Aleitamento materno contribui para um mundo mais sustentável

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

O Brasil tem uma média de 45,7% do aleitamento materno exclusivo entre crianças menores de seis meses. De acordo com a pesquisa realizada pelo Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), em 2019, a região Sul é a que mais amamenta nesta fase, com o índice de 53,1%, enquanto a região Nordeste ocupa a última colocação, com 38%. No entanto, os números invertem quando se trata da amamentação continuada até os 12 meses. No Nordeste, o índice fica em 61,1% e no Sul, 35%.

As ações de promoção, proteção e apoio no Brasil são inseridas na Política Nacional de Ação Integral à Saúde da Criança (PNAISC). Dentro das questões próprias, a política de amamentação envolve todas as áreas de atenção à saúde. A nutricionista e professora Carolina Belomo, mestre em educação, com uma trajetória na promoção das políticas de apoio à amamentação nos governos francês e brasileiro, afirma que o Brasil é um dos países mais reconhecidos a nível internacional por suas ações.

Ainda existem poucos estudos sobre o tema, mas é possível ligar o aleitamento materno com a sustentabilidade e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU), com metas a serem alcançadas até 2030. O segundo indicador, por exemplo, apresenta fome zero e agricultura. Neste sentido, a amamentação promove o pleno crescimento e desenvolvimento infantil, a primeira proteção de uma criança contra a fome, desnutrição e doenças. É o investimento mais duradouro nos aspectos físico, cognitivo e social.

“Durante os primeiros dois anos de vida, sabemos que é o momento de ouro para o desenvolvimento infantil e a alimentação nesse período vai ser essencial para o pleno crescimento da criança”, comenta Carolina.

Em relação às metas de saúde e bem-estar, apresentadas no indicador número 3 das ODS, a amamentação pode contribuir também na redução da ocorrência de doenças, assim como no desenvolvimento neuromotor infantil e equilíbrio emocional. Além disso, as mortes das crianças são reduzidas em 13% naquelas menores de 5 anos, em todo o mundo. E ainda pode ser um método contraceptivo, com 98% de eficácia nos primeiros seis meses após o parto.

Segundo a enfermeira e professora Maria Caroline Waldrigues, mestre em educação e defensora há muitos anos das campanhas de amamentação e movimentos com a sociedade em geral, é notável a diferença entre condições de saúde das crianças que amamentam no peito, daquelas que têm o aleitamento por complementos. Entretanto, Carolina Belomo lembra que é importante ter claro que os dados estatísticos não isentam a aparição de doenças. “É muito importante que a gente não estigmatize as mães que não podem amamentar”, salienta a nutricionista.

Nas ODS de número 1, 4 e 10, que falam sobre erradicação da pobreza, educação de qualidade e redução das desigualdades, respectivamente, é possível tratar a melhora do capital humano. Crianças amamentadas por mais tempo apresentam melhor desenvolvimento intelectual e também mostram resultados positivos nas escolas. A longo prazo, isso pode ter por consequência o crescimento da renda.

Carolina pontua também o 13º indicador, sobre ação contra a mudança global do clima. “O aleitamento materno é um meio sustentável, não agride o meio ambiente. Ao contrário das fórmulas infantis, que podem aumentar o efeito estufa, contribuir para a geração de lixo, sem falar que aumenta os gastos na família. O leite artificial é importante caso a gente não consiga manter a amamentação”, afirma. Maria Caroline complementa que “independente do estado nutricional dessa mãe, essa matriz vai sair, esse organismo é literalmente vivo”.

No caso das mães que não podem amamentar, Carolina diz que há diversas razões que podem explicar. Porém, a grande maioria dos casos é uma questão mecânica, relacionada a questões como a dificuldade de sucção do bebê e posição errada, por exemplo. Além disso, a genitora também pode passar por momentos de estresse e nervosismo, pela falta de apoio. A nutricionista diz que nunca viu um caso de impedimento da amamentação por questões genéticas.

Por isso, Maria Caroline salienta a importância de não romantizar a amamentação, como algo instintivo. “Na verdade, amamentar é um ato a ser aprendido”, garante. Para a enfermeira, o único aspecto fisiologicamente pertencente é a produção do leite, “uma grande orquestra linda de hormônios que fazem o primeiro leite sair e que, para a produção continuar, precisa ter sucção do bebê”.

O pós-parto é um momento de muita fragilidade para as mães, que se potencializa com a avalanche de informações, visitas e pessoas querendo palpitar sobre como e o que fazer. Neste ponto, Maria Caroline pontua a necessidade de investir em um pré-natal. “Não é só o nascimento, é a amamentação, o cuidado dessa saúde psicológica e mental dessa mulher, preparar para estar organizada para receber esse bebê. Mesmo que a gente ajude, cada mulher vai viver isso na pele. E longe de estigmatizar, cada uma oferece o seu melhor e o possível nesse período”, completa.

Carolina aposta no vínculo entre a mãe e o bebê como o passo mais importante, que começa já na gestação. “Aí a gente vai trabalhando todo esse fortalecimento do vínculo, que é depois, em um segundo momento, fortalecido também com a amamentação. Mas se a mãe não conseguir amamentar, pode ser também construído por meio dos outros cuidados que ela vai ter com essa criança. Olhar no olho, tratar com carinho, é isso que vai formar um adulto, um indivíduo, uma criança fortalecida emocionalmente”, conclui Carolina.

As profissionais, que atuam na Escola Superior de Saúde Biociência Meio Ambiente e Humanidades da Uninter, falam mais sobre os desafios da amamentação ao apresentarem o tema Contribuição da amamentação para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável na 2ª Maratona ECOS do Brasil, com mediação do professor Alisson Silva.

O debate, transmitido pelo canal do Grupo Uninter no Youtube e pela página de Maratonas para desenvolvimento sustentável no Facebook, é a terceira palestra disponível para acesso neste link.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Wendy Wei/Pexels


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