O desafio de manter a saúde mental na pandemia

Autor: Matheus Pferl - Estagiário de Jornalismo

A pandemia de Covid-19 aumentou ainda mais os desafios cotidianos. As urgências, o trabalho em home office, o distanciamento daqueles que gostamos e das atividades que nos fazem bem são fatores que contribuem para o surgimento de problemas físicos e psicológicos. Pensando nisso, surge o questionamento: como cuidar da saúde mental nesse cenário?

Para responder a essa pergunta, o curso de pós-graduação da Uninter na área de serviço social convidou a psicóloga Tais Martins para um bate-papo com as professoras Relly Amaral Ribeiro e Talita Ketlyn Costa Cabral. A conversa foi transmitida pelo AVA Univirtus.

Hoje, independentemente da profissão, a pandemia nos coloca em xeque. O fato de trabalhar em casa criou novos desafios, que nos trazem questionamentos e aumentam a cobrança de cada um. Será que estamos trabalhando e progredindo ou apenas passando o tempo sem nos desenvolver? Estou conseguindo ser produtivo? Às vezes, até no momento de relaxar, nos questionamos, nos preocupamos e não conseguimos “desligar”. O lazer acaba se tornando um momento de ansiedade, depressão, violência doméstica e até mesmo perspectivas suicidas.

Tais afirma que a Covid colocou em questão elementos que transitam na vida humana, independentemente da profissão, como os aspectos da liberdade e igualdade. “É fantástico ver isso no ponto de estudo, mas vivenciar isso, não é fácil. Dados da OMS [Organização Mundial da Saúde] dizem que este confinamento crônico está causando grandes males em vários aspectos. Quem não ganhou peso, quem não teve dificuldades, quem não mudou hábitos? Ninguém está preparado para esse momento de isolamento. O aumento do consumo de álcool também foi perceptível, dizem os dados da OMS e da OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde). As pessoas estão buscando um acalento, mas não nos lugares corretos, esse é o momento de buscar o auxílio de profissionais”, completa.

Hoje percebemos um processo de aumento da ansiedade, que ocorre de maneira acentuada devido ao avanço tecnológico e à necessidade da instantaneidade. Vivemos um momento do celular sempre na mão, a todo instante, com cada vez mais recursos. Se o namorado não responder na hora, se o marido não estiver disponível, se o amigo não responder… tudo gera um processo de ansiedade que precisa ser combatido.

A professora Relly comenta que “uma da principais razões desse desequilíbrio interno emocional que estamos passando é essa sensação da ausência de controle, pois não há como controlar o dia de amanhã, nós não sabemos nada do amanhã, esse fato da incerteza, de não saber quando vou poder voltar para academia, de quando poderei ir ao restaurante, isso mexe muito com as pessoas”.

Por conta da constante cobrança, é natural que ocorra uma grande sensação de cansaço. Portanto, devemos nos organizar para lidar com isso: “A canseira é mais do que natural, e a grande dificuldade é a organização. Nós gostamos de rotina, nós seres humanos somos assim. Mas a pandemia nos coloca em xeque com as incertezas que são trazidas. É normal os questionamentos a respeito do trabalho, da questão financeira, dos cuidados para não contrair o vírus e de todas as preocupações que esse momento traz”, explica a psicóloga.

Outro aspecto marcante desse período são as mortes causadas pela pandemia. Tais diz que saber lidar com o luto é muito complicado, pois a nossa cultura trata isso como um tabu. “Nós não sabemos lidar com a finitude. A morte é um temor, e o nosso temor maior é não dar conta. Em um primeiro momento as pessoas negaram a pandemia, isso é um meio de autodefesa, essa perda, essa angústia, esse cansaço fica na gente, a cabeça não desliga nem na hora de dormir. E aí surge um outro desafio, o consumo exagerado de remédios para curar dores e sensações. Hoje, tem remédio pra tudo, e há de se ter muito cuidado, isso pode te fazer dependente, e daí vem as depressões, as angústias, as ansiedades”, completa.

É importante pensar em algumas medidas para auxiliar neste processo de melhora, por mais simples que sejam, que podem fazer uma grande diferença. Por exemplo, tomar um banho com um sabonete mais cheiroso para se sentir melhor, ou se dar ao luxo de ter mais tempo para suas vontades, são pequenos prazeres que têm poder e isso ajuda cada um a se encontrar. As pessoas estão perdendo o equilíbrio não só com algo pontual, mas com as responsabilidades todas, que fazem com que haja o sentimento de que não vão dar conta.

Uma dica boa é organizar a sua agenda, pois se não houver um planejamento, ou você trabalha o dia inteiro ou você não faz nada o dia inteiro. Além disso, seguindo a linha de pequenos prazeres, o fato de se arrumar e se sentir bem é muito importante, devemos pensar no nosso bem-estar, precisamos de uma rotina para nos equilibrarmos e também devemos trabalhar o psicológico, exercitar os bons pensamentos. “Temos que pensar em ser felizes, em coisas boas, em alguma viagem, alguma comida gostosa que vou comer. Comecem a ter bons pensamentos, não é algo ilusório. Se temos pensamentos negativos, nós ficamos deprimidos, e isso nos consome diariamente”, afirma Tais.

A psicóloga termina dizendo que é fundamental valorizar as pequenas coisas do dia a dia para se alcançar a felicidade: “Nós não compramos a felicidade, nós construímos. É importante valorizar o que se tem, valorizar os afetos, os vínculos e fazer as pazes consigo mesmo”, conclui.

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Autor: Matheus Pferl - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Ambroo/Pixabay


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