“Acreditar na educação é um ato revolucionário”, diz professor em evento sobre trabalho infantil

Autor: Vitor Diniz - Estagiário de Jornalismo

No Brasil, considera-se trabalho infantil aquele que é realizado por qualquer criança até os 13 anos de idade, o que é proibido por lei. A partir dos 14 anos completos, o adolescente pode trabalhar se estiver inserido em um programa de jovem aprendiz. O assistente social tem um importante papel no combate à exploração do trabalho infantil.

No dia 25.jun.2020, o coordenador do curso de Serviço Social da Uninter, professor Dorival da Costa, realizou um debate sobre o tema. O evento contou com a participação da professora Vanessa Rombola Machado, da Universidade Estadual de Maringá, da professora Lenir Mainardes, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, e do assistente social do Ministério Público do Estado do Paraná Marco Antônio da Rocha.

O diretor da Escola de Saúde da Uninter, professor Rodrigo Berté, fez uma introdução ao debate, que teve quase 2 mil internautas assistindo. “Os eventos ligados à Escola de Saúde têm chamado muita atenção porque nós não viemos para agradar ninguém, nós viemos para fazer uma discussão, fazer debates, falar da experiência que cada um tem”, afirmou Berté.

Ele ressaltou que o trabalho infantil faz com que a criança perca a sua infância, prejudicando seu desenvolvimento cognitivo e os relacionamentos familiares. Berté lembrou de sua experiência pessoal, já que começou a trabalhar muito cedo, e falou o quanto apoia hoje o combate ao trabalho infantil.

“Com 6 anos de idade, eu trabalhava na roça, tirava leite das vacas às 5 horas manhã, no interior do Rio Grande do Sul. Hoje olho meus sobrinhos vivendo uma infância saudável e penso: ‘eu não vivi tudo isso’. Por isso é importante combatermos o trabalho infantil”, conclui Berté.

O assistente social Marco Antônio levantou uma importante discussão para os mais diversos profissionais. Ele ressaltou que devemos pensar como diversas categorias de trabalhadores, do campo do direito, da psicologia, da pedagogia e de outras áreas, se posicionam frente ao combate ao trabalho infantil. “Não me refiro ao politicamente correto, me refiro àquilo que está no fundo do nosso coração. Devemos pensar qual é nossa capacidade de enfrentar o trabalho infantil”, explica.

O assistente social lembrou que o trabalho infantil tem causas materiais, é fruto da desigualdade social, e não é causado diretamente por famílias desestruturadas. O fato de existir empresários que exploram uma mão de obra barata é uma das questões que mais agravam a situação.

“Depois de já ter trabalhado na Vara da Infância e da Juventude, não me afasto dos assuntos que dizem respeito a esse campo. Cheio de significações, é um campo riquíssimo para pesquisas e debates. Penso na infância dos nossos filhos e sonho com um país onde nossas crianças possam ser urgentemente felizes”, conclui Marco Antônio.

Dorival lembrou do quanto a escolarização de uma criança é prejudicada quando ela está sendo explorada no trabalho. Ele enfatizou que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi uma conquista que exigiu anos de luta de toda uma militância. “Ser esperançoso nesse país é um ato de rebeldia, acreditar na educação é um ato revolucionário, nossa população precisa de esperança, se ela se agarrar e lutar por seus direitos, ela vai fazer a diferença”, disse.

Lenir falou também da comemoração dos 30 anos do ECA em 2020, e o quanto é importante não esquecermos do direito da criança de viver o seu período de infância como realmente deve ser. Ela relata que em outros anos foi convidada para muitos debates sobre o trabalho infantil, e que no início havia movimentos sociais muito intensos, mas com o decorrer do tempo acabaram enfraquecendo.

“Precisamos ver que uma política pública em termos de enfrentamento ao trabalho infantil precisa de uma articulação grande com a educação e com a assistência social, não pode ser fervorosa apenas no começo e depois esmorecer”, explica Lenir. Por fim, Vanessa relatou que tem estudado a questão do trabalho infantil como uma questão de violência. Ela lembra que a violência do cotidiano contra a criança e ao adolescente acontece por uma forma de naturalização.

“O trabalho infantil é uma violência demarcada, está ligada a uma premissa que existe de que o trabalho dignifica o homem, de que é melhor a criança trabalhar do que estar perambulando pela rua”, explica. Geralmente o trabalho infantil atinge uma camada mais pobre da população. Independente das condições financeiras da família, a criança precisa da escola para ter uma educação de qualidade, obter um desenvolvimento intelectual, e ter no futuro uma profissão e melhores condições de vida.

O debate aconteceu através de uma live, você pode assistir a qualquer momento na página da Tutoria Serviço Social Uninter, no Facebook.

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Autor: Vitor Diniz - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Cícero R. C. Omena/Wikimedia Commons


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