Ondas de calor no Brasil: estamos preparados para os extremos climáticos?
Autor: *Larissa Warnavin
As ondas de calor que atingiram o Brasil em fevereiro de 2025 são um alerta urgente não apenas para os cuidados imediatos com a saúde diante das altas temperaturas, mas também para o fato de que, ano após ano, estamos quebrando novos recordes de calor. Esse padrão não é isolado, mas sim um reflexo das mudanças climáticas globais. Segundo o Sexto Relatório de Avaliação (AR6), do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a elevação das temperaturas médias globais aumentará não apenas a frequência das ondas de calor, mas também sua intensidade e duração, tornando-as eventos cada vez mais perigosos.
A Organização Mundial de Meteorologia (OMM) caracteriza uma onda de calor como um período de vários dias consecutivos em que as temperaturas máximas e mínimas permanecem anormalmente elevadas para uma determinada região. Já o Ministério da Saúde aponta que essas ondas são especialmente intensas em áreas urbanas devido ao efeito de “ilha de calor”, um fenômeno em que a alta densidade de edificações, a pavimentação e a baixa cobertura vegetal fazem com que a cidade retenha mais calor, resultando em temperaturas ainda mais elevadas.
Os impactos à saúde humana podem ser severos. A exposição prolongada a temperaturas extremas pode causar desidratação, exaustão térmica, insolação e agravar doenças cardiovasculares e respiratórias. Pesquisa científicas demonstram um aumento significativo nas taxas de mortalidade durante períodos de calor extremo, especialmente entre grupos vulneráveis, como idosos, crianças, gestantes e pessoas imunossuprimidas. A infraestrutura inadequada para o conforto térmico da população e a falta de acesso a sistemas de resfriamento agravam ainda mais esse cenário, tornando a justiça climática um fator central na discussão sobre adaptação às mudanças do clima.
Além dos riscos diretos à saúde, as ondas de calor podem influenciar padrões sociais, como apontado pelo geógrafo Francisco Mendonça, em sua obra Clima e Criminalidade. O aumento das temperaturas está correlacionado ao crescimento da violência urbana, seja por alterações fisiológicas e comportamentais nos indivíduos, seja pelo maior tempo de exposição das pessoas às ruas. Em favelas e ocupações precárias, onde as moradias são feitas de materiais que intensificam a absorção de calor, permanecer dentro das residências se torna inviável, forçando a circulação em ambientes externos e alterando dinâmicas sociais.
A desigualdade térmica é evidente quando analisamos os diferentes extratos da população. Bairros periféricos das grandes cidades possuem menor cobertura vegetal, maior densidade de construções e infraestrutura precária, fatores que aumentam a sensação térmica e reduzem a capacidade de enfrentamento ao calor extremo. Mesmo escolas e universidades públicas frequentemente carecem de ventilação adequada, comprometendo a permanência de estudantes e funcionários.
Diante desse cenário, as perguntas que precisam ser feitas são: quantas vidas serão perdidas antes que políticas de adaptação eficazes sejam implementadas? Estamos preparados para um mundo em que o calor extremo se tornará cada vez mais frequente? A ciência já nos deu as respostas. O desafio agora é agir antes que o calor nos vença.
*Larissa Warnavin é geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
Autor: *Larissa WarnavinCréditos do Fotógrafo: Pixabay