A evolução das séries da TV aberta para a web

Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de Jornalismo

O consumo de produtos audiovisuais cresceu nos últimos anos graças à chegada da internet banda larga, aliada ao crescimento das plataformas de streamings. Cada vez mais o consumidor investe seu tempo e dinheiro em serviços variados de streaming. Nas plataformas, o formato que ganha notoriedade é o de sequências seriadas. Um movimento que cresceu por causa de produções originais como as da Netflix e da HBO Go.

Hoje, maratonar séries se tornou uma cultura. Mas se engana quem pensa que o hábito de acompanhar séries é coisa da última década. Na verdade, a ficção seriada evoluiu junto com a televisão. Especialista em roteiro para cinema e televisão, Flavia Suzue Ikeda diz que no século 20, através do cinema, do rádio e da televisão houve uma mudança qualitativa na audiência de espetáculos dramáticos.

A roteirista cita as séries “I Love Lucy” e “Dragnet”, de 1951, que foram percussoras dos gêneros da sitcom e da série policial. “No começo da década de 50, já surgem essas duas séries que são basilares e que deram origem a gêneros e formatos que até hoje são destaques na televisão e na internet”, afirma.

Flavia explica que outro ponto importante na evolução das séries foi a chegada das TVs por assinatura, na década de 1990. Emissoras como Fox, Showtime e HBO transformaram as narrativas com inovações. Ela aponta o exemplo da série “Os Sopranos”, da HBO, que trouxe uma nova abordagem dramática para seus personagens. A partir daí, produções mais experimentais ganharam espaço na televisão e a web começou a se aventurar no movimento.

A primeira websérie

A primeira websérie de que se tem notícia é “The Spot”, que foi ao ar entre 1995 e 1997. “Definindo uma websérie, a gente pode pensar como uma série feita para ser veiculada na internet, tendo um formato que é herdeiro dessas séries televisuais. Muitas vezes, quando se fala de webséries, destaca-se muito essa semelhança com essas séries de narrativas diferenciadas”, afirma Flavia.

Por ser distribuída na web, “The Spot” era uma série adaptada ao meio da internet. A trama contava a história de amigos que dividiam uma casa de praia na Califórnia (EUA). Os episódios tinham duração de 5 minutos e havia outros recursos de divulgação no site, como um blog, no formato de diários em vídeos, que contava curiosidades sobre os personagens. Além disso, o site permitia interação com o público e os espectadores podiam interferir na história.

O impacto da cultura da convergência

O conceito de cultura da convergência, criado pelo autor Henry Jenkis em 2006, se refere às transformações tecnológicas, mercadológicas, sociais e culturais da era da internet. Neste cenário de consumo, o uso massivo da internet e de diferentes mídias mudou o comportamento da sociedade.

Surgem fenômenos que Jenkis definiu como cultura participativa e inteligência coletiva. O espectador, que antes era apenas um receptor passivo, passa a ser mais participativo e mais crítico, além de também produzir conteúdo. Neste sentido, nasce uma fonte alternativa de poder midiático. “É tudo ligado a esse conceito de inteligência coletiva. Não é mais só uma pessoa que detém tudo, um conglomerado ou uma empresa. É uma inteligência que vai sendo construída da soma, do acréscimo e do diálogo entre as pessoas”, destaca Flavia.

Essas mudanças foram decisivas para que produções seriadas independentes ganhassem destaque na internet. Flavia afirma que um fator determinante foi a evolução de plataformas gratuitas de vídeo, como o YouTube e o Vimeo. Ela destaca que a partir de 2010 o YouTube permitiu o upload de vídeos com mais de 15 minutos de duração.

“Essa mudança abriu um universo de possibilidades para o uso da plataforma. A partir daí, a gente não precisou mais assistir somente a vídeos caseiros curtos, trailers e peças curtas. A partir de 2010, é possível subir um filme inteiro no YouTube e ter disponível todo tipo de conteúdo audiovisual gratuito. Isso foi a grande chave de entrada das webséries”, explica Flavia.

Nesse período, começam a surgir no Brasil conteúdos independes voltados para a web. Flavia menciona uma das primeiras séries para internet no Brasil:2012 – Onda Zero (foto), do diretor Flávio Langoni. A obra foi veiculada no YouTube e destacou-se por trazer uma narrativa distópica, do gênero sci-fi. Algo que era inédito na época.

“Interessante a gente observar que como a internet não tem essa dependência de grandes canais e emissoras, a web possibilita uma liberdade maior para os produtores, tanto de experimentar formatos quanto de tratar de temas mais delicados que não se vê num veículo tradicional”, ressalta a roteirista.

Outra produção independente brasileira de destaque é a série “3%”, de 2011. A trama discute meritocracia e desigualdade social em um futuro distópico. Mesmo sendo produzida com baixo orçamento, a websérie ganhou reconhecimento e premiações. Em 2016, a Netflix produziu uma nova versão e a série se tornou a primeira produção brasileira da rede de streaming.

O mercado das webséries é muito amplo e deu visibilidade para pessoas que estão fora do cenário midiático tradicional. Flavia ressalta que a internet “é um campo fértil” para experimentações de narrativas e para destacar trabalhos de pequenos produtores. “Muitos artistas usam as plataformas como chamariz para conseguir trabalhos e patrocínios”. A roteirista cita o case de sucesso da influenciadora Viih Tube, participante do BBB21, que possui uma websérie com mais de 16 milhões de visualizações por episódio no YouTube.

Vale ressaltar que hoje as webséries também servem como storytelling de marcas. É o caso da empresa Volkswagen, que produziu uma série policial para mostrar seus veículos em cenas de ação. “As webséries podem ser exploradas de formas variadas e são um caminho interessante para se pensar no marketing de conteúdo com foco no consumidor”, conclui a roteirista.

Flavia discutiu sobre a evolução das séries na palestra Era uma vez na internet: criação e produção de webséries, transmitida no dia 13.abr.2021, na webinar do projeto Vem Saber, da área de pós-graduação em comunicação da Uninter. A conversa foi mediada pelo professor Clóvis Teixeira. Estudantes da instituição encontram a palestra completa no Univirtus.

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Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Reprodução websérie 2012 - Onda Zero


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