Os múltiplos desafios da docência na pandemia

Autor: Matheus Pferl - Estagiário de Jornalismo

A docência é uma atividade repleta de desafios. O ato de ensinar vai muito além de apenas transmitir o conhecimento. Com a pandemia, o isolamento social e as rápidas adaptações que se fizeram necessárias, os desafios aumentaram. Essa situação inesperada nos trouxe para uma realidade à qual ninguém estava acostumado, ou mesmo preparado. A experiência de ser professor e educador, nesse período de pandemia, fez com que fosse lançado um novo olhar para o perfil da atividade docente.

Falar sobre ser docente é falar sobre fazer conexões, reconhecer o outro, que é um sujeito de aprendizagem. A troca e o diálogo são importantes para reconhecer quais são os desafios que têm surgido nesse momento de pandemia. “Toda essa situação nos relembra que somos iguais. Mesmo que tenhamos alguns disparates classistas, de uma sociedade que se constrói de uma perspectiva patriarcal, homofóbica, classista e sexista, mas nós não deixamos de ser iguais quando esse igual nos torna humanos, quando temos como referência essa humanidade. Isso nos lembra nossa ancestralidade e nossa essência também. Nos lembra, principalmente, que a gente só consegue realizar e construir se nós formos colaborativos”, afirma a professora do curso de Serviço Social da Uninter, Mariana Patrício Richter Santos.

Marcos Antonio Klazura, também professor do curso de Serviço Social da Uninter, ressalta que, acima de qualquer coisa, todos nós somos seres humanos e fomos afetados de alguma forma pela pandemia. “A reprodução das nossas vivências está presente conosco dentro dos espaços, seja no virtual ou no presencial. A escola não é uma bolha, as relações que se estabelecem na vida de cada um e as experiências de cada pessoa refletem no espaço educacional também. Reconhecer isso e se reconhecer como uma pessoa que possui fragilidades é muito importante. Precisamos pensar nas construções coletivas. Todos somos afetados, é um tempo de muita incerteza, e diante disso precisamos seguir em frente, continuar os estudos e as atividades”, explica.

A pandemia nos aproximou da nossa humanidade, e também ajudou a rememorar a nossa essência, isso faz com que a gente entenda que vivemos em uma comunidade e valorizemos o coletivo. Quando a reflexão é feita de forma conjunta, de forma colaborativa, é possível entender que há um caminho. Não é um caminho fácil, porém é um caminho possível.

Mariana ressalta a visão que os docentes devem ter sobre os estudantes. “Os alunos não são e não devem ser vistos como objetos de aprendizagem em que eu testo uma metodologia, por exemplo. Mas sim sujeitos de aprendizagem. Devemos reconhecer que dentro do espaço da educação, temos uma potência desse criar coletivo. Esse é um espaço privilegiado dessas construções”, salienta.

Novos desafios

Quando pensamos em alguns desses desafios da docência na pandemia, podemos pensar nos novos formatos das aulas. Temos o ensino remoto, em que as aulas acontecem por meio de tecnologias e aplicativos. Além de usar estas ferramentas, é preciso testar, se adaptar e ver qual o melhor e mais funcional. Antes disso, é fundamental entender o sujeito de aprendizagem, aquele que divide a tela com o professor.

“Às vezes é um incômodo ter as aulas no ensino remoto com as câmeras dos alunos desligadas, mas isso faz parte. Porém, essa situação remete àquele aluno no ensino presencial que também está desatento. Temos que buscar entender o que tem por trás disso”, diz Mariana.

Em relação às câmeras fechadas, muitas vezes o aluno não abre a câmera porque não pode, porque é o espaço privado dele, ou por certa vergonha. A pandemia acabou invadindo as casas das pessoas. Talvez seja o momento de mais privacidade que esse aluno tenha, e por isso não quer se expor. Da mesma maneira, outros se sentem mais confortáveis e não têm esse problema. Portanto, cabe aos docentes reconhecer essas diferenças.

A docência é e sempre será repleta de desafios. Vivemos um momento de reflexões. É importante pensar se foi possível despertar a curiosidade e a criatividade dos estudantes, pensar se as questões e provocações levantadas têm sido suficientes para motivá-los a participar. É preciso debater, mas também escutar.

Marcos diz que a docência é um desafio que foi multiplicado pela pandemia, e hoje vai muito além de saber usar as ferramentas. “Como gerar vínculo, como criar essa relação de cumplicidade com os sujeitos em construção de conhecimento, esses são grandes desafios. É preciso ir além do uso da tecnologia e conseguir acolher, os alunos precisam ser acolhidos. A simples pergunta ‘está tudo bem?’, hoje tem um significado maior. Preciso pensar em quem está do outro lado da tela, para que juntos possamos construir”, explica.

Outro aspecto importante é refletir qual o momento da disciplina, se está no começo ou se está em alguma semana importante de trabalho, de provas. Tudo isso influencia. A relação com os alunos deve ser de troca, para que tenham liberdade de perguntar, se expressar, e não tenham medo. “Não é simplesmente a transmissão de conhecimento sem uma participação ativa, sem uma construção coletiva. É preciso refletir sobre esse processo de aprendizado. As pessoas aprendem umas com as outras, é uma via de duas mãos, nós ensinamos e aprendemos”, conclui Mariana.

Mariana Patrício Richter Santos e Marcos Antonio Klazura debateram o tema durante o programa Humanidades, que foi ao ar no dia 04.agosto.2021, em parceria com a Rádio Uninter. Você pode conferir a gravação completa do evento no Facebook.

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Autor: Matheus Pferl - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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