Os riscos do transumanismo

Autor: Crisbelli Domingos (*)

O transumanismo é um movimento que surgiu no final do século 20 com o objetivo de aprimorar a condição humana por meio do uso da tecnologia. Na prática, materializa-se em diversas áreas como a engenharia genética, a biotecnologia, a cibernética, a robótica, a neurociência e, claro, a inteligência artificial, que ganhou o palco do mundo.

Uma das propostas transumanistas é a intervenção direta no corpo humano, como a inserção de dispositivos no cérebro, modificações genéticas e sofisticação da cognição por meio de fármacos. Além disso, buscam-se tecnologias que substituam ou aprimorem as funções biológicas, como a inteligência artificial que pensa e toma decisões por nós e robôs que trabalham de forma intuitiva ou substituam partes do corpo humano. Desde então, o movimento transumanista tem ganhado críticos e adeptos, sendo tema de acalorados debates acadêmicos e políticos.

Defensores desse movimento argumentam sobre os potenciais benefícios para a humanidade, como o aumento da longevidade, da saúde, dos novos modelos de próteses de membros, do bem-estar e da inteligência. Por outro lado, outras aplicações oferecem riscos significativos. O primeiro é o agravamento das desigualdades entre as pessoas que podem pagar pelos recursos tecnológicos e as que não, o que acentuaria ainda mais as disparidades socioeconômicas.

Outra consequência seria a exclusão de deficientes físicos e mentais, considerando que pessoas que se tornam “mais perfeitas” em termos biológicos podem querer ser vistas como superiores, como duramente experienciamos uma estigmatização semelhante no passado hitlerista.

Inegavelmente, a dependência tecnológica é também um fator de extrema preocupação: se há uma inteligência artificial que pensa e toma decisões por nós, não seria difícil acostumar-se à rotina diária sem ela? Nesse sentido, à medida que as influências tecnológicas aumentam, os sistemas biológicos e sociais podem sofrer impactos imprevisíveis. Esses efeitos seriam duradouros, catastróficos e difíceis de reverter, já que os “super-humanos” perderiam de vista os valores fundamentais da humanidade, como a mortalidade, por exemplo. Isso pode levar à falsa crença de que a tecnologia torna as pessoas invencíveis, levando a um contrassenso sobre as limitações básicas humanas.

Cada dia torna-se mais evidente a falta de limites éticos para o transumanismo. Com o avanço tecnológico, principalmente da inteligência artificial, perde-se a autonomia de escolher ou não adotar práticas virtuais naturalmente inseguras e duvidosamente testadas. Portanto, cabe a nós decidirmos como queremos direcionar o futuro e, se quisermos seguir um caminho transumanista, devemos estar cientes dos riscos para não nos distanciarmos cada vez mais do que significa “ser humano”.

(*) Crisbelli Domingos, doutoranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal do Paraná, docente da Escola Superior de Educação da Uninter.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Crisbelli Domingos (*)
Créditos do Fotógrafo: Cottonbro/Pexels


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *