive.

Arte Queer

O termo “queer”, que tem origem na língua inglesa, ganhou conotação sexual no século 19, e era utilizado para ofender aqueles considerados afeminados. No final da década de 1960, a comunidade LGBT tomou posse do vocábulo e o adotou como caráter identitário. O termo abrange todas as identidades presentes na sigla LGBTIA+. A Arte Queer, também conhecida como arte LGBTIA+, ou Estética Queer, faz referência a práticas de arte visual modernas e contemporâneas com base em imagens e questões de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros+.

Silva explica que, no final do século 20, era comum a presença de desfiles de travestis em alguns programas na televisão. Também apresentavam seu trabalho em produções de figurinos, cabelo e maquiagem. Neste período, as drag queens se popularizaram, tornando-se sinônimo de alegria e festividade. A partir deste século, a discussão de gênero, sexo e sexualidade ganhou mais destaque nas linguagens artísticas. Artistas trans/travestis começaram a buscar reconhecimento e aceitação de seu papel social.

Terminologia

Conforme explica Silva, é importante identificar as diferenças de terminologia dos corpos trans, e de acordo com o dicionário “Aurélia – a dicionária da língua afiada”, de autoria de Ângelo Vip e Fred Libi, que reúne de maneira espirituosa as terminologias usadas pela comunidade LGBTIA+, podemos classificar da seguinte maneira:

  • Trans – Forma abreviada de transexual, transformista, transboy e transgênero.
  • Transexual – Aquele(a) que se submeteu a tratamentos à base de hormônios e procedimentos cirúrgicos (amputação ou implante de pênis) para troca de sexo, na tentativa de alinhar a anatomia à identidade sexual: não confundir com travesti nem com transformista; [….]
  • Travesti – Homossexual que se veste e se comporta como mulher, quer faça programa ou não.

É perceptível que o público LGBTIA+ está ganhando cada vez mais espaço, seja na mídia ou em premiações renomadas nas artes, os artistas dessa comunidade têm recebido muito destaque e reconhecimento.

Outro ponto importante é a aceitação da transição de gênero dentro de famílias mais esclarecidas, onde há um respaldo para uma integração menos traumática. Entretanto, o preconceito ainda é uma das maiores causas de abandono escolar de jovens em transição de gênero, e esse preconceito vem tanto dos colegas quanto dos professores.

Por fim, Silva ressalta ainda que a Arte Queer é uma importante forma de reconhecimento e representação da comunidade. As manifestações artísticas, seja de maneira online, com atividades, oficinas e trabalhos diversos, ou através da presença dos artistas, cumprem um papel fundamental para a inclusão e aceitação desse grupo.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Matheus Pferl - Estagiário de Jornalismo  
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *