Quando a derrota é necessária: contradições na pátria de chuteiras

Autor: Luís Fernando Lopes*

Depois de uma Copa América repleta de controvérsias, o desfecho foi marcado pela derrota da seleção do país, que a contragosto de boa parte da população sediou a competição. O título acabou ficando com o maior rival sul-americano do Brasil e quiçá mundialmente, a Argentina.

Além do futebol tímido de nossa seleção, que deixou muito a desejar, o momento vivido pela nação foi praticamente esquecido pela equipe. O máximo que se fez foi um minuto de silêncio antes do início dos jogos. Se em um primeiro momento antes do evento alguns jogadores chegaram a se manifestar contra a realização da competição no Brasil, após o início parece que os problemas sociais, políticos e econômicos do país foram completamente esquecidos. Afinal somos a pátria de chuteiras.

Se as derrotas podem nos ensinar como afirma a sabedoria popular, talvez essa derrota na final de uma Copa América com pouca expressão e falta de interesse de muitos brasileiros possa ser um sinal para que voltemos nossa atenção e esforços para as necessidades realmente urgentes do país.

Se a intenção de alguns era desviar o foco e fazer da Copa América um evento político para proporcionar um esquecimento dos problemas e fazer de conta que está tudo “normal”, o objetivo parece que não foi totalmente alcançado. Denúncias e suspeitas gravíssimas de corrupção que se acumulam, a vacinação caminha a passos lentos com paradas intermitentes por falta de doses. Nesse contexto uma grande parte dos cidadãos da pátria de chuteiras chegou a torcer contra a própria seleção numa final em benefício do seu maior rival.

No mínimo temos uma situação de profunda insatisfação, e ainda que alguns queiram negar, seja pelo desinteresse ou por meio de manifestações diretas, uma parte considerável do povo se manifesta. É preciso cautela para evitar juízos ligeiros e equivocados, mas os problemas do país estão aí e clamam por respostas e soluções. Certamente não serão eventos esportivos, sejamos vitoriosos ou não, que os resolverão.

Assim, o pouco interesse por parte do público junto com uma participação pouco expressiva de nossa seleção parece indicar que precisamos dedicar atenção e esforços para o que realmente importa em um momento tão complexo como este que vivemos. O futebol e a seleção não deixarão de ter sua importância para o país. Mas por que um povo irá se importar com uma seleção que parece não se importar com seu povo?

* Luís Fernando Lopes é mestre e doutor em Educação, professor da área de Humanidades da Uninter.

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Autor: Luís Fernando Lopes*
Créditos do Fotógrafo: Copa América/Divulgação


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