Pena que as rosas não falam

Autor: Igor Ceccatto - Estagiário de Jornalismo

Agenor de Oliveira, o famoso “Cartola”, nascido em 1908, ficou conhecido por suas belas canções repletas de saudosismo. O poeta e sambista bebeu na fonte da poesia romântica de Castro Alves (1847-1871) e no Movimento Literário do Parnasianismo, oriundo da França, que buscava resgatar a beleza da cultura clássica. Vindo de família humilde e expulso de casa ainda jovem, passaria boa parte da sua vida na cena boêmia do Rio de Janeiro.

Segundo a professora Thays Carvalho, pode-se dizer que ele buscava uma escrita erudita para suas músicas, aproximando-se das fontes literárias. Exemplo disso é a composição “As rosas não falam”, uma das mais notáveis do cantor e compositor.

“Cartola representa um samba fundador de nossa ancestralidade e do início do século, algo raramente encontrado nos dias de hoje. Misturava sua vivência e o lirismo com grande eloquência, visto que vinha de um contexto histórico de total discriminação e acesso deficitário à educação”, explica André Luiz Cavazzani.

A conversa entre os dois professores da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter, mediada pela professora Deisily de Quadros, aconteceu na 10 º edição do Clube de Leitura “E agora José?”, intitulada A poesia do Samba. A transmissão foi feita na página do Facebook do curso de Linguagens e Sociedade da Uninter, no dia 16.09.2020 (para conferir o conteúdo na íntegra, acesse aqui).

O batuque soou tão alto que criou o samba

O samba nasce na Bahia, fruto dos batuques trazidos pelos escravos africanos que se misturaram com ritmos europeus, como a valsa e o minueto. Mas foi no Rio de Janeiro do século 19 que o ritmo se desenvolveu, e acabou se tornando um grande elemento de representação em nossa cultura.

Segundo Thays, o preconceito e a violência contra negros eram comuns na primeira metade do século 20, mesmo após a abolição da escravatura (1884). Os sambistas acabavam tendo que tocar e cantar escondidos e, na maioria das vezes, as rodas de samba estavam relacionadas às religiões de raízes africanas (Candomblé e Umbanda).

Mas essas barreiras impostas pela sociedade não foram o bastante para impedir a evolução do samba ao longo dos anos. Foi na virada do século 19 para o 20 que o samba passou a ser considerado como um ritmo propriamente dito, viajando dos subúrbios aos morros do Rio de Janeiro, com representantes como João da Baiana (1887-1974) e Joaquim Maria dos Santos, o Donga (1890-1974). Os dois gravaram respectivamente  “Batuque na Cozinha” e “Pelo Telefone”, duas das primeiras canções a serem gravadas no Brasil.

A partir do início da década de 1930, o Samba passou a alcançar a classe média, “a partir de sua inserção na indústria do Rádio, sendo inclusive muito usado por Getúlio Vargas em sua política de ditadura”, explica André.

Neste contexto surgiram os grandes nomes como Noel Rosa (1910-1937) e Cartola (1908-1980), que foi um dos criadores da “Estação Primeira de Mangueira”, uma das escolas mais representativas do carnaval do Rio de Janeiro.

O samba e suas diferentes formas

Para ir um pouco mais a fundo na história do samba, precisamos conceituar seus subgêneros. Conforme explica Thays, são eles:

Samba de roda – Se refere às canções semelhantes à capoeira, sendo considerado o início do samba propriamente dito, com um ritmo mais lento e acompanhado por palmas.

Samba de breque – Como o nome já diz, é acompanhado de paradinhas durante a canção, e uma história ou frase é falada pelo cantor nesse momento.

Samba de partido-alto – Nesta definição, os sambistas são considerados como repentistas e as canções são feitas a partir do improviso e da rima.

Samba enredo – Popularmente conhecido pelos desfiles das escolas de samba no carnaval, com ritmo alegre e contagiante, com uma descrição rica de detalhes.

Samba canção – Estilo em que Cartola e Noel Rosa estavam inseridos, com batidas lentas, cadenciadas, que lembra o ritmo do bolero.

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Autor: Igor Ceccatto - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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