Afroempreendedorismo e a valorização de trabalho da população negra

Autor: Flávio Ducatti - Estagiário de Jornalismo

O cenário brasileiro tem se modificado nos últimos anos devido a vários fatores, entre eles o desemprego em massa, a desigualdade social e a falta de acessibilidade para alguns grupos. Com isso, pode-se observar o crescimento de novas modalidades econômicas que as pessoas usam na tentativa para a independência financeira. O afroempreendedorismo é um desses exemplos, sendo uma estratégia para a valorização de trabalho da população negra e sua ascensão social.

Para entender o afroempreendedorismo, é necessário compreender primeiro o que é o empreendedorismo, um conceito amplo e que engloba várias questões, que não se resume apenas em abrir seu próprio negócio de forma criativa e inovadora. O afroempreendedorismo vem do ato de empreender, pensado pela e para a pessoa negra, encarando dois sentidos.

O primeiro sentido é quando uma pessoa negra abre seu próprio negócio. Independentemente do que seja, isso é chamado de sentido amplo. O segundo é mais restrito, de o empreendedor pensar em todo o processo da cadeia produtiva, envolvendo outras pessoas negras no processo.

O afroempreendedorismo tem muito da militância e envolvimento político. A partir do momento em que as pessoas negras decidem empreender, elas começam a se unir e a criar uma espécie de coletivo, um grupo que pensa as questões de coletividade. Esse modelo de empreendedorismo, portanto, transcende o ato de empreender.

“Um ponto importante dentro dessa categoria do afroempreendedorismo ‘mais fechado’ é quando esses produtos e serviços também têm questões raciais envolvidas, como um bom modelo de negócio que tem uma empreendedora que vai produzir peças de roupas com estampas que remetam à África, frases de empoderamento ou com imagens de personalidades negras da cultura pop. Todos esses produtos, que a gente chama aqui de agenciamento da estética negra, também fazem parte dessa categoria. Pensar como esses produtos vão ser confeccionados, quais mensagens, quais símbolos e significados essas peças vão carregar também fazem parte do afroempreendedorismo”, explica a especialista em cultura afro-brasileira Suelen Matos.

O modelo de afroempreendedorismo “mais fechado” é o envolvimento entre as pessoas negras, não necessariamente um grupo fechado, mas um modelo de negócio que prioriza o envolvimento de outras pessoas negras em todas as camadas de modelos de negócios, justamente para fazer o dinheiro circular entre os envolvidos.

No Brasil, não existe uma linha de crédito específica para empreendedores negros. Existem alguns grupos que tentam oferecer auxílios para que as pessoas negras consigam um empréstimo, um acesso a capital financeiro para começarem o seu negócio. Ainda existe uma dificuldade muito grande para os empreendedores negros abrirem um negócio, mesmo os que não precisam de muito investimento, principalmente para mulheres negras. Elas são as pessoas que menos têm acesso à liberação de um empréstimo em banco, com muitas barreiras que dificultam esse modelo de negócio.

“Se observar nas feiras o que as mulheres negras vendem, normalmente são roupas de brechó, que são coisas que você consegue comprar com pouco investimento. Elas vendem pães, bolachas, alimentos que podem produzir em casa. Elas também fazem assessórios como brincos e colares, que são também artefatos que precisam de pouco investimento. Então esses são normalmente os modelos de negócios. Existem algumas exceções a partir das condições que a pessoa tem e ela acaba conseguindo investir um pouco mais, mas, na maioria das vezes, o que a gente observa são esses modelos de negócios que precisam de pouco investimento”, comenta a especialista.

Para Suelen, a importância do debate sobre o afroempreendedorismo é desmistificar o ato de empreender e não tentar mascarar os problemas sociais e estruturais do atual momento que é o desemprego e a falta de acessibilidade no país, assim como a falta de acesso à educação, ao conhecimento e à profissionalização. “Mesmo com ações ativas, ainda existe uma dificuldade de populações negras, indígenas, pessoas com deficiências e pessoas trans de conseguirem acesso a emprego e a construir carreiras, conseguir alcançar espaço de visibilidade e trabalhar no que gostam, no que querem e no que sonham, e não simplesmente no que dá”, destaca.

É importante desmitificar a ideia de ato de empreender e apresentar o afroempreendedorismo como outra perspectiva de trabalho, de forma de organização e o potencial ideológico que o modelo tem. Também é fundamental se questionar nessa construção econômica que é o capitalismo. Esse tipo de empreendedorismo traz os debates raciais dentro do sistema econômico e da sociedade em geral.

São pontos importantes para debater, e mais que isso, pensar estratégias a partir do nosso lugar dentro dessa relação e o que pode ser feito. Pensar no afroempreendedorismo, procurar onde essas pessoas estão e consumir do empreendedor negro. É importante criar essa rede de conhecimento e repassá-la para que outras pessoas saibam que o afroempreendedorismo existe, para que esses afroempreendedores consigam a independência financeira e seu espaço digno de existência na sociedade.

A Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter, aliada aos cursos de Gestão Empreendedora de Serviços e Gestão de Turismo, realizou no dia 23 de junho de 2022 uma palestra com objetivo de abordar o histórico do afroempreendedorismo brasileiro e contemplar seus desafios na atualidade.

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Autor: Flávio Ducatti - Estagiário de Jornalismo
Edição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Mikhail Nilov/Pexels e reprodução YouTube


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