A contaminação de peixes por mercúrio e os riscos à saúde humana

Autor: Ana Paula Garcia Fernandes dos Santos

A Amazônia, famosa por sua biodiversidade exuberante e recursos naturais abundantes, é amplamente reconhecida como um tesouro de nosso planeta. Contudo, nesta região encontra-se um perigo oculto, que afeta tanto a fauna e a flora quanto as comunidades que dependem desses recursos: a contaminação de peixes amazônicos por mercúrio. Essa problemática tem despertado crescente preocupação em escala global, devido aos riscos à saúde humana decorrentes do consumo desses peixes contaminados.

Neste cenário, um estudo inédito conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) analisou a qualidade do pescado em 17 municípios de seis estados da Amazônia, revelando resultados alarmantes. Em média, 21,3% dos peixes consumidos pelos moradores da região Norte apresentaram níveis de mercúrio acima dos limites considerados seguros. Os piores índices foram observados em Roraima, onde 40% dos peixes continham concentrações desse metal pesado, acima do limite recomendado.

Na sequência, encontram-se o Acre (35,9%), seguido de Rondônia (26,1%) e Amazonas (22,5%). Embora em menor escala, o Pará (15,8%) e o Amapá (11,4%) também apresentaram índices preocupantes. Vale ressaltar que a pesquisa não abrangeu a avaliação do pescado nos outros três estados que compõem a Amazônia Legal. Esses resultados ressaltam a necessidade urgente de ações para enfrentar o problema da contaminação por mercúrio nos peixes amazônicos, visando proteger a saúde das comunidades locais e preservar a rica biodiversidade da região. É necessário também, considerar que, na nota técnica, a fundação afirma que a contaminação por mercúrio na Amazônia é, portanto, uma preocupação nacional e internacional.

O grande risco envolvido no mercúrio está em sua composição. Considerado um metal tóxico, quando liberado no meio ambiente, o mercúrio pode se transformar em metilmercúrio, uma forma altamente perigosa e facilmente absorvida por organismos vivos. Na Amazônia, a principal fonte dessa substância é a mineração de ouro, amplamente praticada em áreas próximas aos rios. O mercúrio liberado durante o processo de mineração acaba sendo transportado pelas águas dos rios, onde é convertido em metilmercúrio e, consequentemente, absorvido pelos peixes.

Quando há o consumo de peixes contaminados, o organismo pode acumular o metilmercúrio, afetando principalmente o sistema nervoso. A exposição ao mercúrio durante a gestação e nos primeiros anos de vida pode causar danos permanentes ao desenvolvimento neurológico, afetando a capacidade cognitiva e a memória, tanto em crianças quanto em adultos. Por sua vez, em adultos, pode resultar em distúrbios cognitivos, problemas de memória, danos renais e cardiovasculares. Esses riscos são agravados pelo fato de os peixes serem uma fonte essencial de alimento para as comunidades ribeirinhas, o que torna crucial a conscientização sobre os perigos da contaminação por mercúrio e a implementação de medidas preventivas, como o monitoramento dos níveis de mercúrio e a busca por alternativas alimentares saudáveis.

Diante dessa preocupante questão, é imperativo adotar medidas urgentes para enfrentar os riscos à saúde humana e preservar a rica biodiversidade da Amazônia, tais como: monitoramento contínuo dos níveis de mercúrio em peixes, conscientização das comunidades ribeirinhas, restrição da liberação de mercúrio, fortalecimento das políticas de saúde e pesquisas aprofundadas. Essas ações, coordenadas entre governos, comunidades e setor privado, são essenciais para enfrentar a problemática e garantir um futuro saudável e sustentável para as gerações presentes e futuras.

*Ana Paula Garcia Fernandes dos Santos é nutricionista, mestre em Alimentação e Nutrição e professora da Escola Superior de Saúde – UNINTER

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Autor: Ana Paula Garcia Fernandes dos Santos
Revisão Textual: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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