O cinema virou o celular: o impacto dos vídeos verticais na sétima arte

Autor: Letícia Porfírio*

A câmera virou. Literalmente. O cinema, moldado por mais de um século de telas panorâmicas, começa a se adaptar à lógica do celular. A estética dos vídeos verticais, popularizada pelo TikTok, Reels e Shorts, ultrapassou o entretenimento rápido e começou a transformar a linguagem cinematográfica. Diretores já testam roteiros e enquadramentos pensados para o formato 9:16. Uma revolução silenciosa, mas profunda, na forma como contamos e consumimos histórias.

O TikTok, com mais de 1 bilhão de usuários ativos por mês e média de 95 minutos diários por usuário, tornou-se uma escola de narrativa audiovisual. O público aprendeu a consumir histórias em ritmo acelerado, fragmentado e vertical, e agora espera o mesmo das grandes produções. Segundo a Variety, 67% dos jovens entre 18 e 34 anos preferem assistir vídeos em formato vertical, mesmo quando disponíveis na horizontal. É um dado que a indústria cinematográfica não pode ignorar.

Cineastas e estúdios já se movimentam. Em 2024, o festival de Sundance exibiu pela primeira vez uma mostra paralela de curtas verticais, e plataformas como TikTok e Meta investem em editais para produções autorais nesse formato. No Brasil, a Globo lançou seus “microdramas”: séries curtas, verticais e multiplataforma, para alcançar um público habituado ao consumo rápido, direto no celular. Mesmo os filmes produzidos em widescreen agora privilegiam enquadramentos que funcionam bem em recortes verticais. Uma estratégia pensada para a era dos trailers e cenas que viralizam nas redes.

Mas o fenômeno não se limita à técnica. A verticalidade muda o modo de narrar: aproxima o espectador, privilegia rostos, emoções e olhares. O enquadramento íntimo, típico dos stories, faz o público se sentir dentro da cena. A câmera que antes mostrava o mundo agora convida a entrar na vida de alguém. É o cinema da proximidade, da confissão e, talvez, da identificação.

Há quem veja nisso o fim da experiência cinematográfica tradicional. Outros, um novo renascimento. Afinal, o cinema sempre se reinventou: do mudo ao sonoro, do analógico ao digital, das salas às plataformas. Agora, atravessa a era do “cinema de bolso”, em que as histórias precisam caber na palma da mão e na timeline.

O desafio é equilibrar arte e algoritmo, imersão e velocidade. Se o público mudou, o cinema também precisa mudar. Mas uma coisa permanece: o desejo humano de contar histórias, sejam elas projetadas em 70 mm ou assistidas na tela vertical de um smartphone.

*Letícia Porfírio é graduada em Comunicação Social — Publicidade e Propaganda, mestre em Comunicação e Linguagens, doutoranda em Comunicação e Linguagens e professora do CST Marketing Digital na Uninter.

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Autor: Letícia Porfírio*
Créditos do Fotógrafo: Line Knipst/Pexels


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