Publicação promove diálogo entre Letras e História com a leitura dos tempos

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

Docentes e acadêmicos dos cursos de Letras e História da Uninter reuniram reflexões e diferentes olhares sobre diversas temáticas dessas áreas em uma única publicação, o Caderno Intersaberes de Linguagens e Sociedade, intitulado Das leituras dos tempos aos mundos das leituras: diálogos entre Letras e História (clique no link para baixar de graça).

O dossiê, organizado pela diretora da Escola Superior de Educação (ESE), Dinamara Machado, pela coordenadora de área Deisily de Quadros e pelos professores Adriano Lima, Cleber Cabral e Mariana Trevisan, é composto por 13 artigos, resultado de pesquisas para o trabalho de conclusão de curso (TCC) dos autores.

Para debater sobre as produções, os professores realizaram o 7º Seminário Multidisciplinar, apresentado por Cleber e Mariana, nos dias 24 e 25.mai.2021. As lives, com exposição dos mais variados assuntos, desde o ensino de história, tecnologias digitais, sociolinguística, perspectivas históricas, educação de jovens e adultos, contabilizam mais de 1,3 mil acessos no Facebook e no Youtube.

“É com muita alegria que a gente comemora esse momento, sabendo que temos um caderno recheado de bons textos, boas pesquisas”, afirma a coordenadora Deisily. “São trabalhos que trazem diálogos muito interdisciplinares, a gente nunca fala sozinho dentro de um curso ou uma área. Serve para os mais diversos cursos de licenciatura, pensando também em questões de bacharelado ou segunda licenciatura”, complementa a professora Mariana.

Sidney Lara, gestor do departamento de egressos, ressalta a importância da formação continuada, principalmente na área de pesquisa. “A instituição só é de valor quando valoriza e traz para dentro esses debates, os depoimentos de alunos que realmente estão aqui colhendo um trabalho de anos, desenvolvido por esses brilhantes mestres. É uma preocupação da instituição, dos professores, que essa formação agregue no mercado de trabalho”.

Mundo das leituras: linguagem e ensino de língua portuguesa

Na primeira noite de evento, três egressas do curso de Letras apresentaram suas pesquisas e debateram os temas. Daiane Rosa, que escreveu o artigo O gênero textual meme no ensino de língua portuguesa, conta que encontrou o desafio de ensinar na era pós-digital, já que os profissionais acabam disputando com tantos outros atrativos dos eletrônicos. Para Daiane, o professor precisa se apropriar e utilizar as ferramentas disponíveis em aula, para unir forças.

Ao mesmo tempo, lembra da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que apresenta a necessidade de letramento digital, pois os estudantes precisam não só saber utilizar, mas também como se portar no ambiente virtual. Assim, a egressa tinha como objetivo contribuir com o desenvolvimento das práticas de linguagens digitais da competência específica 7 da área de linguagens e suas tecnologias para o ensino médio, por meio de uma sequência didática com o gênero meme.

“Muito legal ter o trabalho publicado na revista. Fica aqui a dica para quem fizer o TCC, o artigo, sempre colocar para ser publicado, porque já está feito, você já teve todo o trabalho de pesquisa, isso só valoriza o que fez. Pode ser que não entre, nem sempre a gente recebe um sim, mas é muito gratificante quando a gente consegue”, comenta Daiane.

Paula Morato leciona a disciplina de língua portuguesa em cursos técnicos e percebeu que muitos alunos não têm prática e alguns sequer conhecem os gêneros textuais. Por isso, decidiu realizar o artigo sobre A ressignificação dos gêneros textuais no ensino técnico: relato de experiência. “Eu acredito que essas experiências precisam ser trocadas para que a gente possa utilizá-las em sala de aula com os nossos alunos e, inclusive, dando o nosso toque”, afirma.

A egressa Daniela Avancini, professora há 21 anos, abordou a aquisição da linguagem e a memória operacional de alunos que têm transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) no artigo Processamento da linguagem na criança e adolescente portadores de TDAH. A docente conta que a pesquisa partiu de uma curiosidade que sempre teve e também para a conscientização da importância do diagnóstico precoce.

Além disso, a própria profissional convive com TDAH e passa por essas questões desde pequena. “Tive muita dificuldade, tanto que para fazer a faculdade de Letras foi bem difícil. A equipe da Uninter foi maravilhosa, me ajudou muito”, lembra.

Daniela pontua que as dificuldades de aprendizagem e relações sociais dos alunos, sem direcionamento médico, educacional e emocional, deixam os alunos “perdidos”, o que é transferido para a família e os educadores. “Os pais e profissionais da educação costumam apresentar dificuldades ao lidar com essas crianças, porque não têm conhecimento desse transtorno. A justificativa aqui é investigar a importância de se realizar esse diagnóstico precocemente. Fazendo isso, crianças portadoras desse transtorno vão ter as dificuldades desse aprendizado atendidas”.

A gestora Daniela Henschel, do polo de Joinville (SC), diz que acompanhou toda a jornada e evolução acadêmica de Daniela Avancini, “uma pessoa maravilhosa, fantástica, dedicadíssima” ao trabalho, que “construiu e vem pesquisando há bastante tempo”. A profissional também comenta que a equipe do polo busca uma relação de proximidades com os estudantes e estimula pesquisas que envolvam toda a comunidade.

“Fico muito orgulhosa e muito feliz quando os nossos alunos começam a produzir, de fato, conteúdos científicos. Saem dessa esfera do senso comum, do achismo, começam a produzir artigos, conteúdos de qualidade. O nosso papel aqui da ponta é entregar o melhor método que existe, que é o que a Uninter entrega aos seus alunos, e fazer com que entendam isso de forma facilitada, que consigam digerir esse conhecimento e colocar em prática”, conclui.

As exposições e debates sobre as produções do primeiro dia evento seguem disponíveis para livre acesso.

Leituras dos tempos: olhares historiográficos

Na segunda noite de debate, os professores Cleber Cabral e Mariana Trevisan apresentaram e mediaram o bate-papo de quatro egressos do curso de História da Uninter, que também produziram artigos encontrados no Caderno Intersaberes de Linguagens e Sociedade. Mariana ressalta que são “questões que poderiam ser pensadas para qualquer curso, inclusive os de exatas, com relação a metodologias de ensino para quem faz licenciatura ou temas diversos. Temas bastante interessantes e que dá para pensar bastante coisa”.

Henrique Gomes já possuía graduação em comunicação social e também trabalhava com música quando decidiu ingressar para a área de História, a partir do incentivo de amigos e pela multidisciplinaridade que possui com outros conhecimentos. Dentro da docência, percebeu que havia sempre um questionamento vindo dele mesmo e também dos alunos para os professores, sobre o porquê estudar a história. O egresso diz que há muito do utilitarismo de querer sempre uma razão para fazer ou estudar algo. O que é positivo, segundo ele, porque caminha para o campo filosófico.

Pensando nisso, o então acadêmico produziu o artigo “Para que serve a História?” O lugar da História na educação básica. “Essa noção de trazer a história mais como abordagem crítica e próxima das pessoas, como, por exemplo, saber fatos ou curiosidades sobre o próprio bairro onde a escola está inserida. Às vezes, as crianças vêm um prédio e querem saber o porquê aquela arquitetura é diferente de uma outra. Eu tinha essas questões e quis usar esse problema de pesquisa como uma resposta para os estudantes e algo para mim também. Entendi que trazendo isso no artigo era uma forma de iniciar esse processo”, explica.

Bruno Bonaldi tinha dúvidas sobre o porquê de os jogos digitais, diferentemente de outras mídias de massa, não serem comumente utilizado como fonte de pesquisa histórica. No artigo Jogos digitais: fontes para análise de representação/representatividade femininas na contemporaneidade, buscou apresentar a relevância dos jogos nesse meio.

O egresso partiu de dados de 2018 que apontavam que 2,7 bilhões de pessoas jogam no mundo, sendo 66% da população brasileira e as mulheres a são maioria entre os gamers, com 53% de participação. Logo, a luta das mulheres por espaço acontece no âmbito social e não é diferente no mundo dos jogos.

“É um assunto que sempre será debatido e pesquisado. Já que foi explicado a representação feminina em filmes, como foi evoluindo, ganhando espaço e quebrando velhos tabus, nos jogos não é diferente. Essa transformação ocorre atualmente e sempre vai ocorrer, sempre haverá assunto para ser pesquisado”, salienta.

Da Idade Média à modernidade

Eliane Morano realizou uma pesquisa de interdisciplinaridade com a música, a arte e as imagens do período medieval. Através da pesquisa As representações do Diabo e do mal nas Cantigas de Santa Maria do Rei Afonso X o Sábio (1252-1284), a egressa quis compreender as motivações políticas e religioso-culturais do rei Afonso X para a criação das cantigas, analisar de que forma o culto mariano e a devoção do rei à Maria influenciaram a produção dos versos, apreender como as cantigas constroem representações referentes à atuação da doutrina mariana perante o pecado e o mal encarnado na figura do demônio.

“Eu sempre tive muita curiosidade, sempre gostei muito de estudar as tradições orais. A oralidade, a questão do medo que era colocado nas pessoas no período medieval. Nós estamos falando de um período em que a religião católica, cristã, era predominante na Europa. Era um povo extremamente religioso”, pontua.

A acadêmica encontrou 427 cantigas, separou 23 e selecionou 11 em que o diabo se apresentava na forma de animais, na cor negra e na imagem do judeu, sempre ligado ao mal, e das mulheres e dos mouros, tentados pelo mal. Eliane ainda conta que as motivações iniciais para o artigo foram pessoais, já que nasceu em uma família extremamente católica e as limitações impostas sempre faziam referência à figura estudada.

“O meio que a gente nasce interfere muito nas nossas escolhas e eu tinha muito medo na infância. Realmente era algo que me intrigava muito, porque nós somos limitados por algo que a gente não conhece, não enxerga, e na sociedade, principalmente nós mulheres, somos muito julgadas e controladas por esse ser imaginário. Fui considerada uma adolescente rebelde, muitos questionamentos que as pessoas, principalmente a família, não conseguia explicar. Quando entrei na faculdade, me deparei com temas sensacionais e este sobre o imaginário, o diabo, aflorou novamente. Por que não quebrar esses medos, tabus, que a gente carrega na vida?”, finaliza.

Jaqueline Trindade participou da publicação com o artigo São Paulo, a “cosmópolis fascinante”: a cidade dos “condenados ao moderno”. A egressa é atraída pela temática da modernização, principalmente no campo das artes, da política, da sociedade. No artigo, procurou analisar a originalidade dos avanços socioculturais paulistanos em meados do século 20, década de 1950, relacionando ao cosmopolitismo, a internacionalização nas artes e a urbanização.

“O Brasil nesse período do segundo pós-guerra teve uma participação enorme nessa questão da modernização, sobretudo São Paulo. Ali foi um momento que muitas ideias, debates. É bastante atual, porque muitas coisas que nós estudamos hoje ou apreciamos, por exemplo as bienais, as arte de forma geral, se estabeleceram nesse momento. É um período de transformação e rupturas, de crises, bastante tenso, onde as ideias estavam fervilhantes, havia a participação das universidades, discussões acadêmicas. O Brasil ali, propriamente em São Paulo, se estabeleceu de forma crítica e bastante profunda e desenraizadora”, conclui.

Henrique Pereira, gestor do polo de São João Del Rei (MG), onde Jaqueline se formou, conta que nos 13 anos de funcionamento da unidade, já são quase 600 profissionais formados em graduação e mais de 700 especializados em pós-graduação. “É com muito orgulho que a gente vê, dentre tantos esses outros que cresceram profissionalmente, essa conquista. A gente se sente feliz e fica honrado e bem representado pela Jaqueline”, garante.

O gestor ainda lembra que, apesar de o ensino ser à distância, a equipe não pode estar distante dos estudantes. “Acho bem interessante a gente desenvolver aqui do lado do polo esse acolhimento, dentro de um projeto do Centro Universitário Uninter que é maravilhoso, em que as pessoas têm acesso a cursos de qualidade, informação, materiais de ponta. A gente fica honrado também de participar dessa construção da vida das pessoas e do crescimento de cada um”.

Sidney Lara afirma que “a pesquisa é superimportante, o conhecimento, o desenvolvimento se torna prazeroso e muito mais quando se tem notáveis. Louvar a esses egressos pela qualidade do trabalho, porque realmente são as grandes joias dessa instituição. Não parem, procurem cursos de pós-graduação, vão para seus mestrados, doutorados. A diversidade dos temas é muito importante, então fico muito feliz”, finaliza.

As apresentações e debates da segunda noite de evento podem ser acessadas neste link.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Alfonso X de Castilla/Monasterio-Biblioteca-Coleccion. San Lorenzo del Escorial, Madrid: España


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