A mudança da figura do idoso no trânsito

Autor: Maria Caroline Waldrigues (*)

Você já deve ter visto aquele desenho com uma pessoa de bengala representando os idosos no trânsito. Essa maneira de olhar para os idosos no país precisa ser repensada, e uma das mudanças está chegando pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) na sinalização que regulamenta as áreas de segurança e de estacionamento específicos de veículo.

A resolução nº 965 de maio de 2022 e seus anexos tratam do conceito de área de segurança de estacionamento para pessoas com comprometimento de mobilidade, das credenciais para estacionamento de vagas para pessoas idosas. Além disso, detalham minuciosamente como os municípios e os órgãos de trânsito responsáveis devem cumprir as determinações dentro de um prazo de 5 anos, a partir da data que passará a vigorar a nova legislação.

Poderia discorrer sobre várias temáticas de pertencimento desta resolução, como por exemplo a questão de pensarmos sobre a urgente necessidade de discussão e ampliação do projeto “cidade amiga da pessoa idosa”, que hoje conta com 897 cidades participantes no mundo. Dessas, apenas 32 cidades, do total de 5.565, são brasileiras e certificadas como “Amigas da Pessoa Idosa”, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Mas não quero tratar sobre este ponto de vista. Penso que o aspecto crucial e pujante é a possibilidade de abertura de diálogo e discussão da alteração do desenho figurativo estilizado, o pictograma que representa a pessoa idosa na resolução em tela. Pois, mais que um signo de uma linguagem escrita, a alteração do desenho da pessoa idosa curvada com bengala, para uma pessoa ereta com a impressão de caminhar, é uma convocatória para pensarmos o modo como autorizamos, individual e coletivamente, o modo de pensar, sentir e agir com relação às pessoas idosas por meio da propagação de estereótipos, preconceitos e discriminação.

Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), em seu Relatório Mundial sobre o Idadismo (2022), quando o fator cronológico é utilizado para “prejudicar, fazer injustiça ou arruinar a solidariedade entre as gerações”, denominamos de “idadismo”. Seus sinônimos como “etarismo” ou “ageísmo” nada mais são que a discriminação com as pessoas idosas e que tem impacto significativo no curso de vida, levando à exclusão, à marginalização e à violência, além de prejudicar o desenvolvimento de indivíduos e comunidades.

Em um Brasil com apressada transição demográfica, com cerca de 33 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, que correspondem a 15% da população segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2022, com projeções temíveis de 58 milhões de pessoas idosas para o ano de 2060, cerca de 25% da população, necessitamos urgentemente, como coletividade, pensar nos desafios que já estão se estabelecendo, seja no campo social, político, econômico ou da saúde. Em especial, no combate ao idadismo.

* Maria Caroline Waldrigues é enfermeira, mestre em Educação, membro DCEG/ABEN-PR, coordenadora dos cursos de Tecnologia e Bacharelado de Gerontologia Escola Superior de Saúde Única (ESSU) da Uninter.

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Autor: Maria Caroline Waldrigues (*)
Créditos do Fotógrafo: Divulgação


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