A mulher engordou e, ops!… o homem sumiu

 

Francieli Nowakowski – Estudante de Jornalismo

Um corpo “bom” e uma postura de servilismo parecem ser decisivos para as mulheres terem sucesso em uma relação a dois. A conclusão não se dá ao acaso, é resultado da análise das representações do masculino e do feminino na cultura cibernética, em especial no Brasil. O tema foi tratado na última edição da Revista Uninter de Comunicação, a partir da análise do blog “Testosterona: o blog do macho moderno”.

Criado em 2008, o blog em formato jornalístico tem uma média 140 mil acessos por dia, com alto nível de engajamento. Ou seja, é uma amostra significativa das representações sociais da sexualidade masculina e feminina, como observam em artigo científico a estudante Talita Ceni de Moras e o professor Gonzalo Prudkin, ambos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Leia o artigo aqui.

Considerando que a grande maioria do conteúdo publicado é com enfoque na sexualidade masculina, os pesquisadores concluíram que o blog aborda a sexualidade feminina apenas para a realização do desejo masculino. Isso fica muito bem demarcado na charge “Quatro fases do casamento”, publicada em 2014.

A charge tem quatro quadrinhos. No primeiro, a representação da mulher (e só podemos deduzir que é uma mulher porque os traços remetem a uma, visto que ela está de costas), aparece como a representação da mulher “ideal”: esbelta, sensual e servil. Sentado em um sofá, o homem a olha com expressão de satisfação e malícia.

No decorrer dos quadrinhos, o corpo da mulher vai sofrendo mudanças. Os traços se alargaram: a mulher engordou. O homem, antes satisfeito, agora aparece aborrecido. Ao chegar no último quadrinho, a representação é de uma mulher com sobrepeso, ainda ocupada com as tarefas domésticas. E o homem sumiu.

A análise do artigo conclui que a mulher é apresentada sem um rosto, sem personalidade e apenas ocupada fazendo trabalhos domésticos. A ausência do homem no último quadrinho indica que, para o “macho”, qualquer mulher pode assumir o papel que a antiga assumia.

Para os pesquisadores da UFSM, a charge analisada revela claramente o pensamento de que o corpo feminino é o único fator determinante para a relação ter sucesso, já que, à medida que o corpo e as roupas dela mudam, e a atitude continua a mesma, o homem vai ficando descontente (como dá para observar pela sua expressão), até que vai embora.

O estudo propõe “sexo” e “gênero” como conceitos distintos. O primeiro é uma construção social desde a infância, ou seja, provém de sua criação e educação. Já o gênero pode ser reorientado através da socialização a que os sujeitos são submetidos. Contudo, o blog determina sexo como gênero e a heterossexualidade como normal, e qualquer coisa que fuja disso é errado.

Edição: Mauri König

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