Acervo em Curitiba preserva registros históricos da comunidade LGBTQIAPN+ do Brasil

Autor: Madson Lopes - Estagiário de Jornalismo

Um vasto acervo impresso e digital que mantém viva a história de uma comunidade cujo direito de existência foi historicamente negado. Esse é o Centro de Documentação Professor Dr. Luiz Mott, o Cedoc, localizado em Curitiba e reconhecido pelo Ministério da Cultura como o primeiro centro de documentação LGBTQIAPN+ do país. O acervo é composto por livros, revistas, jornais, cartas, fotografias, entre outros materiais, que suportaram o tempo e as tentativas de apagamento. 

programa Pajubá, da TV Uninter, do dia 01 de agosto de 2025, recebeu Alberto Schmitz, coordenador do Cedoc e diretor de pesquisa, história e memória do Grupo Dignidade — organização responsável pelo acervo e atuante na defesa e promoção dos direitos humanos das pessoas LGBTQIAPN+. 

Alberto compartilhou o trabalho de preservação que a instituição desenvolve há quase 20 anos. “A gente luta pelos direitos de existir enquanto comunidade LGBTI+ que não vem de ontem. […] Nossas presenças, nossas contribuições enquanto comunidade são sistematicamente apagadas”, afirma. 

O acervo abriga produções culturais que se tornaram símbolos de resistência, acolhimento e identificação. É o caso do jornal Lampião da Esquina, considerado o primeiro periódico brasileiro a abordar abertamente a temática LGBTQIAPN+. Ele circulou no eixo Rio-São Paulo entre os anos 1978 e 1981 e durante esse período também foi voz ativa na luta contra a repressão imposta pela ditadura militar. “É a partir da circulação do Lampião da Esquina que se estrutura o que a gente chama hoje de um movimento LGBTI+ brasileiro”, explica Alberto destacando a importância da publicação. 

Outra produção igualmente relevante disponível no acervo é a Revista Rose, publicada na mesma época. Irreverente, o periódico se apresentava aos seus leitores como “a revista que informa as mulheres e tira a roupa dos homens”. Além de veículo de comunicação e entretenimento, ela funcionou como um espaço pedagógico para compreensão de gênero e sexualidade. 

Com o acervo, o Cedoc visa facilitar o acesso a pesquisas e produção de conhecimento. “A gente quer que se produza conhecimento de qualidade como uma ferramenta de enfrentamento ao preconceito e discriminação. Enquanto instituição, a gente facilita o acesso às fontes para que se produza conhecimento e as pessoas entendam, desmistifiquem e tirem dessa prateleira do exótico”, ressalta o historiador. 

 Além de guardar diversos materiais históricos, o Cedoc promove atividades como palestras, debates e encontros. Ele é responsável pela iniciativa Paraná + Diversidade, que tem como objetivo percorrer todas as regiões do estado levando atendimento social e cultural, além de formar servidores públicos e lideranças comunitárias. 

 “A gente percebeu uma ausência da temática LGBTI+, de registro sobre a temática no interior do Paraná”, explica Alberto. “Então, a gente foi lá fazer busca ativa, nos acervos, gravando entrevistas com ativistas, com pessoas da comunidade no interior e esses registros vão se transformar numa exposição que vai voltar a circular nessas cidades”. 

 Enquanto percorre territórios e revira bibliotecas antigas à procura de memórias da comunidade, o Cedoc busca articulações com o poder público e entidades para garantir no futuro uma estrutura capaz de alcançar mais pessoas. “Nosso grande sonho enquanto Cedoc é se transformar num museu, montar uma exposição e receber as pessoas contando essa história, mostrando essa narrativa de luta do movimento LGBTI+. Está vindo aí”. 

 Assista à íntegra da entrevista de Alberto Schmitz ao canal da TV Uninter no YouTube.

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Autor: Madson Lopes - Estagiário de Jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Acervo Cedoc e reprodução


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