Tanque em Brasília: distração ou novo golpe?

Autor: Luís Fernando Lopes*

Ainda que seja negada a relação direta do desfile de blindados em Brasília com a votação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) do voto impresso, a repercussão dos acontecimentos, sobretudo nas redes sociais, demonstra a necessidade clara do governo de mostrar poder quando a derrota para o que deseja está iminente. O esforço é para manter os apoiadores atiçados, ainda que isso signifique ameaçar a democracia e piorar muito a imagem e a situação política do país que já estão em ruínas.

Parece que erraram aqueles que manifestaram não existir mais a possibilidade de golpes com tanques nas ruas. Os tanques desfilam e apesar das controvérsias, a ameaça à democracia ficou evidente. Além da tentativa explícita de mudar as regras do jogo, a PEC do voto impresso junto com outros projetos como o do “distritão” expressam o esforço deliberado de políticos para se manterem no poder, a despeito de suas péssimas atuações e dos meios utilizados para atingir o que buscam.

Para além da atenção aos espetáculos diários que ocorrem no palco político e podem inclusive se tratar de apenas de distrações planejadas com objetivos específicos, é preciso dedicar atenção aos interesses do “poder invisível” que apoia a eleição e a permanência de alguns políticos para que seus privilégios estejam garantidos, independente das consequências desastrosas para o conjunto da nação.

Em um momento no qual o mundo chama atenção para os riscos iminentes do aquecimento global, o Brasil segue desmatando e incentivando uma forma de uso de energia altamente poluidora, como a energia por carvão. Para que essa “destruição lucrativa” continue sem barreiras ou possibilidades de punição, conta-se com um garantido apoio político no centro do poder nacional. E o desejo de continuidade no poder é tanto que torna possível a mobilização de tanques e soldados que desfilam pela Pátria Amada. Afinal, o desfile de blindados ocorrer no mesmo dia da votação da PEC do voto impresso foi apenas uma trágica coincidência.

Quais serão os próximos capítulos dessa tragicomédia? Teremos novas distrações? Ou seria mais adequado chamar de novas ameaças de golpe?  A realidade da maioria do povo brasileiro, por sua vez, clama por mudanças concretas há tempos propaladas em discursos eleitoreiros, mas jamais completamente efetivadas, seja pela incompetência ou pela maldade de alguns nossos representantes políticos e seus financiadores.

 * Luís Fernando Lopes é doutor em Educação. Professor da Área de Humanidades da Uninter.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Luís Fernando Lopes*
Créditos do Fotógrafo: Reprodução Twitter


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *