Multimídia forense fortalece a Justiça diante do avanço das tecnologias

Autor: Cyntia Fonteles - Estagiária de jornalismo

Em uma era marcada pela avalanche de informações digitais e pela crescente sofisticação das tecnologias de manipulação de conteúdo, a Justiça conta com uma aliada cada vez mais estratégica: a multimídia forense. Nos últimos anos, o avanço das tecnologias digitais trouxe novos desafios ao sistema judicial, que passou a utilizar a perícia técnica em imagens, vídeos, áudios e documentos digitais como ferramenta essencial na investigação e comprovação de fatos. 

“A imagem pode tanto esclarecer um crime quanto fabricar uma mentira. Cabe à perícia transformar essa imagem em verdade processual”, afirma o professor Luís José Rohling, especialista em perícia multimídia e coordenador do curso de Gestão da Segurança e Defesa Cibernética da Uninter 

A multimídia forense é a integração entre áudio, vídeo, fotografia e tecnologia com o objetivo de autenticar conteúdos digitais. Para o professor Rohling, essa área multidisciplinar vai muito além da melhoria de imagens: ela garante a veracidade das evidências, detectando manipulações, cortes e adulterações em arquivos. 

“É mais do que melhorar uma imagem. A gente prova se aquele vídeo é original, se sofreu cortes, se a voz é realmente da pessoa que dizem que é”, explica. 

Rohling destaca que técnicas avançadas de análise forense têm se tornado indispensáveis para esclarecer crimes — especialmente diante do crescimento das deepfakes, vídeos e áudios falsificados com uso de inteligência artificial. 

“A constante evolução dessas tecnologias exige atualização permanente dos profissionais, para identificar fraudes cada vez mais sofisticadas”, alerta. 

A aplicação da multimídia forense nas investigações inclui identificação de vozes, clareamento de imagens, detecção de montagens em vídeos e autenticação de arquivos extraídos de celulares, câmeras de segurança e redes sociais. Essas análises podem confirmar a autenticidade de uma prova ou invalidá-la, caso sejam encontradas inconsistências. 

Em 2005, o “Assassino BTK” Dennis Rader foi preso após a análise de metadados em um disquete, que revelou sua identidade. Em 2016, Larry J. Thomas foi julgado e considerado culpado por uma tentativa de assalto que terminou com a morte de Rito Llamas-Juarez. Apesar das testemunhas presenciarem Thomas na cena do crime, foi a análise digital que contribuiu para sustentar as evidências do caso. Já em 2018, no Rio Grande do Norte, o Laboratório de Forense Computacional do Gaeco utilizou a melhoria de imagens para identificar e prender um suspeito de homicídio. Casos reais que evidenciam o impacto dessa perícia para elucidar crimes e contribuir com a justiça. 

No entanto, apenas possuir a tecnologia não é suficiente. É preciso entender seu funcionamento e como evitar ser enganado por manipulações digitais. O trabalho do perito é técnico e imparcial: ele não julga, apenas apresenta laudos com base em evidências. 

“Nosso papel é trazer a verdade técnica, com responsabilidade e seguindo todos os protocolos”, reforça Rohling. 

Um dos maiores desafios da perícia digital é garantir a integridade dos arquivos. Desde a sua criação até o momento da análise, qualquer alteração pode comprometer a validade da prova. Arquivos digitais possuem metadados — uma espécie de “certidão de nascimento” — que também podem ser manipulados. Para protegê-los, utiliza-se o mecanismo de hash, um código único que funciona como um “cofre digital”, assegurando a autenticidade do conteúdo. 

Com o avanço das tecnologias como deepfake e inteligência artificial, cresce a demanda por profissionais especializados em multimídia forense. No campo da segurança cibernética, o objetivo é proteger o ambiente digital e evitar que manipulações comprometam a credibilidade das mídias. 

A multimídia forense representa um avanço significativo na busca pela verdade. Quando utilizada com responsabilidade, fortalece investigações, evita injustiças e contribui para decisões judiciais mais seguras.  “A tecnologia evolui rápido. Quem trabalha com perícia precisa estar sempre estudando”, afirma Rohling. 

Unindo ciência, tecnologia e Direito, a multimídia forense está cada vez mais presente nos tribunais. Em tempos de desinformação e fake news, o rigor técnico na análise de imagens e áudios pode ser decisivo entre a verdade e a dúvida. “Todo mundo precisa conhecer mais sobre tecnologia e segurança para atuar com responsabilidade e evitar incidentes”, conclui o professor. 

 O tema foi debatido no programa Café e Conhecimento‘ da TV Uninter, transmitido em 16 de julho de 2025, com os professores Daniele Assad e Luís José Rohling. Assista ao episódio completo.

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Autor: Cyntia Fonteles - Estagiária de jornalismo
Revisão Textual: Rafael Lemos
Créditos do Fotógrafo: Reprodução Youtube


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