O papel do pedagogo como transformador social

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

O campo da pedagogia se dedica à busca do aprimoramento de abordagens e processos educativos aplicados em diversos contextos. Para isso, se aproxima de áreas como a psicologia, a filosofia, e a história.

“A pedagogia trata de entender e promover as transformações necessárias para que haja um processo de ensino aprendizagem eficaz, independente da faixa etária do estudante. Abrange desde a educação infantil até educação de jovens e adultos. É uma ciência da e para a educação que sempre está buscando, a partir da ação e reflexão, aprimorar os seus conhecimentos para melhoria da educação”, afirma a professora Vanessa Queirós, que atua no curso de Pedagogia da Uninter.

Apesar de sua importância, ainda há alguns empecilhos encontrados para o reconhecimento e valorização da área. A professora Maria Tereza Cordeiro, coordenadora da Educação de Jovens e Adultor (EJA) da Uninter, aponta que muitas vezes os profissionais da pedagogia não são tratados com seriedade, como representantes de uma ciência tão antiga e de papel fundamental na vida no ser humano deveria ser.

“O brasileiro não trata a pedagogia de uma maneira séria como nós vemos em outros países. A Finlândia é um país exemplar em educação, tem professores, escolas e alunos tão bons porque eles tratam a pedagogia como ciência e tratam os estudantes de pedagogia, os futuros professores, com muita seriedade. Hoje em dia nós estamos vendo os problemas que a falta de educação presencial está fazendo na vida das crianças, que vácuo eles vão ter. Claro, estão aprendendo com os pais, estão tendo aulas remotas, mas não é a mesma coisa”, ressalta Maria Tereza.

Por ser uma área que abrange a formação do indivíduo em todos os âmbitos, existem vários campos de atuação para os profissionais, que trabalham com questões capazes de promover a transformação da realidade social. Dois deles, em especial, são os trabalhos realizados na docência e na gestão escolar. Nestes campos, a mudança vem através da mediação entre professores, alunos, subsídios e técnicas que visam aumentar a qualidade na aprendizagem, sociabilidade e cidadania.

O profissional de pedagogia na docência

O pedagogo formado em licenciatura tem a possibilidade de atuar em várias fases da educação. A primeira e mais comum é a educação infantil, que vai muito além de apenas um ‘cuidado’ das crianças, mas que trabalha a história, psicologia, neuropsicologia, tudo o que envolve o desenvolvimento desse indivíduo no processo educativo.

Além disso, é habilitado a trabalhar nas séries iniciais do ensino fundamental, de primeiro a quinto ano, nas matérias de língua portuguesa, história, geografia, matemática e ciências. Por isso o curso de Pedagogia também possui estas disciplinas com conteúdo de avaliação e metodologia, oferecendo subsídio para que o profissional consiga trabalhar as especificidades didáticas de cada uma.

Outra alternativa é a atuação na primeira fase da EJA, referente à fase inicial do ensino fundamental. “No nosso curso tem as especificidades da EJA, porque é diferente como você vai alfabetizar um adulto do que você vai alfabetizar uma criança. Os instrumentos, o material todo vai ser direcionado nessa contextualização, então essas matérias também vão apresentar essa especificidade”, explica Vanessa.

Ainda existe o curso normal médio, chamado de formação de docentes no Paraná, o antigo magistério. Nessa fase, os docentes podem atuar nas matrizes de didática, avaliação, metodologias de ensino. Para além da educação básica, o pedagogo também pode trabalhar no ensino superior, iniciando uma carreira de pesquisa, publicação, com formação para além da graduação.

“É importante a gente salientar que a docência não é só ‘ah, eu vou lá dar aula’. A docência envolve vários aspectos, planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação. Qual é a concepção de avaliação que nós devemos ter, como devemos acompanhar nossos alunos, qual o melhor processo, como a gente pode trabalhar com uma perspectiva inclusiva dentro da escola. Tudo isso perpassa o caminho da docência em qualquer etapa”, completa Vanessa.

O profissional de pedagogia na gestão

Na área da gestão, o pedagogo vai atuar como um articulador com professores, projetos envolvidos, organização do tempo e do espaço, rotinas pedagógicas, promovendo formação continuada para pais e professores, fazendo uma ponte família-escola, trabalhando com os docentes em horas-atividade com estudos e planejamentos. Diferente da função de professor, como gestor o pedagogo tem a oportunidade de trabalhar no ensino fundamental II e no ensino médio.

“Tem toda essa coisa de entender essa faixa etária, saber conversar com eles, saber promover com os professores, porque por ser professores de cada área diferente, eles não têm tanto subsídio da formação da pedagogia, que entende melhor o processo de desenvolvimento, de avaliação. Então, o pedagogo no ensino fundamental II e no ensino médio tem um papel ainda mais importante para promover a interdisciplinaridade, para as disciplinas saberem conversar, os melhores processos de ensino e de avaliação, principalmente”, ressalta Vanessa.

Na função de gestor, o pedagogo também é responsável por um documento chamado Projeto Político Pedagógico (PPP), que contém informações sobre o tipo de aluno que determinada escola quer formar, concepção de avaliação, de aprendizagem, o que é a escola, quais os objetivos da instituição. O PPP é construído junto com a comunidade, professores, pais, promovendo uma participação democrática dentro da escola.

“Eu sempre gosto de comparar o pedagogo como se fosse aquele fio que está por baixo de um colar de pérolas. Às vezes ele não aparece tanto em evidência, porque as pessoas chegam na escola, cada professor está com a sua turma, tudo está encaminhado. Mas se não for o pedagogo saber trabalhar essa articulação dentro da gestão pedagógica, as coisas não caminham, as pérolas ficam soltas. Ele é esse grande fio que vai articular, fazer os professores trabalharem em conjunto também, fazer essas trocas de conhecimento. O pedagogo como gestor tem uma grande responsabilidade”, salienta a professora.

Além do ambiente escolar, o profissional também pode atuar com gestão em espaços como ONGs, empresas, qualquer local que tenha relações de ensino aprendizagem.

“Muitas vezes as pessoas pensam na pedagogia só como aquele ‘professorzinho’ da educação infantil. Não, tem um cientista da educação trabalhando com seus filhos, tratando esse processo de uma maneira séria e que vai fazer a diferença para a vida dessas crianças e futuros adultos”, completa Maria Tereza.

O perfil do profissional de pedagogia

A maioria das pessoas que optam por ingressar para o curso de pedagogia justificam suas escolhas por gostarem de crianças ou mesmo por acreditarem ser um curso mais “fácil”, mas não é bem assim. Alguns entram direto do ensino médio, outros retornam para o estudo depois de muitos anos da formação no magistério para completar os estudos, por exemplo. Para Vanessa, o requisito básico é acreditar na educação, crer que ela é capaz de transformar o mundo e querer ser um professor que pesquise e tenha um espírito investigativo, tendo vontade de estar em constante aprimoramento.

“O pedagogo que não se atualizar, não tiver uma formação continuada, vai ficar no tempo, realmente. O tempo do meu magistério me ajudou muito, até hoje eu tenho conhecimentos que valem para mim, mas olhe tudo o que mudou de lá para cá e como é que as crianças hoje aprendem, como é que um adulto aprende e como os próprios cientistas da educação se descobriram. Eu acho que de 2020 para frente vai ser um marco, com certeza, não só pela pandemia, mas também pela educação. Porque nós vamos ter que virar essa nossa chave, do modelo de educação que nós apresentamos. Por causa do vírus, mas também por causa de um sistema que é possível educar”, ressalta Maria Tereza.

Para as profissionais, o grande desafio e ao mesmo tempo a motivação para quem está ingressando ou quer ingressar para a pedagogia, é pensar como as crianças e jovens serão educados daqui para frente. Pois, apesar de já existir o ensino a distância (EAD) para os adultos na EJA e ensino superior, as crianças têm suas próprias especificidades e funcionam de forma diferente. Por exemplo, em relação à questão do tempo de estudo e à dificuldade de conseguirem ficar muito tempo parados em frente a um aparelho eletrônico acompanhando as aulas.

O bate-papo completo acerca do assunto aconteceu ao vivo através da página do Facebook da EJA Uninter, no Programa EJA Pop. Com o tema Docência e gestão educacional, o debate foi mediado pela professora Marjorie Wilt e segue disponível para todos os interessados.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


3 thoughts on “O papel do pedagogo como transformador social

  1. Boa noite! Nayara Rosolen, gostei muito do seu texto. Estou cursando pedagogia,e me senti muito mais motivada nesta caminhada. As informações só engrandeceram o meu aprendizado. Deus te abençoe.

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