Oppenheimer e a bomba atômica no Brasil?

Autor: Daniel Guimarães Tedesco (*)

O lançamento de Barbie e Oppenheimer nos cinemas e a redução da produção científica brasileira foram notícias veiculadas nos últimos dias de julho. A redução do número de artigos ao mesmo patamar da Ucrânia, que está em guerra, chama a atenção para os investimentos em ciência e a tecnologia no Brasil. Vamos trazer o físico, como pano de fundo para a discussão. 

A relação entre Oppenheimer e bomba atômica me lembra que Brasil até hoje não possui uma, que era o desejo do saudoso e caricato Enéas Carneiro em prol da soberania nacional. Os fatores restritivos incluem a restrição da atividade nuclear somente para fins pacíficos pela Constituição Federal de 1988 e a assinatura do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, comprometendo-se com a paz e contenção do armamento nuclear. Reconheço o potencial positivo deste posicionamento brasileiro, mas de fato reflete um pouco o pensamento comum sobre ciência e tecnologia. 

Neste assunto, se Oppenheimer estivesse hoje no Brasil, é improvável que ele seria o pai da bomba atômica. Na realidade, trago a bomba atômica apenas como empréstimo para falar sobre o investimento em ciência e tecnologia. Oppenheimer provavelmente estaria em algum grande centro de pesquisa, mas não com sua capacidade de pesquisador aproveitada ao máximo. O Brasil tem domínio da tecnologia nuclear, desde usos simples até processos de controle da fissão, incluindo o submarino nuclear recente (2022), mas comparando os investimentos na área com EUA, Europa e Japão vemos um grande abismo, generalizado para outras áreas além da nuclear. 

A opinião internacional sobre a pesquisa no Brasil é que, existem instituições de ponta como a Fiocruz e o Instituto Butantan. Contudo a produção brasileira ainda é modesta. Mesmo com muitos artigos publicados por ano, temos baixo impacto mundial de acordo com as métricas usadas. A pandemia de COVID-19 evidenciou a força dessas instituições, mas também evidenciou o orçamento deficitário.  

Tive a oportunidade de participar da reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e duas falas em uma mesa redonda sobre tecnologias quânticas me chamaram a atenção. Uma delas é que nossos Oppenheimers estão sendo cooptados por centros de pesquisas e empresas de P&D. A outra, do físico Luiz Davidovich sobre Jian-Wei Pan, atraído para China devido ao “orçamento infinito” dos laboratórios logo após se doutorar na Alemanha. Ambas as falas ressaltaram a importância de valorizar nossos pesquisadores e evitar a perda de talentos! Precisamos investir em ciência e tecnologia de forma inteligente e planejada, com atenção especial aos nossos Oppenheimers pois este investimento é fundamental para o progresso econômico nacional. 

Por fim, cito a fala de Herton Escobar que retrata o estado atual da ciência brasileira. Em um artigo de 2021 no jornal da USP, ele afirmou que “a ciência brasileira é resiliente, mas está no limite”. Possivelmente, chegamos ao limite da produção científica brasileira, considerando dados recentes, pois continuamos “sem a bomba atômica” e com os nossos Oppenheimers com visto carimbado para fora do Brasil.   

*Daniel Guimarães Tedesco é Doutor em Física pela UERJ e professor de Matemática e Física dos cursos de Exatas da Escola Superior de Educação no Centro Universitário Internacional Uninter 

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Autor: Daniel Guimarães Tedesco (*)
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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