A influência das crenças na produção da arte

Autor: Danielly Dias Sandy*

A história da arte possui uma forte relação com a história das religiões, vão desde às crenças mais antigas, como das escolas de iniciação e hermetismo, até as instituições e manifestações religiosas mais atuais. Podemos considerar que, desde os primórdios, o homem sempre buscou, de alguma forma, expressar a sua fé a partir da produção de imagens e artefatos. Fosse nas pinturas rupestres ou nos inúmeros objetos produzidos em épocas distintas, o homem vivificou suas crenças ao mesmo tempo deixando significativa herança religiosa e cultural.

Podemos destacar alguns períodos da história, como do Antigo Egito marcado pela crença em vários deuses que guiava toda uma sociedade teocrática, trazendo para o dia a dia dos egípcios, questões relacionadas a morte e imortalidade da alma. Tais questões constituíam o cerne do corpo social egípcio guiando os cidadãos em suas ações e decisões. De fato, as principais características dessa civilização foram fortemente representadas na arte e monumentos arquitetônicos. Não apenas as formas, mas, inclusive, as cores, a lei da frontalidade e todos os demais postulados para a produção da arte egípcia tinham intensa relação com os ritos e religião da época e local.

Algo semelhante, mas talvez em diferente intensidade, é passível de ser observado também em outros períodos e produções artísticas que integram a história da arte. O artista, por sua vez, pode ser considerado como a “antena da sociedade” captando as minuciosas mudanças e poderes, visíveis e invisíveis, incluindo, naturalmente, a religião. Não obstante, a arte torna-se um reflexo não apenas da religião e religiosidade, mas, ainda, da economia, política, cultura e outros aspectos que tornam a influenciar a própria religião de cada época.

Do mesmo modo, na história da arte brasileira, encontramos traços marcantes da representação da religiosidade do povo, ainda que seja de diferentes formas. Obviamente, isso é reflexo do hibridismo cultural brasileiro e sincretismo religioso. Como exemplo, podemos trazer à memória a forte relação da arte do barroco brasileiro com a religião católica, contando em seu rol de produção com obras de imensurável valor.

Há vários artistas de destaque desse período, século XVIII. Dentre eles, citamos Mestre Valentim (1745-1813), Mestre Ataíde (1762-1830), Antônio Francisco Lisboa (foto), mais conhecido como Aleijadinho (1738-1814) e outros. E As obras de Aleijadinho correspondem a uma significativa produção escultórica e arquitetônica para a história da arte brasileira e mundial. Ainda, consideramos que tais obras integram o conjunto de bens patrimoniais culturais da humanidade, reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

Na contemporaneidade, tal expressão de crenças permanece vinculado à arte, sobretudo quando consideramos que toda criação tem relação direta com o que acredita o seu criador. E mesmo que as crenças, muitas vezes, não sejam diretamente relacionadas a religiosidade ou religião específica, permanecem expressando o modo como o artista observa e interpreta o mundo e, naturalmente, isso passa pelo filtro de seus valores e convicções.

Assim, mesmo as críticas levantadas pelos artistas contemporâneos, que muitas vezes buscam fazer da sua arte um mecanismo de denúncia e estímulo a construção do conhecimento, refletem o sistema de crenças incutido na cultura da sociedade em questão.

* Danielly Dias Sandy é museóloga, mestra em Museologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professora da área de Linguagens Cultural e Corporal nos cursos de licenciatura e bacharelado em Artes Visuais da Uninter.

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Autor: Danielly Dias Sandy*
Créditos do Fotógrafo: RitaMarcia/Pixabay


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