MEC corta livros didáticos e amplia desigualdade na educação pública
Autor: *Edison Neres Barbosa
Justamente quando pensávamos que o ensino no Brasil já tinha desafios de sobra, eis que surge mais um. O Ministério da Educação (MEC) comunicou que, por falta de dinheiro, a compra de livros para o Ensino Fundamental, a partir de 2026, ficará restrita a português e matemática. A medida, que vem num momento de aperto financeiro do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), mostra a crise do setor e o impacto que isso pode ter na formação dos alunos da rede pública.
A explicação oficial é prática: com poucos recursos, focar nas duas áreas tidas como essenciais para aprender a ler e escrever e para o raciocínio lógico seria o melhor caminho. Só que essa justificativa não considera tudo o que está em jogo na educação e na sociedade. Ensinar História, Ciências, Geografia e outras matérias não é supérfluo, pois é crucial para desenvolver senso crítico, cidadania, entendimento do mundo e formar alunos capazes de entender e transformar a realidade.
A decisão aprofunda ainda mais as diferenças entre as escolas públicas e as particulares. Enquanto as escolas privadas seguem oferecendo materiais completos e variados, os alunos da rede pública podem começar o ano sem o apoio necessário em matérias que ajudam a formar cidadãos. Para muitos, o livro do PNLD é o único material de estudo em casa, o que torna o problema ainda maior.
Do ponto de vista do ensino, a falta de livros em várias áreas atrapalha não só o aprendizado dos conteúdos, mas também o trabalho em conjunto entre as matérias, como previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Um ensino dividido, que prioriza só português e matemática, diminui a chance de juntar conhecimentos e de desenvolver habilidades importantes, como argumentar, analisar criticamente e entender de ciência.
A decisão do MEC, então, não pode ser vista como normal. É preciso que a sociedade, os professores e os responsáveis pela educação se unam para pedir mais investimento, para que nenhuma matéria seja deixada de lado. Investir em livros é investir em igualdade, em chances de aprendizado e em tornar o conhecimento acessível a todos.
Numa nação que busca diminuir as disparidades e impulsionar a total participação cívica, limitar o alcance aos recursos educativos implica seguir na direção oposta do progresso humano e comunitário. Além de um problema financeiro, essa é uma decisão ideológica, que demanda discussão, influência da sociedade e, principalmente, um verdadeiro engajamento com o ensino excelente para cada um.
Ao restringir o acesso ao conhecimento, o Brasil compromete o futuro de uma geração. Investir em livros é investir em pensamento crítico, igualdade e cidadania — pilares que não podem ser cortados do currículo.
*Edison Neres Barbosa é mestre em educação na linha de pesquisa: “Práticas Pedagógicas: Elementos Articuladores”, e tutor dos cursos de pós-graduação em educação do Centro Universitário Internacional Uninter.
Autor: *Edison Neres BarbosaCréditos do Fotógrafo: Rodrigo Leal/Banco Uninter e RDNE Stock project/Pexels


