Técnicas fitoterápicas milenares podem ser tão eficazes quanto a medicina tradicional

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

Durante milênios as doenças foram tratadas quase que exclusivamente com base em produtos naturais, disponíveis na flora. A partir do século XIX, começaram a ser desenvolvidos e fabricados medicamentos de origem sintética e semissintética, mas nas últimas duas décadas, especialmente, as pessoas voltaram a buscar alternativas em remédios e alimentos mais naturais. Hoje, essa prática é conhecida como fitoterapia.

“O uso de plantas medicinais vem desde os primórdios da humanidade, desde os períodos pré-históricos. Nos documentos históricos, via-se lá nas cavernas que os homens na época já tinham desenhos que traziam esse uso de plantas e o conhecimento empírico”, conta o professor Vinícius Bednarczuk, coordenador dos cursos de Farmácia e Práticas Integrativas e Complementares da Uninter.

Esse entendimento experimental da utilização das plantas veio, muitas vezes, antes mesmo da ingestão delas pelos homens das cavernas. Eles observavam os animais e o que ingeriam. Quando passavam mal, já sabiam que não poderiam utilizar aquela determinada espécie. Esses conhecimentos foram passados de geração em geração, até os dias de hoje. Sempre há um familiar ou pessoa próxima repassando receitas caseiras para a cura de alguma doença.

Com estudo aprofundado destes recursos e a realização de pesquisas para o desenvolvimento de novos produtos com base neles, os fitoterápicos começam a receber o mesmo tratamento que outros medicamentos. Ainda que sejam naturais, o controle de qualidade que os envolve, os procedimentos, os estudos em humanos acontecem da mesma forma que com os remédios tradicionais. Além disso, eles são tão relevantes que podem caracterizar a formação cultural e identidade dos povos.

“No Brasil, o mercado de medicamentos é 96% de sintéticos e 4% de fitoterápicos. A Alemanha é praticamente o contrário, 93% de medicamentos fitoterápicos para 7% de sintéticos. É a busca de você trocar, trazer esse recurso natural. O Brasil tem muito recurso para a gente poder utilizar da nossa flora nacional também”, afirma o profissional.

Um desafio para o aumento deste uso é o conhecimento das plantas por profissionais da saúde e até mesmo pela população. As prescrições deveriam ser feitas por médicos, mas muitos não conhecem os reais benefícios e como funcionam as plantas medicinais. Assim como, muitas vezes, as pessoas acreditam no dito popular de que “se é natural, não faz mal”. Mas isso não é uma verdade.

“Tem diversas plantas que se a gente entrar em contato, pode provocar um edema, um inchaço, levar à asfixia”, pontua Vinícius. Mesmo aquelas indicadas, se misturadas com suas diversas substâncias químicas de maneira arbitrária, podem causar graves problemas de saúde.

As normas reguladoras são um dos fatores que também dificultam o desenvolvimento de novos produtos. Vinícius afirma que algumas empresas estrangeiras vêm até o Brasil para pegar os recursos naturais aqui existentes e patentear fora do país, pois há uma grande dificuldade para conseguir patentes em solo brasileiro.

“Se eu consigo isolar uma substância química dentro da planta e essa substância química tem um potencial contra câncer, por exemplo, eu não posso patentear essa substância. Eu sou obrigado a fazer uma modificação química nela, porque não fui eu que inventei, eu tirei da planta, foi a planta que inventou, teoricamente. Mesmo que eu tenha descoberto e tenha feito a utilização dela, tem alguns empecilhos dentro da nossa legislação que acabam dificultando essa parte da pesquisa e colocar no mercado novos produtos”, explica.

Outra questão é que até o momento apenas 20% da flora brasileira foi estudada, portanto, há muito que pode ainda ser explorado e não acontece, principalmente, por falta de incentivo. Ele diz que há uma escassez de recursos destinados a pesquisas. Muitas delas, com resultados promissores, estão em pausa por causa disso. Para ele, é necessária uma união dos estudos acadêmicos com a indústria.

“Não é um ramo de trabalho pequeno. Ele envolve desde produtores, desde fazendas que vão cultivar essas plantas, até a parte do processamento, a parte da elaboração de um extrato vegetal e o controle de qualidade”, completa.

O pesquisador cita a cidade de Toledo (PR) como um dos principais polos, pois é um município que incentiva os agricultores a cultivarem plantas medicinais. Eles têm uma farmácia própria de medicamentos fitoterápicos e conseguem fornecer para a população. Além de treinar médicos, dentistas, farmacêuticos, enfermeiros e outros profissionais que podem prescrever ou receitar seu uso. Com isto, perceberam o potencial dos medicamentos, quando utilizados de forma correta, trazendo a recuperação da saúde.

Os profissionais que se formam no curso de Práticas Integrativas e Complementares também têm o conhecimento de tratamentos fitoterápicos, mas é importante cuidado. Alguns remédios são tarjados e, nestes casos, só podem ser adquiridos com a prescrição de algum médico ou dentista. O conhecimento correto também é fundamental em casos de contraindicação. Por exemplo, mesmo que sejam naturais, o uso de determinadas plantas ou de uma mistura delas pode ser prejudicial para gestantes, podendo causar até mesmo um aborto.

Segundo Vinícius, além da saúde, as plantas medicinais colaboram com a parte ambiental. Muitas plantas utilizadas no uso corriqueiro são provenientes de exploração ilegal. “A gente tem que cuidar muito dos nossos recursos, da nossa flora, porque se mal utilizada ela vai entrar em extinção. É o caso do xaxim, que entrou em extinção para fazer vaso”.

“Usem a fitoterapia como um recurso seguro. Procurem qual é a indicação, um profissional que entenda para que serve determinada planta, determinado medicamento, porque, sim, é natural, mas faz mal [se mal utilizado]. A gente tem que cuidar com a forma da utilização desses recursos e a gente tem que utilizar esses recursos, porque são recursos muito ricos em substâncias que podem trazer pontos positivos”, finaliza.

O professor Vinícius abordou esses e outros pontos relacionados ao assunto na edição do programa Educa Brasil sobre O uso tradicional da fitoterapia, apresentado pela professora Dinamara Machado, diretora da Escola Superior de Educação da Uninter. A transmissão, que aconteceu ao vivo, pode ser acessada pelo canal do Youtube da ESE.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pixabay e reprodução do Facebook


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