Violência contra crianças e adolescentes cresce na pandemia

Autor: Milena Souza - Estagiária de Jornalismo

O isolamento social tem aumentado a exposição de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, levando ao aumento da violência nesse período de pandemia. O agravamento do problema se dá pelo distanciamento das crianças do seu convívio social e escolar. Por isso, medidas protetivas o público infantojuvenil podem partir da comunidade, através do olhar atento e da denúncia de casos de violência.

Disque 100, serviço do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, registrou 95.247 denúncias de violência contra crianças apenas em 2020, aumento de 9% se comparado às 86.800 denúncias de 2019, antes da pandemia. Em maio de 2020, relatório da organização não governamental World Vision International já estimava que 85 milhões de crianças e adolescentes entre 2 e 17 anos poderiam se tornar vítimas de violência física, emocional e sexual nos três meses seguintes em todo o planeta.

“À medida que o coronavírus progride, milhões de pessoas se refugiam em suas casas para se proteger. Infelizmente, a casa não é um lugar seguro para todos, pois muitos membros da família precisam compartilhar esse espaço com a pessoa que os abusa. Escolas e centros comunitários não podem proteger as crianças como costumavam nessas circunstâncias. Como resultado, nosso relatório mostra um aumento alarmante nos casos de abuso infantil a partir das medidas de isolamento social”, afirma Andrew Morley, presidente do conselho da World Vision International, em trecho do relatório traduzido pela Agência Brasil.

Mais de 70% dos crimes de abuso sexual contra crianças e adolescentes registrados pelo Disque 100 foram cometidos na casa das vítimas, no ambiente familiar, pontuou o deputado federal Roberto Alves (Republicanos-SP) ao propor, em maio, uma audiência pública na Câmara dos Deputados para debater o tema do abuso sexual infantil e a família.

O assunto também foi debatido no programa Fala Prof, exibido no dia 06.07.2021 via canal do YouTube da Rádio Uninter. A live Violência contra crianças e adolescentes durante a pandemia teve como participantes as professoras Talita Cabral e Cleci Albiero, que receberam como convidado o assistente social Márcio Antunes. “Temos uma série de registros do aumento de violência contra crianças e adolescentes na pandemia. A nossa sociedade ainda é muito permissiva em relação à violência, desde a domiciliar até outras formas de que vão construindo essa realidade”, afirma Antunes.

Para o assistente social, muitas das crianças e adolescentes que sofrem agressões todos os dias são negligenciadas. Ele ainda afirma que não é só a violência física que causa danos, existem outras formas de violência a que precisamos ficar atentos, como a violência verbal, sexual e psicológica. “A criança quando chega nos serviços públicos precisa ser observada com atenção. Todos os profissionais envolvidos com as políticas públicas precisam ter esse olhar fixo e escuta atenta”, diz. Ele ainda ressalta que a escuta deve ser feita por um profissional capacitado, que faça a criança se sentir confortável.

Por não estarem frequentando a escola, muitas crianças perderam um espaço de proteção. “A escola é um espaço muito importante na notificação da violência. E agora, sem as escolas, é preciso recorrer a outros canais de notificação, através dos atendimentos de saúde, os conselhos tutelares com a escuta especializada, acolhendo a criança”, ressalta. Antunes salienta a importância das instituições e dos profissionais na proteção das crianças. “Exige preparo das equipes e olhar atento de todas as pessoas envolvidas na proteção da criança e do adolescente, pra que se possa criar um fluxo de proteção”.

Na pandemia houve um aumento da exploração sexual por meio das redes sociais e dos ambientes de jogos online, por isso é importante a família cuidar com o que a criança está consumindo, acompanhar que tipo de informação está sendo acessada. Cabe aos pais ter essa atenção. Para concluir, o assistente social destaca a importância da especialização dos profissionais que atuam com o público infantil. Para fazer um bom atendimento é necessário ter conhecimento prévio da denúncia, escolher um ambiente seguro pra que a criança se sinta acolhida e não direcionar as questões na hora da entrevista.

“Toda criança que é acolhida recebe uma medida protetiva do órgão responsável, como o conselho tutelar. Lá eles verificam se vai precisar de acolhimento psicológico ou outras medidas. É importante que os profissionais se especializem na área, estudem o estatuto da criança e do adolescente. Os conselhos tutelares são de extrema importância, pois abrigam profissionais habilitados para aplicar as medidas necessárias para os pais, para as crianças, e sabem como agir em cada situação”, conclui.

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Autor: Milena Souza - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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