O sonho de Maria e Agrimaldo ajuda a redesenhar a cara do ensino superior

Autor: Barbara Carvalho - Jornalista

Maria Aparecida e Agrimaldo de Figueiredo espelham a nova cara que começa a se desenhar no ensino superior brasileiro, cada vez mais frequentado por pessoas da terceira idade. Ela tem 55 anos e ele, 62. Ambos já tinham formação superior, mas voltaram à universidade para realizar um sonho antigo. O casal acaba de se graduar em Educação Física pela Uninter, na modalidade a distância.

Pessoas como Agrimaldo e Maria Aparecida estão mudando o perfil etário nas universidades, mudança que começa antes mesmo da matrícula. Os idosos no país saltaram de 25,4 milhões para 32,5 milhões entre 2012 e 2019, segundo o IBGE. Desses, 97% têm acesso à internet, aponta pesquisa da Offer Wise Pesquisas para a Confederação Nacional dos Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).

Boa parte das buscas realizadas na internet por pessoas com mais de 50 anos foram por cursos superiores online, revelam pesquisas. De acordo com o Censo de Educação Superior de 2019, o mais recente divulgado pelo Ministério da Educação, entre 2015 e 2019 houve um aumento de 48% no número de idosos matriculados em universidades. Impulsionado pela pandemia, o primeiro semestre de 2021 teve aumento de 9,8% nas matrículas, parte disso oriunda da terceira idade.

Em contrapartida, o número de jovens no ensino superior estagnou. Segundo a 11ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil, apenas 18,1% dos jovens de 18 a 24 anos ingressaram na universidade em 2019, e a modalidade EAD foi a que mais cresceu entre os jovens, com elevação de 35% para 40% entre 2019 e 2020. Do total de matrículas no ensino superior, 78,5% se concentraram nas instituições privadas.

Orgulho e preconceito

É neste redesenho do ensino superior que Maria Aparecida da Cruz de Figueiredo e Agrimaldo Melo de Figueiredo despontam como exemplos de que a idade não pode ser um impeditivo para a busca da realização dos sonhos. “Ser uma pessoa de mais 50 anos no nosso país traz em si um peso considerável. Mas há tempo para tudo, inclusive para voltar a respirar os ares acadêmicos”, diz Maria.

Paulistas, eles começaram os estudos no polo Uninter em Bauru (SP), transferindo-se mais tarde para o polo de Ibitinga (SP). Maria já era graduada em direito e Agrimaldo tinha licenciatura plena em história. Para eles, o curso de educação física era um sonho antigo e que hoje podem aplicar em suas áreas de trabalho. Maria atua como personal em musculação e instrutora de ioga, Agrimaldo é personal trainer.

Ambos contaram com o apoio mútuo e cumplicidade para se graduar no ensino superior nessa etapa da vida. Apesar de já terem vivido experiências acadêmicas anteriores, sempre imersos em leituras, cursos e palestras, o retorno às aulas foi visto por alguns com certo preconceito.

“Na nossa sociedade, faz parte da cultura pensar que, depois dos 50 anos, as pessoas precisam se aposentar e cuidar dos netos, ficar em casa etc. Isso não procede, pois buscar o conhecimento e novas perspectivas dá ao ser humano uma nova razão de viver. Sendo assim, segui em frente”, relata Agrimaldo.

Agora, Maria e Agrimaldo pretendem continuar os estudos e realizar novos cursos e uma pós-graduação na área em que acabaram de se formar. Para eles, continuar os estudos após os 50 anos é uma forma de se sentir vivo e útil, além de entender que sempre é tempo de conquistar novos sonhos.

Alunos de meia e terceira idade crescem na Uninter

Os alunos de meia idade e de terceira idade representam 4,7% dos matriculados na Uninter, índice superior à média brasileira, de 3,2%. A maioria dos alunos é de pessoas entre 26 e 49 anos, o que representa 62,0% dos entrevistados que em 2021 responderam à pesquisa de levantamento socioeconômico realizado pela Comissão Própria de Avaliação (CPA) da Uninter. A pesquisa contou com 38.027 respondentes.

Comparado a 2020, o número de matrículas de alunos com mais de 50 anos passou de 4,4% para 4,7% na Uninter. De acordo com a pesquisa, 62,8% desses alunos concluíram o ensino médio há mais de 25 anos. Para 46,0% deles, esta é a segunda graduação, enquanto para 28,9% este é o primeiro curso superior. Os 25,1% restantes já haviam começado um curso superior em algum momento da vida, mas abandonaram.

Para o presidente da CPA, Hélio Rubens Godoy, a abrangência da Uninter no país contribui para que as pessoas de meia e de terceira idade continuem estudando e se mantendo ativas no mercado de trabalho.

“Como a Uninter tem uma grande quantidade de alunos na graduação a distância, e eles estão distribuídos nacionalmente, os números de nossas pesquisas de perfil socioeconômico refletem em alguma medida as mudanças ocorridas no cenário dos cursos de graduação no Brasil”, salienta Godoy.

“As pessoas estão vivendo mais e ficando mais anos trabalhando em um mercado em transformação, e isso tende a incentivar as pessoas da terceira idade a buscar uma graduação superior, para se manterem qualificadas e na ativa. Mantidas as bases que geram esse fenômeno social, esse é um processo que tende a se manter nos próximos anos”, afirma.

Pessoas com até 25 anos representam 33,3% dos alunos ativos da Uninter, de acordo com a pesquisa da CPA. Destes, 63,2% estão realizando a sua primeira graduação e 78,9% cursaram todo o ensino médio em escola pública.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Barbara Carvalho - Jornalista
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal


1 thought on “O sonho de Maria e Agrimaldo ajuda a redesenhar a cara do ensino superior

  1. É maravilhoso quando o ser humano não se limita e está sempre disposto a crescer e se superar, influenciando outras pessoas a seguir suas jornadas até realizarem o sonho tão desejado.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *