‘Onde há resistência, sempre há criação’

Autor: Madson Lopes - estagiário de jornalismo

Faraoh Records é uma produtora que nasceu com o objetivo de lançar artistas negros de hip-hop da grande Curitiba. Seus fundadores não imaginavam, no entanto, que o local se tornaria um espaço cultural que acolhe, inspira e fortalece a comunidade preta, enquanto capacita artistas independentes a gerenciar, com autonomia, suas próprias carreiras. 

A produtora foi fundada em 2018 pelos artistas Luan dos Santos, o Lulo, e seu sócio, Gabriel Vianna, o Interno Ego. Em 27 de agosto, Lulo participou do programa Papo Castiço, da TV Uninter, e compartilhou a história desta gravadora que se reinventa a cada revés sofrido, como, por exemplo, após uma ação de despejo que obrigou a equipe a se realocar em um espaço cedido por apoiadores.  

Foi o Rap que trouxe Lulo à cena artística. O gênero musical, que combina ritmo e poesia em batidas envolventes e letras profundamente críticas, direcionou o menino que, enquanto crescia, se descobria negro. Lulo conta que este som mudou sua forma de se posicionar diante do mundo. “O Rap me trouxe para esse universo quando eu estava em situação de muita dificuldade em me entender como pessoa preta”, disse. 

Já compondo suas canções e inserido na cena cultural da cidade, o artista criou a Faraoh Records em um estúdio cedido pelo pai, que também é músico. Ele queria usar o privilégio de crescer nesse meio para ajudar aqueles que não tinham as mesmas condições. “Poxa, eu tive essa possibilidade de ter equipamentos do tipo em casa […] e eu quero poder levar isso pra frente para que outras pessoas pretas também possam ter”, ressaltou. 

De início, a gravadora trabalhava somente na produção de lançamentos de curta duração — os famosos EPs — e gerenciava a carreira dos artistas. Mas, com o tempo, os fundadores perceberam a necessidade de ensinar seus parceiros a caminhar com as próprias pernas. Formado em administração, Lulo e sua equipe passaram a ensinar aos músicos a importância de traçar um plano de carreira, dominar a gestão financeira, o planejamento estratégico, marketing, leis de direitos autorais, o uso das redes sociais, entre outros. 

“A gente segue como um suporte no sentido de produção musical, no sentido de fornecer caminhos. Mas a gente entendeu que o artista independente tem que aprender a gerenciar sua própria carreira. Não adianta ele querer terceirizar isso, pelo menos no início”, afirmou Lulo, destacando que o conhecimento em todas as áreas da indústria musical garante maiores chances de se estabelecer no meio. 

Pensando em ampliar essa escola de formação, foi criada a Faraoh Zone, um braço da gravadora dedicado à realização de cursos gratuitos, especialmente para artistas que não tinham condições de pagar por esse conhecimento. Lulo conta que a iniciativa se estendeu para além da música e hoje oferece workshops de teatro, fotografia, trança, entre outras áreas capazes de mostrar caminhos para a geração de renda de novos artistas. 

“Um artista às vezes pode aprender a trabalhar como produtor executivo, como diretor, fotógrafo, videomaker. Então, tem um mercado gigantesco dentro da arte em que dá para explorar várias áreas pro artista poder trabalhar”, complementou. 

Pela necessidade de se reorganizar após a ordem de despejo no ano passado, atualmente o espaço vive um processo de reconstrução. Ainda assim, a produtora gerencia oito artistas. Além disso, o espaço continua servindo como local de escuta e referência para novos artistas, que podem chegar e mandar seu som na certeza, diz Lulo, de que “onde há resistência, sempre há criação”. 

Acompanhe a página do Instagram da Faraoh Records e conheça seus artistas. Assista à íntegra da entrevista de Lulo ao canal da TV Uninter no YouTube. 

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Autor: Madson Lopes - estagiário de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski


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