Pedagogia sistêmica ultrapassa os muros das escolas

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

A pedagogia deixou de ser uma área “pronta e acabada”, que segue sempre os mesmos procedimentos tradicionais. Na atualização, com a vertente sistêmica, se tornou constante, renovável, plástica e se move por todas as áreas. Ultrapassa os muros das escolas e agora também é introduzida em todos os âmbitos da vida de professores e estudantes, principalmente no aspecto social e familiar. Todas as áreas de conhecimentos são alcançadas e aceitas para ampliar as opções e trabalhar mais a fundo as questões observadas.

Mara Meneghel, mestre em pedagogia sistêmica e doutora em ciências da educação pela Universidade de Barcelona (UB), explica que isso não faz com que a pedagogia tradicional fique para trás. Na verdade, o modo convencional de cada país é contemplado junto às novas práticas do momento atual. “Vai trabalhar todos os eixos educativos, sociais e familiares”, afirma.

Há cerca de 12 anos, através dos estudos e especializações na área, a profissional desenvolveu o projeto Arteterapia Integrativa Sistêmica, que além da pedagogia sistêmica também contempla a arteterapia e a psicomotricidade. A partir disso, pôde entrar em instituições de ensino e ampliar a atuação pedagógica “em todos os âmbitos de trabalho, tanto dentro da escola como na família”.

De acordo com Mara, é integrativa por se instalar no paradigma fenomenológico e sistêmico. No primeiro, “porque vão ocorrer coisas dentro desta fenomenologia que está envolvendo o social e o familiar”. E sistêmica “porque vai abraçar, recolher todas as áreas de trabalho e trazer para nós usarmos adequadamente”. Ainda garante que “a pedagogia sistêmica é muito importante”, pois trabalha essas áreas e faz com que o professorado se encontre no trabalho e se sinta dentro do sistema, para “utilizar e ter acesso a todas as áreas de ensino que precisar”.

No dia 15.jul.2021, a educadora pôde expor mais do trabalho desenvolvido e contar experiências que vem obtendo nos últimos anos, em um evento internacional, realizado pela Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter. A live, apresentada pela diretora da ESE, Dinamara Machado, e a coordenadora do Serviço de Inclusão aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (SIANEE), Leomar Marchesini, foi transmitida ao vivo, por meio da página de Educação e canal da ESE. Armando Kolbe Júnior, Marco Arriens e Rosicler Paixão também participaram do bate-papo e sanaram dúvidas com a especialista.

Pedagogia sistêmica x Arteterapia integrativa sistêmica

Esse novo modelo pedagógico está fundamentado nas constelações familiares, criada pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger. Através dela, o profissional busca entender o porquê de as escolas ficarem estancadas e não avançarem. Está vinculada na ordem dos diferentes sistemas, como o familiar, o social, a cidade, o país onde vive o indivíduo, por exemplo.

“Todos esses sistemas interatuando, formaram a pedagogia sistêmica. É um novo paradigma, muito necessário. Utilizando esse trabalho, a gente atinge os resultados mais imediatos em todas as áreas, não só na educação como na família e na parte acadêmica dos nossos futuros professores, na parte formativa”, salienta Mara, que também é mestre em constelação familiar.

Dinamara explica que, ao atuar com o novo modelo pedagógico, o profissional precisa desenvolver um olhar de investigador. “Não para falar o que está certo ou errado, mas para primeiro entender e depois tentar ajudar” a criança, o jovem ou o adulto. Assim, o indivíduo consegue passar pelos processos da educação e da sociedade “sem tanto sofrimento”. Segundo ela, “ao fazer educação ou estar nessa sociedade, nós não podemos esquecer que somos frutos de tudo e somos seres sociais e emocionais”.

Com a junção da pedagogia sistêmica, arteterapia e psicomotricidade, Mara busca trabalhar com todas as partes das quais os seres humanos são feitos: corpo, mente e alma. Ao entender a ordem e a sistêmica, para trabalhar as três áreas juntas, encontra a arteterapia transdisciplinar, “que passeia por todas as artes e para onde a pessoa está cômoda”. Quando encontram um meio confortável de se expressar, “aquilo que tinha no coração, solidificado, se libera, não tem mais”, afirma.

No caso de estudantes com necessidades especiais, a especialista diz que o processo acontece sempre através da família, a começar pela orientação e suporte aos pais. “Sem essa ajuda familiar, nosso trabalho é quase nulo. Cresce, mas de uma forma muito lenta, quase que imperceptível. Tem que começar pela família, porque a pedagogia sistêmica é a do amor. Os pais não precisam fazer um curso largo e um entendimento absoluto, não, porque cada um tem o seu lugar para poder educar melhor. Estes pais vão respeitar o que a escola propõe e a escola vai respeitar a atual realidade de cada família”.

Constelação familiar: como funciona e de que forma colabora?

A constelação familiar está dentro das Práticas Integrativas Complementares (PICs) e hoje, no Brasil, já é ofertada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em algumas regiões. Em uma sessão da terapia, um grupo de pessoas são reunidos em um determinado espaço para trabalhar as emoções da família do constelado, “que muitas vezes não sabe que em algum momento não esteve bem”, conta Mara.

Cada familiar é representado por uma pessoa presente, e esta passa por sentimentos da pessoa constelada. “Não é magia nem nada, o próprio campo energético vai trazer essa imagem mental e emocional para a pessoa sentir, não importa o tempo que tenha passado e o momento que isso ocorreu”, explica.

O que é resgatado através da constelação familiar dentro da educação, segundo Dinamara, é o estabelecimento de que a criança ou o jovem “vai para a escola, mas retorna para o seio social”. “Vivemos em uma sociedade muito plural e é muito importante ser. Somos seres humanos diferentes e o coração não escolhe morada, simplesmente está. Porque este corpo que está aqui, tem uma questão maior”.

Com um mundo cada vez mais diverso, Mara ressalta que todos os modelos familiares são considerados e favorecidos, não apenas no formato tradicional. O preconceito é ultrapassado e o modelo sistêmico trabalha “de coração a coração, com a alma da pessoa”.

“O que a gente procura detectar são os esquemas que estão por trás das emoções, porque isso tudo estava muito vinculado e tapado. E agora está se abrindo com maior facilidade, porque a verdade é simples, como diria Bert Hellinger”, finaliza.

Durante o bate-papo, Mara ainda contou experiências práticas e abordou as possibilidades da criação de um curso voltado para a área, pensando nos futuros profissionais. Até o momento, o evento contabiliza quase 1,2 mil visualizações e segue disponível para livre acesso, por meio deste link.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: MetaforaBarcelona/Wikimedia Commons


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