Os desafios de idosos após o diagnóstico de demência

Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - Estagiário de jornalismo

O envelhecimento é um dos grandes medos de muitas pessoas. A ideia de mortalidade e finitude é algo que não pode ser compreendido por completo e que ocupa espaço importante nas reflexões do ser humano.

Além disso, outro aspecto muito preocupante sobre o envelhecimento está ligado à forma como envelhecemos. Alguns mantêm a saúde e a independência até o fim da vida, mas outros podem ser acometidos por doenças e complicações que necessitam de cuidados maiores que os usuais.

De acordo com a mestre em Neurociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Radharani Benvenutti, o envelhecimento abarca algumas características naturais como perda progressiva de integridade fisiológica, prejuízos de diversas funções e o aumento do risco de doenças neurodegenerativas.

Das doenças ligadas ao envelhecimento, a mais impactante é a demência. A Organização Mundial das Saúde (OMS) estima que mais de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência atualmente.

De maneira geral, a demência é uma alteração progressiva das áreas do cérebro, que prejudica a vida do paciente de maneira ímpar. Aspectos como déficit cognitivo, perda de memória, alteração no comportamento e personalidade tornam o indivíduo incapaz de seguir sua vida cotidiana sem o auxílio de outras pessoas.

“Ao longo da vida, nós juntamos uma bagagem que são os fatores genéticos, ambientais e comportamentais que vão interagir de forma complexa durante o envelhecimento”, afirma Radharani.

A neurocientista enfatiza que não existe um único tipo de demência, mas vários. Entre eles, estão o Alzheimer, a demência vascular, o Parkinson, a demência senil, a frontotemporal e a demência por álcool.

A doença é responsável pela diminuição de neurônios saudáveis e da sincronia neural, ao mesmo tempo em que propicia o aumento de proteínas disfuncionais que são toxicas ao organismo.

“Existem vários tipos de proteínas e algumas têm maior significância no processo de demência, elas começam a ficar disfuncionais e já não funcionam da maneira correta no organismo”, explica.

Os sintomas podem demorar até 10 anos para aparecer de forma evidente no dia a dia do paciente, isso porque as proteínas toxicas permanecem no organismo e matam os neurônios aos poucos.

Diagnóstico

Para avaliar uma suspeita de demência, inicialmente, o especialista observa os sintomas do paciente para tentar chegar o mais perto possível do diagnóstico, que é considerado complexo e desafiador. Procedimentos como a avaliação clínica, a análise do histórico de doenças na família e exames de imagem (tomografia) são comumente usados para isso.

Radharani explica que são muitos os fatores que podem corroborar para o surgimento de um caso de demência. Se destacam a alimentação, a qualidade do sono, a frequência de práticas de exercícios físicos, o uso de drogas e questões puramente genéticas.

Para a gerontóloga Márcia Seima, existe grande importância em humanizar o processo tanto para o paciente quanto para quem o auxilia. Durante sua carreira, ela teve a oportunidade de trabalhar com a população idosa em um ambulatório de geriatria e gerontologia.

Márcia aponta a importância de saber diferenciar sintomas cognitivos de sintomas depressivos. “No ambulatório, quando nós fazemos a avaliação, percebemos que muitos desses pacientes apresentam sintomas de depressão, o que pode dificultar inicialmente o diagnóstico”, conta.

Para chegar a resultados concretos, os profissionais que fazem o primeiro contato com o paciente devem saber identificar os diferentes sintomas e suas causas.

“Devemos perguntar ao paciente: Algum familiar ou amigo falou que você está ficando esquecido? Esse esquecimento está piorando nos últimos meses? Isso está impedindo a realização de alguma atividade do cotidiano?”, explica Márcia.

Esses questionamentos podem ajudar o profissional a identificar se é um quadro depressivo ou uma demência em estágio inicial. Ela acredita que, com o diagnóstico de demência, é preciso ter a humanização. “Não é somente o idoso que sofre, mas também todos que convivem com ele”, afirma.

Tratamento

Até o momento, a medicina ainda não achou um modo de recuperar os neurônios mortos durante o processo de desenvolvimento da demência.

Segundo Radharani Benvenutti, tratamentos farmacológicos têm pouca eficácia em estágios mais avançados da doença e provocam diferentes efeitos no organismo. Muitos profissionais da saúde indicam o tratamento neuropsicológico para o paciente e a família.

De acordo com o relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2021, apenas um quarto dos países em todo o mundo desenvolveram políticas, estratégias ou planos nacionais para apoiar as pessoas diagnosticadas com demência e suas famílias.

O apoio ao paciente e à família é de suma importância ao enfrentarem a doença, além, é claro, do acompanhamento médico frequente e do auxílio de profissionais de saúde em estágios mais avançados.

Os desafios dos idosos diagnosticados com algum tipo de demência foi o tema do I Encontro de Egressos do Curso Superior de Tecnologia em Gerontologia, organizado pela Escola de Saúde, Meio Ambiente e Humanidades da Uninter e apresentado pela professora e gerontóloga Fabiana Prestes.

Além de Radharani Benvenutti e Márcia Seima, o evento contou com a participação da diretora do curso de Psicanálise da Uninter, Giseli Rodacoski e a tutora do curso, Raquel Berg, para debater sobre os impactos emocionais após o diagnóstico.

Clique aqui para assistir o evento na integra através do canal de Youtube da Escola de Saúde, Meio Ambiente e Humanidades da Uninter.

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Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - Estagiário de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski


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