Juliana inova em avaliação acessível para surdos com baixa visão e conclui mestrado com louvor
Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação
Há 20 anos atuando na educação com a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), Juliana Richter marca mais uma fase do legado na área, com a dissertação “Protocolo para a realização de provas acessíveis a surdos com baixa visão fluentes em LIBRAS”. Agora mestre, Juliana foi aprovada com o louvor da nota máxima no Programa de Pós-graduação em Educação e Novas Tecnologias (PPGENT) da Uninter, na defesa que aconteceu na manhã de 29 de maio de 2025.
Orientada pelo professor Rodrigo Otávio dos Santos, a banca de Juliana contou com o diretor da Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios (ESGCN) da Uninter, Elton Ivan Schneider, e a professora do PPGENT Glaucia da Silva Brito, como integrantes internos. A professora do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGEd) da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Rita de Cássia Gonçalves atuou como avaliadora externa.
“Quando eu a escolhi para ser minha aluna no mestrado, me lembro que o mais importante é que ela tinha um gás, uma gana, uma vontade de entender [o produto]. [Como quem dizia] ‘eu quero que todo mundo saiba, quero que a vida do surdo melhor, porque isso é a minha vida’. Trabalhar com alguém que é tão apaixonado é muito fácil”, afirma o orientador.
Durante o mestrado profissional, Juliana desenvolveu um modelo de prova que integra recursos visuais adaptados em campo reduzido, táteis e tecnológicos de forma “harmoniosa e eficaz”, explicou. A coloração roxa do modelo faz uma associação à campanha de conscientização sobre os cuidados com os olhos e a importância de exames oftalmológicos periódicos, que ocorre todo mês de junho.
“Além do formato impresso, ampliado por causa da baixa visão, contraste em relevo em partes principais, tem também a interatividade exclusiva e QRcode que tem acesso a vídeo prova em LIBRAS, com versão da interpretação adaptada para campo visual reduzido (…) Complementadas por ações táteis para as tecnologias, com informações específica e relevantes durante a avaliação, [para] tentar deixar o surdo baixo visão o mais autônomo possível”, afirma a mestre.
A trajetória profissional de Juliana começou no Grupo Uninter, ainda em 2003. Enquanto trabalhava na secretaria da antiga FATEC, cursava Pedagogia também na instituição. Na época, tinha duas colegas surdas, que estudavam na mesma turma. Uma delas era diretora regional do Paraná da Federação de Surdos. Foi assim que a então estudante começou a se integrar na causa, a conhecer profissionais e a aproximar a instituição da temática.
Ao perceberem que ela interpretava para surdos, foi convidada para a educação à distância (EAD) e levou junto muitos dos professores de LIBRAS da época. A profissional atuou na instituição por três anos, antes de passar em um concurso para intérprete de LIBRAS na rede pública de educação do Estado e, posteriormente, no Instituto Federal, onde atua até hoje.
Na época, a LIBRAS começava a ser inserida nos espaços de ensino, após o reconhecimento legal de comunicação e expressão no Brasil, por meio da Lei nº 10.436/2002. A mobilização feita por Juliana na instituição foi o embrião do que se tornou o Serviço de Inclusão e Atendimento aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (SIANEE), coordenado pela professora Leomar Marchesini, em atividade no suporte para estudantes com deficiência até hoje.
Com a nova titulação, Juliana avança em busca de maior acessibilidade para pessoas surdas com baixa visão. “Esse estudo demonstrou que é possível desenvolver instrumentos que respeitem as particularidades desses sujeitos surdos, promovendo sua autonomia e equidade nos processos avaliativos […] Eu dei preferência para referências de autores e pesquisadores surdos. Eu já tive a oportunidade de trabalhar com surdos sendo guia intérprete e com ouvinte sendo guia intérprete. E a discrepância é muito grande. O surdo tem a sensibilidade de trazer isso para o surdo com baixa visão”, conta.
A professora Rita acredita que um trabalho de mestrado ou doutorado, além de responder aos anseios dos pesquisadores, fomenta ideias para outras pessoas. Rita enxerga que, “se a educação é um direito do cidadão e um dever do Estado”, profissionais da área têm de proporcionar a possibilidade das pessoas realmente acessarem.
“Uma das características que se mostrou, principalmente na apresentação, é que Juliana é uma pessoa extremamente empática de pensar na interpretação não só como um trabalho, mas como uma maneira de se comunicar, de inserir o aluno surdo e o aluno surdo cego no mundo escolar. Já tive contato com muitos intérpretes e acho que esse aspecto da Juliana é fundamental”, declarou Rita.
Para Elton, a principal contribuição foi a acadêmica ter desenvolvido uma pesquisa para além do óbvio e de tudo o que já se falou e já se sabe sobre a pessoa surda. “Você trouxe termos novos, [como] design universal, usabilidade, experiência, usuário, interação acessível acessibilidade, design inclusivo e participativo e tecnologia assistiva. Nada disso existia há 15 anos, são todos termos e áreas novas que estão surgindo em função dessa nova realidade”, acrescentou o avaliador durante a defesa.
“Aprendi muito vendo seu trabalho. É tanta coisa na educação e, quando você pensa nas tecnologias na educação, na formação de professores, vê as opções, a tecnologia assistiva é realmente um campo que precisamos pesquisar muito” concluiu Glaucia na banca.
Amigos e familiares de Juliana puderam acompanhar a defesa de forma presencial e remota, com a colaboração das intérpretes de LIBRAS dos Estúdios Uninter, Daniela Truccolo e Luana Ruth de Souza.
Autor: Nayara Rosolen - Analista de ComunicaçãoEdição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Nayara Rosolen

















