João Figueira e os desafios do jornalismo para não vender “notícia estragada”

No último dia 12 aconteceu a aula inaugural do terceiro quadrimestre do curso de Jornalismo da Uninter, no auditório do campus Tiradentes, em Curitiba (PR). O convidado, professor-doutor João Figueira, da Universidade de Coimbra (Portugal), falou sobre “Jornalismo regional: dilemas e desafios contemporâneos”. A noite marcou o primeiro evento internacional do curso.

Figueira é professor auxiliar na faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e leciona disciplinas nas áreas de Jornalismo e Comunicação. Além de pesquisador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS 20), atuou por mais de duas décadas como jornalista e é autor de três livros.

Além dos alunos que participaram no auditório, e através da live no Instagram, estiveram presentes também o vice-reitor Jorge Luiz Bernardi e o diretor da Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios da Uninter, Elton Schneider. O coordenador de Jornalismo, Guilherme Carvalho, saudou a todos na fala de abertura do encontro.

Citando a obra de Anthony Giddens, “O mundo na era da globalização”, Figueira iniciou sua fala comentando sobre a necessidade de transformações na forma como se faz jornalismo na atualidade. “Estamos vivendo uma ordem global que, provavelmente, ainda não entendemos em sua totalidade, mas já sentimos os seus efeitos em nós”.

Para Figueira, o jornalismo na era da globalização precisa descentralizar as informações, que ainda focam nos grandes centros. “Essa ideia de que estamos todos conectados, nessa forma de comunicação de massa, tem alguns problemas e limitações. É muito mais fácil saber o que está acontecendo em Nova York do que o que acontece na porta de casa”, enfatiza.

O jornalismo e a sociedade

Com a popularização das redes sociais, hoje qualquer pessoa pode criar e compartilhar conteúdos diversos na internet. Figueira reforça que o público não é mais um receptor passivo, mas também se tornou coprodutor. É preciso se adaptar a este novo modelo de negócios dentro do jornalismo atual.

Outro fator que muda a forma de fazer jornalismo é a descentralização da publicidade nos meios midiáticos. “A publicidade deixou de ser o grande suporte da mídia, porque migrou para outras plataformas, como Facebook, Twitter, Google. Em conjunto, essas plataformas detêm 70% do mercado publicitário em escala global. A imprensa original tem que ser repensada em sua forma de organização, e isso varia de país para país”, aponta Figueira.

Para o professor, a sociedade como um todo precisa estar atenta e preocupada com o tipo de informação que recebe. “O problema do jornalismo é um problema da sociedade. Se a sociedade estiver indiferente aos problemas da comunicação, ele [o jornalismo] pode acabar mesmo. As soluções têm a ver com a dimensão da cidadania”, explica.

“Se você vai a um restaurante, não vai querer comer um bife estragado; porque iria gostar de comer uma ‘notícia estragada’? Uma notícia está estragada quando não tem apuração, checagem, relevância, aprofundamento. Isso tem que ser analisado”, declara. Ele ainda completou dizendo que, mesmo em meio a uma precarização dos meios, “foi sempre nos momentos mais adversos que o jornalismo se destacou.”

Sobre a Uninter, Figueira destaca que o ensino precisa estar atento e atualizado aos novos contextos, e achou incrível a forma como a palestra envolveu estudantes de lugares tão distantes, através da transmissão ao vivo. “As tecnologias podem servir para muitas coisas, tudo depende de como as usamos. Aqui, ela serviu para nos aproximar, para nos colocar a todos no mesmo palco de discussão”, ressalta.

Ele também ficou encantado com a cidade e disse que pretende voltar em breve. “Foi um prazer ter a oportunidade de vir até aqui. O primeiro contato com essa cidade me agradou bastante. É importante ver in loco o que acontece na Uninter. Levo algumas lições daqui e, para mim, foi muito honroso e gratificante ter podido partilhar daquilo que eu penso”, completa.

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Autor: Jaqueline Deina - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Gabriel Prado, Julia Siqueira e Jaqueline Deina - Estagiários de Jornalismo